Manuela tem nove meses de idade. Não come comida industrializada para bebês nem alimentos com açúcar e só toma água de côco. Seu médico é homeopata. A mãe, Rosângela Gonçalves Resende, que trabalha com projetos educacionais, além de preocupada com a saúda da menina, é um exemplo de consumidora consciente. Antes de Manuela nascer, Rosângela pesquisou sobre os fabricantes de fraldas descartáveis para saber qual deles tinha produtos biodegradáveis. Não encontrou o que queria e tentou usar fraldas de pano. Mas seu ritmo de vida dificultou a escolha e ela se rendeu aos modelos descartáveis. ?Estou frustrada, gosto de praticidade, mas não quero produtos que causem danos ao meio ambiente?, diz. Rosângela, de 33 anos, representa o perfil das mães consumidoras conscientes, parte de um segmento ainda pouco conhecido pela indústria e prestadores de serviço, tanto em produtos quanto em estratégias de marketing e comunicação. As mulheres ainda são um mistério para as empresas, que tateiam na busca de uma forma eficiente de atendê-las.

Hoje elas são uma força de consumo que não pode ser ignorada. Lançado recentemente pela Editora Futura, o livro Por que as mulheres compram é uma tentativa das autoras Lisa Johnson e Andrea Learned de trilhar o caminho rumo a elas. Segundo a obra, as mulheres americanas ganham US$ 1 trilhão por ano e o nível de renda delas aumentou 63% acima da inflação nos últimos três anos. Seu poder aquisitivo é calculado em mais de US$ 2 trilhões. No Brasil, os dados são escassos, mas pesquisas usadas pela agência de publicidade Talent dão pistas. As mulheres brasileiras influenciam em 88% dos casos de aquisição dos planos de saúde, em 80% das decisões de compra de um carro e em 75% das decisões de compra de um imóvel.

 Definir o perfil das mulheres na hora das compras, no entanto, ainda é uma tarefa difícil. No livro americano, as autoras fizeram a segmentação por estilos de vida e geração. Nessa divisão, algumas peculiaridades começam a surgir. A advogada Neusa Barbosa, 50 anos, é um exemplo de mulher que trabalha fora, com bom nível educacional e alta renda familiar. Na hora das compras, ela prefere lojas e marcas que já conhece, mesmo que tenha de pagar mais pela comodidade. ?Bom atendimento é fundamental para mim?, diz. ?Também sou muito atenta a detalhes como a beleza das vitrines e embalagens?, comenta.

Carolina Zanforlin, de 20 anos, define-se como ?muito consumista?, mas nunca fez compras pela internet. A estudante universitária usa a rede apenas para relacionamentos, como trocar e-mails e visitar comunidades virtuais. Representante da geração mais bombardeada pela propaganda, Carolina não dá atenção aos anúncios tradicionais, mas faz compras toda semana. ?Não consigo ir ao shopping e sair sem uma sacolinha?, diz. Ela tem algumas marcas eleitas, porém gosta de personalizar os produtos. ?Quero o que é diferente?, explica. ?A mulher se descobriu como indivíduo?, diz José Eustachio, sócio diretor da Talent. ?Essa sua nova condição é, certamente, o fator social de maior impacto do século XXI.?

46% dos cartões de crédito em operação no mercado brasileiro estão nas mãos das mulheres

15% dos cargos de presidente de empresas já são ocupados por mulheres. Em 1995, esse índice era de 8%

20 milhões dos alimentos vendidos no Brasil só entram nas casas dos consumidores depois de conquistarem a aprovação feminina