19/12/2012 - 21:00
As mulheres se deparam constantemente com indicadores que mostram uma grande disparidade de reconhecimento aos seus esforços no mundo dos negócios, em relação aos homens. A média dos salários femininos foi 23,3% menor que a dos homens, na região metropolitana de São Paulo, segundo dados relativos a 2011. Já o índice de desemprego era de 12,5%, em comparação com o de 8,6% masculino. Essa situação deve mudar para melhor, indica um estudo da consultoria americana Booz & Company, obtido com exclusividade pela DINHEIRO. De acordo com a pesquisa, o Brasil ocupa a 46a posição em um ranking que avalia 128 países, em uma lista liderada pela Austrália (veja gráfico ao final da reportagem). Má notícia? Nem tanto.
Taciana Kalili: a bem-sucedida Brigaderia nasceu da busca por combinar
trabalho com a família
“A situação mostra que há uma tendência de melhora”, afirma Gabriella Faria, consultora da Booz. Em seu relatório, a Booz & Company colocou o País ao lado de Estados Unidos, Alemanha, França e Canadá. Atualmente, mais de 60% dos diplomas de graduação no Brasil vão para o sexo que antigamente era considerado frágil. Veja o exemplo da mineira Taciana Kalili, fundadora da Brigaderia, rede de docerias de brigadeiros. Em apenas dois anos e meio, ela criou uma nova categoria de varejo nos shopping centers de São Paulo. Formada em administração de empresas, com especialização em moda, Taciana resolveu buscar algo além de um trabalho formal. Casada e com três filhos, considerou que teria melhor controle de sua vida pessoal se abrisse uma empresa, em vez de atuar com tecidos e agulhas.
Só não sabia que o sucesso empresarial viria de seu talento culinário. Depois de preparar 30 sabores de brigadeiros para a festa de aniversário do marido, com 400 convidados, começou a receber pedidos constantes dos doces. “Em três meses, já havia 20 pessoas trabalhando na minha cozinha para atender as encomendas”, afirma. Foi então que montou a primeira de suas 11 lojas. Em 2013, dará partida ao plano de franquias da rede, para expandi-la para outros Estados. Também mudará, pela quarta vez, a sua fábrica para um espaço maior. “Teremos capacidade para atender a 100 lojas”, diz Taciana. O campo de atuação das mulheres empresárias brasileiras, no entanto, ainda está bastante concentrado nas atividades relacionadas a beleza e culinária.
Vanessa Vilela: a sua empresa, a Kapeh, desenvolveu inovadores
cosméticos baseados em café
A presença em áreas que envolvem tecnologia, engenharia e inovação é ainda muito baixa. Outra representante da nova geração de empreendedoras, a também mineira Vanessa Vilela, fundadora da Kapeh Cosméticos, ilustra bem essa situação. Ao mesmo tempo em que sua empresa está voltada para a tradicionalmente feminina área de cosméticos, o seu negócio traz um componente de inovação muito forte. Os produtos de beleza da Kapeh são baseados no café e tiveram seus extratos criados do zero. “Precisamos de três anos de pesquisas e desenvolvimento e investir R$ 300 mil de capital próprio, antes de abrir a empresa”, diz a farmacêutica e bioquímica Vanessa, filha e esposa de cafeicultores de Três Pontas (MG). “Começamos com cinco produtos, em 2007, e hoje temos mais de 100.”
Há razões práticas suficientes para os homens também abraçarem a bandeira feminina. Segundo a Booz, em uma estimativa conservadora, se o Brasil equiparasse completamente o nível de salário e emprego das mulheres com os homens, haveria um salto de 9% do PIB. A Coca-Cola percebeu esse potencial. Em 2007, a fabricante de refrigerantes notou que a maioria dos compradores e grande parte dos revendedores de seus produtos eram mulheres. Com isso, estabeleceu um programa para criar líderes internas e treinar cinco milhões de empreendedoras em países em desenvolvimento. O Brasil é um dos centros do plano, com o objetivo de atingir 500 mil mulheres até 2020. “É importante porque nos ajuda a conhecer melhor o nosso próprio público”, afirma Claudia Lorenzo, responsável pela área de negócios sociais da empresa.