As mulheres se deparam constantemente com indicadores que mostram uma grande disparidade de reconhecimento aos seus esforços no mundo dos negócios, em relação aos homens. A média dos salários femininos foi 23,3% menor que a dos homens, na região metropolitana de São Paulo, segundo dados relativos a 2011. Já o índice de desemprego era de 12,5%, em comparação com o de 8,6% masculino. Essa situação deve mudar para melhor, indica um estudo da consultoria americana Booz & Company, obtido com exclusividade pela DINHEIRO. De acordo com a pesquisa, o Brasil ocupa a 46a posição em um ranking que avalia 128 países, em uma lista liderada pela Austrália (veja gráfico ao final da reportagem). Má notícia? Nem tanto. 

 

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Taciana Kalili: a bem-sucedida Brigaderia nasceu da busca por combinar

trabalho com a família

 

“A situação mostra que há uma tendência de melhora”, afirma Gabriella Faria, consultora da Booz. Em seu relatório, a Booz & Company colocou o País ao lado de Estados Unidos, Alemanha, França e Canadá. Atualmente, mais de 60% dos diplomas de graduação no Brasil vão para o sexo que antigamente era considerado frágil. Veja o exemplo da mineira Taciana Kalili, fundadora da Brigaderia, rede de docerias de brigadeiros. Em apenas dois anos e meio, ela criou uma nova categoria de varejo nos shop­ping centers de São Paulo. Formada em administração de empresas, com especialização em moda, Taciana resolveu buscar algo além de um trabalho formal. Casada e com três filhos, considerou que teria melhor controle de sua vida pessoal se abrisse uma empresa, em vez de atuar com tecidos e agulhas. 

 

Só não sabia que o sucesso empresarial viria de seu talento culinário. Depois de preparar 30 sabores de brigadeiros para a festa de aniversário do marido, com 400 convidados, começou a receber pedidos constantes dos doces. “Em três meses, já havia 20 pessoas trabalhando na minha cozinha para atender as encomendas”, afirma. Foi então que montou a primeira de suas 11 lojas. Em 2013, dará partida ao plano de franquias da rede, para expandi-la para outros Estados. Também mudará, pela quarta vez, a sua fábrica para um espaço maior. “Teremos capacidade para atender a 100 lojas”, diz Taciana. O campo de atuação das mulheres empresárias brasileiras, no entanto, ainda está bastante concentrado nas atividades relacionadas a beleza e culinária. 

 

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Vanessa Vilela: a sua empresa, a Kapeh, desenvolveu inovadores

cosméticos baseados em café

 

A presença em áreas que envolvem tecnologia, engenharia e inovação é ainda muito baixa. Outra representante da nova geração de empreendedoras, a também mineira Vanessa Vilela, fundadora da Kapeh Cosméticos, ilustra bem essa situação. Ao mesmo tempo em que sua empresa está voltada para a tradicionalmente feminina área de cosméticos, o seu negócio traz um componente de inovação muito forte. Os produtos de beleza da Kapeh são baseados no café e tiveram seus extratos criados do zero. “Precisamos de três anos de pesquisas e desenvolvimento e investir R$ 300 mil de capital próprio, antes de abrir a empresa”, diz a farmacêutica e bioquímica Vanessa, filha e esposa de cafeicultores de Três Pontas (MG). “Começamos com cinco produtos, em 2007, e hoje temos mais de 100.” 

 

Há razões práticas suficientes para os homens também abraçarem a bandeira feminina. Segundo a Booz, em uma estimativa conservadora, se o Brasil equiparasse completamente o nível de salário e emprego das mulheres com os homens, haveria um salto de 9% do PIB. A Coca-Cola percebeu esse potencial. Em 2007, a fabricante de refrigerantes notou que a maioria dos compradores e grande parte dos revendedores de seus produtos eram mulheres. Com isso, estabeleceu um programa para criar líderes internas e treinar cinco milhões de empreendedoras em países em desenvolvimento. O Brasil é um dos centros do plano, com o objetivo de atingir 500 mil mulheres até 2020. “É importante porque nos ajuda a conhecer melhor o nosso próprio público”, afirma Claudia Lorenzo, responsável pela área de negócios sociais da empresa.

 

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