02/02/2022 - 10:08
O cantor belga Stromae causou sensação recentemente no telejornal de maior audiência na França, ao falar, de modo aberto, sobre sua difícil depressão e sobre as ideias de suicídio que teve nestes últimos tempos.
“L’enfer” (Inferno) foi a música de Stromae em um horário de audiência máxima na França. Um grito para chamar a atenção para os transtornos mentais gerados pela pandemia da covid-19, ou pela pressão da popularidade de diversas estrelas pelas redes sociais.
“Tive pensamentos suicidas e não me orgulho disso”, cantou o artista, abatido por uma longa doença agravada pela chegada da covid-19.
Os transtornos mentais não são novos na música pop. São o que levou a estrela do blues Janis Joplin a uma ovedose de droga fatal, em 1970; ao suicídio de Kurt Cobain do grupo Nirvana, em 1994; e à longa luta com a esquizofrenia de Brian Wilson, o criador dos Beach Boys.
No início do rock and roll e durante décadas, os músicos se esconderam sob a imagem de “artistas torturados”. Em um mundo constantemente controlado pelas redes sociais, porém, as novas gerações preferem abordar esses problemas de forma direta.
É o caso de Lady Gaga e sua estreia difícil como artista, de Billie Eilish e suas angústias adolescentes, de Adele e seus problemas com o álcool.
Entre 2017 e 2019, vários suicídios provocaram a desolação de fãs e do setor musical: a estrela da música eletrônica Avicii; Keith Flint, de The Prodigy; Chris Cornell, do Soundgarden; Chester Bennington, do grupo Linkin Park.
“Todos eles morreram em menos de três anos”, afirma Rhian Jones, jornalista britânico que escreveu o livro “Sound Advice” (“Bom conselho”, em tradução literal) para ajudar os músicos.
“A indústria não pode mais ignorar sua responsabilidade sobre a saúde de seus artistas, ou negar a existência de pressões específicas que acompanham uma carreira musical”, acrescenta.
– Estudos alarmantes –
Vários estudos comprovaram o nível de depressão, ou transtornos mentais sofridos por músicos profissionais, acima da média de muitos outros setores.
INSAART, um órgão francês que fornece ajuda psicológica a artistas e técnicos, afirma que 72% dos entrevistados em um desses estudos apresentavam sinais de depressão, em comparação com a média de 12% da população em geral.
Outro estudo feito na Austrália diz que uma carreira musical plena pode chegar a reduzir a expectativa de vida em 20 anos.
O temperamento dos artistas desempenha um papel nada desprezível no momento de se lançar no mundo da música e enfrentar esses riscos. Mas, muito além do estrelismo, nos bastidores, os músicos profissionais sofrem a falta de segurança trabalhista, as turnês incessantes, as longas jornadas de trabalho…
“A música tem a fama de ser um trabalho apaixonante, então resiste essa ideia de que eles têm que agradecer, e não reclamar”, explica a psicóloga e ex-manager Sophie Bellet, que ajudou a organizar a pesquisa do INSAART.
Irna, uma cantora do Camarões que se estabeleceu na França, confessa que o pior momento é quando uma turnê acaba.
“Quando a turnê acaba, você se pergunta ‘por que estou aqui?’ Você se sente perdido em meio aos instrumentos. Não é uma vida real”, lamenta.