14/05/2020 - 18:09
O planeta está prestes a ultrapassar a marca de 300 mil mortos pelo novo coronavírus, em meio à tensão na corrida para conseguir uma vacina e a ataques renovados dos Estados Unidos à China.
Em pleno ano eleitoral, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, endureceu nesta quinta-feira sua retórica contra a China, dizendo que não irá falar com o colega Xi Jinping e ameaçando cortar os laços bilaterais devido à forma como Pequim lidou com a pandemia de COVID-19.
A tensão entre as maiores potências do mundo aumentou devido à pandemia, que Trump chamou de “praga chinesa”. “Tenho uma relação muito boa, mas agora não quero falar com ele”, disse Trump à rede Fox Business, referindo-se ao presidente Xi Jinping.
Questionado se os Estados Unidos poderiam adotar medidas de retaliação, Trump não deu detalhes, mas alertou, em tom ameaçador: “Há muitas coisas que poderíamos fazer. Poderíamos cortar todas as relações.”
O balanço mundial da pandemia até as 19h GMT de hoje era de 299.638 mortos e 4.395.790 casos, segundo uma contagem feita pela AFP com base em dados oficiais.
Os países sonham com uma vacina que ponha fim à pandemia. Na França, a gigante farmacêutica Sanofi gerou indignação ao anunciar que, se produzir a vacina, irá distribuí-la primeiro nos Estados Unidos, cujo governo se adiantou e se associou às pesquisas, caras e cheias de riscos.
A iniciativa foi considerada “inaceitável” pelo governo francês, e tampouco é viável para a Comissão Europeia. Hoje, a instituição defendeu que o acesso à vacina seja universal.
O diretor da Sanofi na França, Olivier Bogillot, tentou minimizar a polêmica e afirmou hoje que “o objetivo é que esta vacina esteja disponível ao mesmo tempo em Estados Unidos, França e Europa”. Mas isto só será possível “se os europeus trabalharem tão rapidamente quanto os americanos”, advertiu.
Atualmente, existem mais de 100 projetos e uma dezena de testes clínicos sendo realizados. Mas o caminho para produzir a vacina será longo, podendo levar pelo menos um ano.
– ‘Pode ser que nunca desapareça’ –
Levando em consideração os testes que estão sendo realizados atualmente, a existência de uma vacina em um ano é uma previsão “otimista”, estimou a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) nesta quinta-feira.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu que o novo coronavírus poderá permanecer para sempre e se tornar uma doença com a qual a humanidade terá que aprender a conviver.
“Este vírus pode se tornar endêmico em nossas comunidades, pode nunca mais desaparecer”, mesmo que se descubra uma vacina, declarou o diretor de Emergências Sanitárias da instituição, Michael Ryan.
O nervosismo voltou à China. Em Wuhan, onde a doença surgiu, autoridades ordenaram novos testes de detecção em massa, ante o surgimento de novos casos.
“É uma maneira de ser responsável em relação aos outros e a você”, comentou um homem de 40 anos depois de fazer o teste pela segunda vez em 10 dias.
– Reabertura de praias em Los Angeles –
Enquanto os cientistas correm contra o tempo para encontrar um tratamento, os governos devem impor medidas para conter a disseminação da doença enquanto tentam reativar suas economias. Para isso, muitos países continuam avançando no desconfinamento gradual de suas populações.
Nesta quinta-feira, o Japão anunciou a suspensão do estado de emergência na maioria das regiões do arquipélago, embora permaneça em Tóquio e Osaka.
“Temos a confirmação de que o número de novos casos retrocedeu até os níveis de meados de março, quando as infecções começaram a se propagar”, disse o ministro da Economia, Yasutoshi Nishimura.
Na Europa, onde a pandemia já deixou mais de 161.000 mortos, a maioria dos países iniciou uma redução do confinamento.
Segundo país mais atingido do mundo, com mais de 33.000 mortes, o Reino Unido reduziu as restrições na Inglaterra, e a população está autorizada a voltar a trabalhar.
O campeonato de futebol na Alemanha será retomado a portas fechadas neste sábado, e pode ser que britânicos, espanhóis e italianos façam o mesmo em breve.
Nos Estados Unidos, as praias de Los Angeles, fechadas há seis semanas, reabriram parcialmente. Alguns surfistas apareceram. Pegar sol e praticar esportes coletivos continua proibido.
A Covid-19 ganha terreno e provoca nervosismo nos países mais afetados pela doença na América Latina. O Brasil é o país mais atingido da região, com mais de 13 mil mortos.
Na África, a pandemia não causou tanto estrago quanto se antecipava. Oficialmente, o continente registra menos de 2.500 mortos. Há cada vez mais indicações, porém, de que este número é muito menor do que o real.
O aumento significativo de mortes inexplicáveis no norte da Nigéria, o país mais populoso da África, suscita temores de uma grande disseminação do coronavírus nessa região, uma das mais pobres do mundo.
– Os ‘novos pobres’ da Itália –
No campo econômico, quase 600.000 pessoas foram demitidas na Austrália em abril devido ao confinamento, o número mais alto em mais de quatro décadas no país.
Já a Alemanha anunciou que este ano deixarão de entrar nos cofres públicos cerca de 100 bilhões de euros por causa da crise, a pior no mundo desde a Grande Depressão dos anos 1930.
Milhões de pessoas que viram sua fonte de renda evaporar tiveram que recorrer à ajuda alimentar.
Nos Estados Unidos, um terço dos desempregados não conseguem pagar as contas, segundo uma pesquisa oficial. Em Cuba, um terço dos negócios privados estão ameaçados pela crise.
Na Itália, primeiro epicentro da pandemia na Europa e que já conta com mais de 30.000 mortes, a desaceleração econômica está deixando muitos “novos pobres”. É o caso de “Ana”, que reside em Roma, onde trabalhava no setor de limpeza.
Depois de perder sua renda, Ana atravessa toda a cidade em busca da comida distribuída por uma associação de caridade. “Venho aqui de vez em quando, quando a situação se torna difícil. Tenho vergonha”, murmura.