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Se o francês Henri Loyrette, 57 anos, tivesse nascido nos Estados Unidos, ele certamente seria idolatrado no vaidoso mundo das artes. Desde 2001 no comando do Louvre, o museu mais famoso do mundo, ele melhorou todos os indicadores da instituição.

O número de visitantes, por exemplo, cresceu 67% e hoje eles são 8,5 milhões de pessoas ao ano. A dependência de doações do governo francês foi reduzida de 60% para 47% dos custos anuais que chegam a US$ 315 milhões, e o governo de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, pagou 750 milhões de euros para usar o nome do Louvre em um museu que será aberto em 2013.

Seriam indicadores suficientes para alçá-lo ao olimpo dos grandes gestores de museus, uma espécie de midas das artes capaz de transformar uma instituição em uma marca. Seriam. Na França, onde o Louvre é considerado um patrimônio nacional comparado aos vinhos de Bordeaux, suas atitudes têm gerado reações inflamadas da população francesa. Nos últimos dias, então, o assunto envolvendo a gestão de Loyrette voltou à tona.

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Henri Loyrette: o diretor do Louvre fez a instituição ganhar dinheiro como nunca, mas irritou os franceses

Primeiro, o Louvre se meteu em uma confusão com o governo do Egito, que cortou relações com o museu depois de pedir que a instituição devolvesse obras que teriam sido roubadas de uma tumba no vale dos reis.

O Louvre alegava ter comprado as obras de uma fonte transparente e, depois de muitas discussões, resolveu devolver as peças. O segundo fato e que trouxe ainda mais indignação aos franceses foi o anúncio de que um restaurante do McDonald’s será aberto no templo francês. Foi a gota d’água.

Os franceses já haviam criticado – e muito – a negociação com o governo de Abu Dhabi por acharem que o nome de uma das mais respeitadas instituições não poderia ser usado comercialmente. Loyrette, o homem por trás de todos esses negócios, se defende dos ataques.

“Só estou tornando o museu mais moderno”, disse em uma recente entrevista ao jornal The New York Times. Nesse processo de trazer mais resultados e, obviamente, popularizar o museu, Loyrette também está implementando algumas novidades. Uma delas, bem polêmica, é a de expor artistas contemporâneos ao lado de ícones dos séculos XVII e XVIII.

Com isso, ele pretende atrair ainda mais o público jovem. “Quarenta por cento dos nossos visitantes têm menos de 26 anos”, diz o diretor do Louvre. Outro fator que Loyrette pretende mudar é o perfil da visita. Atualmente, 80% das pessoas que entram no suntuoso museu com 14 quilômetros de galerias e 35 mil obras expostas buscam uma única obra: a Mona Lisa.

Se no lado econômico a administração de Loyrette é brilhante, falta-lhe tato para fazer as mudanças estruturais. Afinal de contas, ele não está lidando com americanos, mas, sim, com franceses, um dos povos mais apegados às tradições.

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Relíquias arqueológicas: o governo do Egito cortou relações com o Louvre depois de cobrar obras roubadas que faziam parte do acervo