Os museus são as igrejas do século XXI. Essa provocativa afirmação, feita pelo jornalista David Galloway, do jornal International Herald Tribune, gerou muxoxos no mundo dos arquitetos. Explica-se: para Galloway, os edifícios de artes cumprem hoje, nas cidades, a função dos templos religiosos em séculos passados. Ajudam a recompor os perfis urbanos, fazem crescer comércio ao redor. Não se trata, ressalve-se, do acervo que eles abrigam ? embora muitos sejam espetaculares. O fenômeno, estético e econômico, está relacionado às construções. Tome-se, como exemplo fundamental, o Museu de Bilbao, de 1997, desenhado pelo americano Frank Gehry, o mestre do desconstrutivismo. Erguido a um custo de US$ 150 milhões, chamou a atenção para a capital basca, deu-lhe nova cara. O escritório londrino Herzog & Meuron recriou uma região da metrópole, ao lado do Tamisa, ao transformar uma usina de energia elétrica na galeria Tate Modern, em 1999. Outro mestre da desconstrução de linhas, Daniel Libeskind, a rigor desmontou a cabeça das pessoas com o Museu Judaico de Berlim, erguido em 1998. As estatísticas na Alemanha comprovam essa tese da proliferação dos museus: em 1970, havia 1500 instituições registradas. No ano 2000 já eram 6 mil.

É inquestionável: celebra-se, atualmente, muito mais os prédios que as coleções (com a honrosa exceção do Museu de Arte Moderna de Nova York, também reformado). É a celebração da engenharia de mãos dadas com a arquitetura. Ela marca uma nova era. O ponto culminante desse processo poderá ser visto, dentro de cinco anos, no novo desenho do Ground Zero, a região novaiorquina onde antes estavam as Torres Gêmeas. Todo esse fenômeno pode ser acompanhado, desde o início do mês e até o final de junho, em uma exposição em Dusseldorf, na Alemanha ? ?Os museus no século XXI?, coletânea de 26 museus neste caminho da reinvenção. Não há, nela, trabalhos de brasileiros. É uma injustiça. O Museu de Arte Contemporânea, o MAC, de Niterói, é uma obra-prima de Oscar Niemeyer. Surpreendente, parece um disco-voador pousado em um morro da praia de Boa Viagem, tendo diante de si a vista para o Pão de Açúcar. Quem o vê, jamais esquece. A obra tem repercussão mundial ? a coleção, de João Sattamini, com 100 peças brasileiras amealhadas de 1950 para cá, é interessante mas não universal. Em outras palavras: a ?igreja? de Niemeyer supera em muito o que há dentro dela. ?Deve-se ressaltar que a arquitetura sempre foi palco de construções espetaculares, como as igrejas góticas?, diz Cêça Guimaraens, professora do departamento de arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. ?É evidente que o acervo de um museu é crucial, mas a programação ao redor dele, cujo imã é o próprio edifício, é mais importante que as coleções?.