09/07/2015 - 19:00
O senso comum indica que os tempos estão difíceis para qualquer empresa que depende do mercado automotivo brasileiro para fazer os seus negócios. As vendas de carros no Brasil caíram 19,3%, entre janeiro e maio. Mas esqueceram de avisar a americana Harman que a crise chegou. Reconhecida por fazer sistemas de som sofisticados, que vão de fones de ouvido de R$ 1 mil da marca JBL a equipamentos de som para mega festivais de música como o Rock in Rio, a companhia, que fatura US$ 5,9 bilhões por ano, tem aumentado sua presença no Brasil. Em 2010, comprou a gaúcha Selenium por R$ 350 milhões.
Os resultados apareceram. “Em cinco anos, multiplicamos por quatro o resultado da Selenium, e por 18 vezes a receita que a Harman tinha no Brasil através de distribuidores”, diz Rodrigo Rihl Kniest, presidente da empresa no País. Com isso, a Harman chegou a R$ 400 milhões de receita, em 2014. Nesse período de cinco anos, a companhia investiu R$ 750 milhões, dobrando o número de fábricas para quatro. A segunda das novas unidades, localizada no Distrito Industrial de Manaus, entrará em operação em setembro e representa um novo e importante passo para a empresa.
A Harman venceu uma disputa por um contrato mundial para abastecer com seus rádios os carros da Volkswagen. A cifra não é revelada, mas passa da casa do bilhão. “Era o maior contrato do setor no mundo”, diz Kniest. Para conquistar o contrato, a Harman enfrentou rivais do porte das americanas Visteon e Delphi. A companhia já vendia seus produtos para outras marcas da montadora alemã, como a Audi e a Porsche, mas não para a VW. Para abastecer os carros Volkswagen com seus rádios, em todo o mundo, a Harman definiu cinco países como base de produção. Já havia fábricas preparadas para atender a encomenda na Hungria, na China, na Índia e no México.
A subsidiária brasileira convenceu a matriz de que poderia fornecer na América Latina com melhores preços, deixando por conta da mexicana a demanda da América do Norte. A despeito das dúvidas do pessoal do QG da montadora, em Wolfsburg, quanto à possibilidade de se montar em um ano uma fábrica em Manaus com a qualidade de produção necessária, foi dado um voto de confiança aos executivos da Harman, no Brasil. Em agosto, a unidade já entra em operação. “Um executivo da área de qualidade da Volkswagen me contou que, no começo, estava reticente e agora está seguro de que fizemos a melhor escolha”, afirma Kniest. A unidade brasileira equipará os modelos Gol, Saveiro, Voyage, SpaceFox, CrossFox, Fox e SpaceCross em toda a região.
A iniciativa é uma novidade para a Harman, que é reconhecida por seus equipamentos sonoros de alto custo que costumam estar disponíveis apenas em automóveis de luxo, como os das marcas Ferrari, Bentley e Rolls Royce. Os modelos da Volkswagen receberão três tipos de sistemas mais simples, que, no entanto, possuem conexão Bluetooth e entrada USB. Com isso, a Harman prevê que os negócios em sua área automotiva no Brasil crescerão em 50%. Mas a nova fábrica em Manaus não será a única responsável pelo aumento do volume de produção da empresa no País. A Harman também construiu uma linha de montagem dentro da sua fábrica antiga em Nova Santa Rita, destinada a terceirização.
O objetivo é começar a fornecer em outubro equipamentos em regime de subcontratação – que não levam a sua marca – para os carros do grupo PSA Peugeot Citröen. Na outra ponta de seu portfólio, a presença da Harman no Brasil também permitiu desenvolver o mercado local de sistemas de PA, denominação das grandes caixas de som utilizadas para shows musicais e palestras. Segundo Kniest, a presença da empresa no País barateou esses equipamentos em 30%. Festivais consagrados no Brasil utilizam sua tecnologia, como o Monsters of Rock. Até o palco principal do Rock in Rio promovido em Las Vegas, em maio deste ano, pela carioca Artplan, contou com sistemas Harman made in Brazil.