19/02/2021 - 11:27
Na quinta-feira (18), quando completou 20 anos, ela estava em coma no hospital. Mya Thwate Thwate Khaing, funcionária de uma mercearia e falecida nesta sexta-feira (19) após ser baleada nos protestos contra o golpe em Mianmar, tornou-se um símbolo nacional de resistência.
Ela é a primeira vítima mortal da repressão dos generais birmaneses contra os manifestantes antigolpistas.
O Exército birmanês tomou o poder em 1º de fevereiro, prendendo a chefe de fato do governo civil, Aung San Suu Kyi, e outros líderes políticos. Desde então, centenas de milhares de birmaneses tomaram as ruas em todo país, inclusive em Naypyidaw, construída no coração da selva, cerca de 350 quilômetros ao norte de Yangon, a capital econômica.
O hospital de Naypyidaw onde a jovem estava internada confirmou sua morte nesta sexta-feira, depois de dez dias na UTI.
“Estamos com o coração partido e não conseguimos falar disso agora”, disse seu irmão à AFP, acrescentando que o enterro será no domingo.
A True News Information Unit, uma publicação do Exército birmanês, afirmou que as forças de segurança não estavam equipadas com armas letais naquele dia.
Mas as imagens divulgadas, em particular pela AFP, “contradizem essas afirmações”, denunciou a ONG Anistia Internacional em um comunicado, estimando que “a polícia de Naypyidaw tem sangue nas mãos”.
Mya Thwate Thwate Khaing rapidamente se tornou um símbolo para os manifestantes que exigiam a libertação de Aung San Suu Kyi, o fim da ditadura e a revogação da Constituição de 2008, muito favorável ao Exército.
No dia seguinte ao ocorrido, um banner gigante foi desdobrado em uma ponte em Yangon, retratando a jovem inconsciente, vestida com uma camiseta vermelha com as cores da Liga Nacional para a Democracia (LND), partido de Aung San Suu Kyi.
A raiva também está viva nas redes sociais: “Você é a nossa heroína”, “Reze pelo nosso martírio”, “Este ato de ódio deve ser punido”, diziam internautas nesta quinta-feira no Facebook.
– Esperança e determinação –
Seu caso também atraiu a atenção da comunidade internacional. “Eles podem atirar em uma jovem, mas não podem roubar a esperança e a determinação de um povo”, tuitou o relator especial da ONU, Tom Andrews.
Sua morte desencadeou uma onda de homenagens muito comoventes nas redes sociais enquanto a notícia se espalhava.
Um funcionário do hospital declarou que a causa de sua morte seria investigada por um conselho médico.
A identidade do atirador ainda é desconhecida, mas, no Facebook e Twitter, os internautas começaram a procurar o homem. Alguns publicaram detalhes privados – incluindo o endereço da casa e da empresa familiar – de um homem que suspeitam ser o autor do disparo.
Ele nega as acusações e proclamou sua inocência em uma mensagem no Facebook.
O uso da força na terça-feira contribuiu para o anúncio de novas sanções dos Estados Unidos contra os generais golpistas.
Mianmar, que viveu quase 50 anos sob o jugo de militares desde a independência do país em 1948, está acostumada a repressões sangrentas, como a de 1988, que causou quase 3.000 mortos, e a de 2007, que terminou com várias dezenas vítimas.