Por Gilson Magalhães*

Há mais de uma década, quando Marc Andreessen, um dos principais empresários do mercado de venture capitals afirmou que “o software está engolindo o mundo”, não era apenas uma figura de linguagem. Na atualidade, toda empresa que espera ser bem-sucedida precisa ser uma empresa de software. Segundo uma pesquisa da McKinsey, hoje quase 70% das companhias de alto desempenho econômico utilizam software próprio para se diferenciar de seus concorrentes.

Cenário mandatório para o sucesso também faz a ponte para endereçar outras importantes demandas do mercado, colocando a tecnologia como base fundamental no suporte a projetos importantes, como aqueles voltados para questões ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG, do inglês Environmental, Social and Governance). Buscando tornar mais eficiente os ambientes de desenvolvimento de bens e serviços, as organizações com estratégias mais maduras nesse âmbito estão migrando para plataformas de software para gerenciar e reportar dados.

Habilitar a sustentabilidade por meio de investimentos em tecnologia é fundamental para impulsionar o valor nas empresas, que vêm buscando capacitar a TI para liderar a agenda corporativa de sustentabilidade. Segundo levantamento da IDC, 62% das organizações acreditam que investimentos em TI são muito ou extremamente importantes para atingir metas de sustentabilidade.

Acelerando a inovação

Projetos que antes eram limitados pela tecnologia disponível na época, hoje podem contar com soluções emergentes como Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial e aprendizado de máquina (IA/ML), processadas com o suporte do 5G, da computação em nuvem e da edge computing. Recursos avançados vêm contribuindo progressivamente com a identificação e o rápido endereçamento de problemas e questões que impactam a satisfação do cidadão e a sustentabilidade.

O código aberto está em toda parte: mais de 97% da infraestrutura e serviços digitais críticos dependem dele, como aponta o relatório “Preserving climate and natural resources with openness” da lista global Open Source in Environmental Sustainability, que reúne projetos de tecnologia aberta para um clima estável, fornecimento de energia e recursos naturais vitais. A pesquisa mostra que a cultura de inovação transparente e colaborativa transformou a sociedade moderna, e hoje é fundamental para apoiar a tomada de decisão rastreável, desenvolver capacidade de localização e personalização, fornecer novas oportunidades de participação e prevenir a divulgação de informações falsas sobre sustentabilidade (greenwashing), garantindo transparência e confiança.

 A tecnologia open source se diferencia por permitir implementar estratégias flexíveis para construir infraestruturas prontas para o futuro. Partindo de uma abordagem aberta, se torna, por exemplo, imprescindível para o advento das smart cities, espaços que, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), potencializam a digitalização para ampliar o bem-estar dos cidadãos e proporcionar serviços e ambientes urbanos mais eficientes, sustentáveis e inclusivos, como parte de um processo colaborativo.

Urbanização inclusiva e sustentável

Graças ao código aberto, hoje é possível identificar gargalos em avanços tecnológicos para que seja possível entender onde é necessário investir em pesquisa. Um ótimo exemplo é o Modelo de Simulação de Sistema de Transformação de Resíduos em Energia (WESyS), utilizado pelo Laboratório Nacional de Energia Renovável (NREL) dos Estados Unidos. A ferramenta também pode ajudar a examinar como a indústria de conversão de resíduos em energia se encaixa no sistema de energia mais amplo para ajudar a atender às crescentes demandas de energia e gerenciar o aumento do desperdício.

A incorporação dessas inovações na esfera das questões ESG é elementar para a construção de um futuro mais sustentável e equitativo. O uso do open source vem se tornando um princípio para enfrentar os desafios ambientais, sociais e de governança, uma vez que seu uso adequado pode impulsionar o desenvolvimento socioeconômico, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e promove uma gestão corporativa responsável. Por meio de uma abordagem aberta, o open source equaliza a balança ESG, mostrando que entre todas as letras, garantir um futuro sustentável começa mesmo pela TI.

*Gilson Magalhães é presidente da Red Hat Brasil e gerente regional de Vendas Enterprise para a Red Hat América Latina