23/02/2011 - 21:00
André Esteves, um dos fundadores e presidente do BTG Pactual, é um sedutor. No final do ano passado, ele atraiu investimentos de US$ 1,8 bilhão de três dos maiores fundos soberanos globais (China, Abu Dabi e Cingapura) e de dinastias poderosíssimas da Europa e da América Latina, como os Agnelli (Fiat), os Rothschild (do conglomerado financeiro homônimo) e os Santo Domingo (grupo colombiano de empresas que vão de cervejarias a tevê).
Esses sócios, tão díspares quanto influentes, compraram 18% do BTG Pactual, avaliado em US$ 10 bilhões após a transação. Mas Esteves – e o seu banco, por tabela – tem fama de ser um predador feroz, que está atento a todas as oportunidades que surgem no mercado. Neste começo de 2011, o BTG Pactual foi à caça.
” A crise passou nos Estados Unidos, mas há ainda muito para acontecer na Europa”
André Esteves, fundador e presidente do BTG Pactual
Primeiro, comprou 38% do capital do Banco PanAmericano por R$ 450 milhões – uma pechincha, pois não herdou o rombo de R$ 4,3 bilhões da instituição. Na mesma semana, por intermédio da holding Brazil Pharma, adquiriu a rede de farmácias gaúcha Mais Econômica. Em seguida, assumiu o controle da rede varejista fluminense Casa & Vídeo.
O que está por trás dessas movimentações do BTG Pactual? Otimismo puro com a economia. “O Brasil está se transformando em um grande País de classe média”, disse Esteves, na semana passada, para uma plateia de 300 médicos e varejistas do setor de saúde, em evento organizado pela fabricante de medicamentos EMS, em um hotel de luxo em Campinas, interior de SP.
“Sou hipocondríaco, me sinto em casa”, brincou. Em pouco mais de uma hora de apresentação, foi possível saber o que se passa pela cabeça do banqueiro. Com frases de efeito, Esteves não deixou de dar opiniões sobre temas como inflação, juros, câmbio e até sobre a China e traçou um cenário otimista para a economia brasileira.
“Vivemos um processo de transformação comparável ao dos EUA há 60 anos.” Segundo Esteves, há muitas semelhanças entre o Brasil e os Estados Unidos do passado. Ambos são países continentais, nos quais os imigrantes desempenharam papel essencial na formação cultural, e que cresceram – em períodos diferentes – ao criar um mercado consumidor interno.
É esse fenômeno, representado pela ascensão da classe C, que acontece neste momento no Brasil, afirmou ele. “Atender ao anseio de consumo dessas classes é uma oportunidade”, afirmou Esteves. Os investimentos recentes do BTG Pactual miram esse contingente de pessoas, que já representam mais de 50% da população brasileira, de acordo com FGV.
Mas ainda há turbulências pelo caminho no plano local e internacional. No Brasil, a principal preocupação é o aumento dos preços. “A inflação vai continuar conosco por algum tempo”, afirmou Esteves.
A elevação da taxa básica de juros realizada pelo Banco Central – que deve continuar a subir nas próximas duas reuniões ao menos – e as medidas de ajuste fiscal, com o corte de R$ 50 bilhões no orçamento federal, foram consideradas corretas.
O banqueiro, no entanto, não deixa de usar a ironia ao se referir aos juros. “Somos a Disneylândia dos juros”, disse. “Mas antes estávamos três voltas atrás dos outros países, agora a apenas uma.” Sobre o câmbio, não titubeou. “A tese de que a moeda vai ficar forte vai durar por muito tempo.”
Internacionalmente, a Europa poderá trazer instabilidades aos mercados. “A crise passou nos Estados Unidos, mas há ainda muito para acontecer na Europa”, afirmou Esteves.
“A situação fiscal dos países é assustadora.” Ele se referia a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, países com grandes déficits fiscais. Sobre a China, Esteves acredita que a próxima crise global virá de lá.
“Centenas de milhões de pessoas estão migrando da zona rural para as cidades, há superinvestimento em infraestrutura, a corrupção é grande e existem novas castas de empresários”, afirmou. “É muito desafio para uma economia.” Quando essa crise vai chegar? “Nos próximos dez anos”, acrescentou. E depois sorriu. “Vocês só podem me cobrar daqui a dez anos.”