“A Christofle não faz apenas peças tradicionais e tediosas para as avós comprarem.” É assim, sem meias-palavras, que o francês Nicolas Krafft, CEO da marca para as Américas, inicia sua entrevista à DINHEIRO. O executivo fez uma passagem rápida por São Paulo, na semana passada, para celebrar os 40 anos da grife no Brasil, um dos países mais importantes para a operação mundial da marca, que faturou € 80 milhões no ano passado. “A importância do Brasil para a empresa se explica, provavelmente, pelos brasileiros possuírem uma forte cultura de entretenimento”, diz ele. Seus produtos, entre talheres, taças de cristal e objetos de decoração, chegam a custar R$ 258 mil, como o candelabro de seis velas, uma réplica do início do século 19.

Por aqui, a grife faz sucesso principalmente com as listas de presentes de casamento, ainda tão tradicionais no mercado nacional. Embora não seja conhecida pela maioria dos consumidores, a Christofle tem história para dar e vender no seu currículo. A marca, fundada em 1830, só entrou no mercado nacional nos anos 1970. Durante o reinado do imperador Napoleão III, sucessor do rei Louis Philippe, por exemplo, a marca produzia todos os produtos usados nas mesas oficiais da nobreza e da alta burguesia francesa. Foi assim que ganhou apelidos de peso como “a casa de ourives do rei”. A empresa serviu também o imperador do México, Agustín Jerónimo, e o czar da Rússia, Nicolau I.

Mas uma marca de sucesso não vive só de passado. A partir da década de 1990, a marca decidiu aumentar – e modernizar – seu portfólio de produtos. Hoje, é possível encontrar até mesmo cadeiras e mesas de centro assinadas por designers badalados, como o holandês Marcel Wanders e o francês Ora-Ito. “Mesmo talheres podem ser modernos”, afirma Krafft. “Tudo depende da criatividade da empresa.” Com isso em mente, o executivo convocou Wanders para projetar uma coleção de talheres banhados a prata, com acabamento dourado ou parcialmente dourado, intitulada Jardin d’Eden (R$ 12 mil, 48 peças para seis pessoas).

A grife ainda fez mais para se modernizar: uniu-se à companhia francesa de tecnologia LaCie e lançou o Sphère, um HD externo de 1 terabyte, feito em prata e de maneira artesanal, ideal para guardar fotos em alta definição, vídeos e músicas (R$ 3,2 mil). Além de comercializar seus produtos para pessoas físicas, fãs do luxo de suas peças, a Christofle aposta no ramo de restaurantes e hotéis de alto padrão. “Quase um terço de nosso faturamento vem daí”, afirma Krafft. Os outros dois terços da receita saem de suas lojas próprias, franquias e multimarcas que revendem os produtos (os dois últimos modelos de negócio usados no Brasil).

Para estreitar o relacionamento com o cliente, a marca lançou recentemente uma ação em parceria com a conterrânea de champanhe Veuve Clicquot, batizada de Art de Vivre (arte de viver, em francês). Pioneiro no Brasil, o projeto presta consultoria de luxo para seus clientes, que podem oferecer almoços ou jantares harmonizados com Veuve Clicquot e decorados com produtos emprestados da Christofle para até 24 pessoas. Tudo para não correr o risco de ser lembrada apenas como uma marca de produtos antigos.

Para Amnon Armoni, professor de gestão de luxo da Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap), a Christofle está no caminho certo para fortalecer sua imagem entre os consumidores endinheirados no Brasil. Segundo ele, a grife tem todos os elementos essenciais para ser considerada de alto padrão: tradição, qualidade, exclusividade e inovação. “É comparável a uma Chanel só que do mundo do design”, afirma Armoni. “Por isso, são tão importantes as parcerias que a Christofle faz com designers renomados, uma vez que elas trazem ares de modernidade à empresa.”