A expectativa por medidas estruturais que ajustem as contas públicas, como alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), deu fôlego ao real na sessão desta terça-feira, 3. Apesar de certa frustração com declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que não trouxe detalhes sobre o plano fiscal, o dólar fechou em queda de 0,70%, a R$ 5,6358, na contramão do comportamento da moeda norte-americana no exterior.

O descolamento do real da tendência externa começou ainda pela manhã à medida que investidores digeriam fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a jornalistas e se manteve no restante do pregão. Lula revelou que se reuniria em almoço com o Haddad e os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para colocar as “contas fiscais em ordem”.

O presidente argumentou que o aumento do IOF engendrado pela Fazenda foi uma tentativa de fazer um “reparo” no quadro fiscal porque o Senado descumpriu uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de compensar a desoneração da folha de pagamentos. Haddad, no “afã” de dar uma resposta à sociedade, lançou mão do pacote do IOF.

“O real operou na contramão das outras moedas em função do discurso de Lula. Quando foi perguntado se seria contra desvinculação de despesas, ele não descartou nada. Isso, por si só, já foi positivo”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que o presidente também cobrou as compensações às desonerações. “Se vierem medidas estruturais, nesse sentido de desidenxação do orçamento, o mercado vai melhorar muito”.

Na expectativa pelo desenlace do encontro de Lula com Haddad e lideranças do Congresso, com crescentes especulações em torno de medidas mais estruturais para equilibrar as contas públicas, o real experimentou uma valorização mais forte ao longo da tarde. Em paralelo a sucessivas máximas do Ibovespa, o dólar à vista operou pontualmente abaixo de R$ 5,63, com mínima a R$ 5,6252. Após a fala de Haddad, a divisa chegou a tocar R$ 5,64, mas encerrou o dia na casa de R$ 5,63.

Haddad não anunciou as medidas apresentadas a Lula e alertou para especulações. O governo, avisou o ministro, terá reunião com líderes partidários no domingo, para discutir as alternativas ao IOF. Ele explicou que os itens validados nesta terça pelo presidente dizem respeito a 2025. Se forem passarem pela chancela dos líderes, haverá espaço para alguma “calibragem” do IOF.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, afirma que houve represamento de operações no mercado de câmbio ao longo do dia, com investidores à espera das medidas, uma vez que parte do aumento do IOF se refere a transações cambiais.

“Haddad não deu mais sinais de quais vão ser as alternativas. É até difícil entender as palavras do ministro. O governo já chegou ao limite da tributação, mas não vejo disposição para medidas estruturais de cortes de gastos”, afirma Velloni, para quem o real, à exceção desta terça, tem seguido o movimento global de moedas, marcado por enfraquecimento do dólar ao longo de 2025. “O real se beneficiou até agora da queda do DXY e também de um fluxo para a bolsa, mas não vejo esse nível como sustentável sem cortes de gastos. O dólar tende a voltar para o nível de R$ 5,90 nos próximos meses.”