Após trocas de sinal ao longo do dia, o dólar à vista se firmou em leve baixa ao longo das últimas horas do pregão desta segunda, 13, na contramão do sinal predominante de alta da moeda americana no exterior. Operadores afirmam que o real pode ter se beneficiado da entrada de fluxo estrangeiro para retomada parcial de posições em ativos domésticos que haviam sido desfeitas em dezembro.

Outras divisas emergentes pares do real, como os pesos chileno e o rand sul-africano, também escaparam da maré externa de valorização do dólar, apoiadas em grande parte na valorização das commodities. Os preços do minério de ferro subiram na esteira de resultado acima das expectativas da balança comercial chinesa em dezembro. Já as cotações do petróleo avançaram quase 3% e atingiram os maiores níveis desde agosto do ano passado sob o impacto de novas sanções dos EUA à Rússia.

Com mínima a R$ 6,0777 e máxima a R$ 6,1367, o dólar à vista encerrou a sessão cotado a R$ 6,0985, em queda 0,06%. Em janeiro, a divisa já recua 1,32% em relação ao real, após ter avançado 2,98% em dezembro e encerrado 2024 com ganhos de 27,34%.

Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operava ao redor dos 109,900 pontos no fim da tarde, após máxima aos 110,176 pontos. As taxas dos Treasuries subiram, com o rendimento da T-note de 10 anos superando 4,8%, na máxima do dia, pela primeira vez desde novembro de 2023

Depois de dados fortes de geração e empregos em dezembro, divulgados na sexta-feira, investidores aguardam, na quarta-feira, 15, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) para refinar as apostas para os próximos passos do Federal Reserve. A expectativa de um corte adicional de 25 pontos-base e na taxa básica americana, provavelmente em meados do ano, seguem acima de 40%, mas as chances de manutenção ao longo de 2025 já se aproximam de 35%.

“Depois do payroll mais forte, começou a ganhar força a ideia de que não haja mais redução dos juros pelo Fed no primeiro semestre e quiçá no ano. Isso tende a manter o dólar forte em relação a todas as moedas”, afirma Márcio Estrela, consultor da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam).

Com um quadro externo menos favorável ao real, Estrela vê o dólar entre R$ 6,05 e R$ 6,10 ao longo deste primeiro trimestre, depois do que considera um “overshooting” da taxa de câmbio em dezembro, motivado pela quebra de expectativas em relação à política fiscal e por uma retirada expressiva de recursos do país.

“Não espero ver o dólar abaixo de R$ 6. Isso dependeria de Trump não adotar tarifaço, o que não é esperado por nenhum analista, além de um reforço de medidas fiscais aqui dentro”, afirma o consultor da Abracam, ressaltando que a perspectiva de mais dois aumentos seguidos de 1 ponto porcentual da taxa Selic, como sinalizado já pelo Comitê de Política Monetária (Copom), contribui, por outro lado, para dar certa sustentação ao real.

Pela manhã, em live da Bradesco Asset, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, reiterou o guidance do encontro mais recente do Copom. Ele observou que o debate fiscal está mais inclinado sobre a trajetória da dívida em relação ao PIB do que ao cumprimento das metas fiscais estabelecidas no arcabouço.

Guillem ressaltou que as intervenções do BC no câmbio em dezembro, quando o BC vendeu US$ 21,575 bilhões em leilões de moeda no segmento spot, não representaram mudança na forma de conduzir a política cambial. “A política cambial da maneira como a gente faz, segue fazendo, fez, é para prevenir as disfuncionalidades na taxa de câmbio”, disse o diretor, acrescentado que houve volume incomum de saída de recursos do país em dezembro.

O ING projeta a taxa de câmbio a R$ 6,10 em um mês, a R$ 6,15 em três meses, e a R$ 6,25 em seis e 12 meses. “O dólar/real estabilizou-se em torno da faixa de R$ 6,10 por enquanto, mas o ambiente de dólar forte sugere que uma mudança de tendência é improvável. Os rendimentos mais altos dos títulos dos Treasuries dos Estados Unidos não ajudam”, afirma o banco holandês, para quem, no lado interno, a aproximação das eleições de 2026 coloca em dúvida se o governo vai abordar as preocupações do mercado com o cenário fiscal.