O Brasil está mais uma vez de luto. São muitas tragédias em poucos dias. O jornalismo, em especial, está destroçado. A perda do mestre Ricardo Boechat é incalculável. Sua genialidade nos comentários sempre marcou sua carreira no rádio e na televisão. Seu faro pela notícia exclusiva sempre notabilizou suas colunas em jornais e revistas. Ele brilhava em todas as mídias.

Atualmente, Boechat escrevia todas as semanas na revista ISTOÉ, cuja coluna foi laureada pelo Prêmio Comunique-se de 2018. Eu tive a honra de representá-lo na entrega deste troféu, que é considerado o Oscar do jornalismo brasileiro.

Boechat sempre se destacou no mundo político, com um discurso letal contra os corruptos. Brilhou intensamente, no ano passado, nas sabatinas que a ISTOÉ promoveu com os presidenciáveis (sorte minha de participar de algumas ao lado dele). Era nítido o respeito que todos os políticos – de esquerda, de centro e de direita – tinham pelo jornalista.

Boechat também jamais deixou de dar os seus pitacos nos assuntos econômicos. Ao disparar alguma crítica ácida, sempre salientava que não era um especialista no tema. “Reconheço a minha absoluta ignorância na economia”, dizia. E isso era um problema? Não. No caso dele, era melhor ainda.

Exatamente por não ser um grande conhecedor dos assuntos econômicos, Boechat se colocava na posição indignada dos consumidores. O setor bancário era um dos seus alvos prediletos. “Tem alguma coisa errada na economia de um país onde todos os setores perdem dinheiro enquanto os bancos anunciam os maiores lucros de sua história”, afirmou, inúmeras vezes, durante o período recessivo.

Quando ouvintes escreviam para ele reclamando de alguma grande empresa, ele logo disparava no ar em defesa dos consumidores oprimidos. Muitas vezes até exagerava, mas jamais deixou de dar espaço para o outro lado se defender. Boechat divulgava o próprio número do celular para que o público ligasse para ele. E, sim, ele atendia a dezenas de fãs todos os dias com enorme carinho e atenção, inclusive ajudando de forma pessoal.

Boechat é um tipo de profissional em extinção. Talento puro que só os gênios têm. Morreu num desastre de helicóptero, um tipo de transporte que é usado por quem tem uma agenda absolutamente atribulada. Aos 66 anos, trabalhava demais. Não pensava em se aposentar. E, com certeza, ajudaria muito no debate sobre a polêmica Reforma da Previdência. Uma perda irreparável.