26/01/2005 - 8:00
Beldades como Nicole Kidman e valentões do porte de Bruce Willis e Tom Cruise continuam sendo a ?cara? de Hollywood. Mas quem está mesmo enchendo o cofrinho dos estúdios são os tipos criados com o mouse do computador. No ano passado, a segunda aventura do ogro verde Shrek (da Dreamworks) arrecadou US$ 441,2 milhões, liderando as bilheterias nos Estados Unidos e Canadá. A força do chamado cinema de animação é tamanha que quatro das 10 produções mais rentáveis de 2004 (Os Incríveis, Espanta Tubarão, Expresso Polar e Shrek) foram feitas sem atores de carne e osso. De olho nesse filão a 20th Century Fox decidiu correr atrás do tempo perdido e está fortalecendo a sua tímida empresa de animação, a Blue Sky Studios. A mais nova aposta é o desenho Robôs, cuja estréia mundial (incluindo o Brasil) acontece em 18 de março. O filme tem todos os ingredientes de uma superprodução. Custou US$ 70 milhões e consumiu quase um ano de trabalho de uma equipe de cerca de 50 técnicos em computação gráfica e roteiristas. Para os cinéfilos nacionais, Robôs pode despertar um interesse ainda maior: ele foi feito com a participação direta de um brasileiro. Dividindo a concepção e a direção do desenho com Chris Wedge está Carlos Saldanha, um carioca de 36 anos que conseguiu fazer a América. Em entrevista à DINHEIRO, ele disse não estar rico ainda, mas ganha ?bem mais? do que os US$ 30 mil por ano que embolsava no seu primeiro emprego nos EUA. Saldanha também é o pai de A Era do Gelo, de 2002, o maior sucesso animado da Fox até aqui. Ele rendeu US$ 500 milhões à companhia ? quase 10 vezes maior que o gasto em sua produção. Mas foi um caso isolado na história da empresa.
Robôs surge como a esperança de se repetir a façanha ou até superar a Pixar/Disney e a Dreamworks, que detêm os principais êxitos nessa área: Procurando Nemo e Shrek. A história de Robôs é pontuada de lições de vida e lirismo. Seus personagens e os cenários têm um aspecto retrô que remete às máquinas e aos eletrodomésticos das décadas de 50 e 60. O filme começa com o ?nascimento? do jovem Rodney Copperbottom, um robô de família humilde e apaixonado por invenções, que resolve tentar a sorte na metrópole Robocity. Em sua jornada, ele sente na pele (ou seria na lata?) o preconceito social em um mundo onde o valor de cada ?pessoa? depende do tipo de material do qual ela é fabricada. Atores famosos emprestam suas vozes aos robôs: Ewan McGregor dubla o protagonista que sonha em trabalhar com o cientista Big Weld (voz de Mel Brooks). A lista inclui ainda a bela Halle Berry e o comediante Drew Carrey.
A estratégia de lançamento do filme no Brasil foi definida na semana passada, em um encontro que reuniu os executivos das divisões de cinema e vídeo da Fox, além da Redibra, que cuida do licenciamento dos personagens do estúdio americano. Dilson Santos, vice-presidente da Fox Entertainment no Brasil, está otimista. ?A venda de DVDs deverá bater as 450 mil unidades obtidas com A Paixão de Cristo?, estima o executivo, que comanda uma divisão cujas receitas cresceram 73% no último ano, ultrapassando a casa dos R$ 100 milhões. A expectativa também é elevada em relação à comercialização de produtos com a imagem de Rodney e sua turma. E o Brasil é um terreno fértil nesse campo, movimentando na ponta do varejo R$ 2,4 bilhões por ano. ?É o maior mercado da América Latina?, informa Sebastião Bonfá, presidente da Associação Brasileira de Licenciamento. ?Há dois meses do lançamento de Robôs, já fechamos com 14 empresas, entre elas Mattel (brinquedos), Panini (figurinhas) e Kellog?s (cereais)?, celebra o diretor da Redibra, David Diesendruck.
A Fox descobriu a Blue Sky em 1998, após o fiasco da melancólica Anastasia e do exagerado Titan After Earth, desenhos produzidos pela dupla Don Bluth e Gary Goldman, ex-Disney. O fracasso fez com que a direção do estúdio desativasse a Fox Animation e saísse à cata de uma empresa de animação gráfica para comprar. A escolha recaiu sobre a pequena mas criativa Blue Sky, fundada por Chris Wedge, em 1987, que tem no currículo um Oscar pelo curta de animação Bunny. Professor universitário, foi ele quem incentivou Carlos Saldanha a cursar o mestrado em animação na The School of Visual Arts, de Nova York. Robôs pode ser a consagração definitiva da dupla.
A seguir, os principais trechos da entrevista do diretor Carlos Saldanha
DINHEIRO ? É certo dizer que você fez a América?
CARLOS SALDANHA ? Consegui vencer em um mercado bastante competitivo. Não estou rico mas ganho bem mais que os US$ 30 mil por ano do meu primeiro emprego.
Por que você decidiu ir para os EUA?
Foi meio por acaso. Soube de um curso de animação em Nova York e resolvi tentar a sorte. Meu trabalho chamou a atenção do professor Chris Wedge, que também era o dono da Blue Sky.
Qual o maior desafio no mundo do cinema de animação?
É fazer desde a concepção dos personagens e os desenhos até o roteiro. Isso tudo com uma estrutura que ainda não é igual à das rivais como a Pixar, que tem 600 funcionários, o triplo da Blue Sky Studios.
No que você está trabalhando agora?
Estou produzindo a continuação de A Era do Gelo, minha primeira experiência como diretor. O desenho estréia em 2006 e tem custo aproximado de US$ 60 milhões.