A eleição presidencial é a que, entre todos os pleitos previstos para outubro, vai ter mais impacto nas investigações da Operação Lava Jato. A opinião é do juiz federal Marcelo Bretas, que participou nesta sexta-feira, 27, em Paraty, do fórum de debates A Casa de Não Ficção, organizada pelas revistas Época e Vogue, um evento paralelo à Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip.

“É o presidente da República quem indica os ministros do Supremo Tribunal Federal e, dependendo de quem for, pessoas que hoje são julgadas por determinadas acusações poderão ou não se sentir mais confortáveis”, disse o juiz da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro.

Durante 1h30, Bretas foi sabatinado sobre diversos assuntos. Há 20 anos exercendo a função de juiz (“nos últimos dois anos, tive mais trabalho que nos anteriores juntos”), ele se tornou conhecido por decisões rumorosas, como autorizar a prisão de Eike Batista pela Polícia Federal, operação que também teve como alvo o ex-governador Sérgio Cabral. Isso serviu, segundo Bretas, como uma experiência que pode ajudar investigações futuras a nível nacional. “Ao contrário da Lava Jato de Curitiba, a do Rio não tem uma área específica de investigação, podendo focar tanto na educação como no transporte ou na saúde. Assim, a Lava Jato aqui é uma espécie de laboratório para outros Estados e até mesmo a União.”

Questionado sobre delações premiadas, Marcelo Bretas acredita que, além de ser um direito do réu, isso pode significar um ganho de tempo e também de recursos para o governo. “Ao invés de gastar milhões de reais com os custos do processo, é mais barato para um réu devolver o que lhe é acusado de ter ganhado ilicitamente. Isso é uma mudança de paradigma, pois empresários sabem fazer contas e veem isso como uma oportunidade”, disse. Com isso, Bretas acredita que grandes empresas deveriam investir cada vez mais em ações anticorrupção, a fim de evitar futuros prejuízos.

Sobre a polêmica questão do auxílio-moradia destinado a magistrados (em janeiro, foi divulgado que Bretas acionara com sucesso o Judiciário para receber o auxílio-moradia mesmo sendo casado e residindo com uma juíza, Simone Bretas), ele inicialmente disse que não discutiria o assunto, mas emendou dizendo que hoje ganha proporcionalmente 30% a menos do que faturava de salário há 20 anos. “Um promotor ganha mais que um juiz federal”, argumentou.

Bretas disse que nunca foi convidado para iniciar uma carreira política (“É fora do meu universo”) e que também evita ser fotografado com as pessoas, especialmente celebridades. “Tenho de zelar pela minha imagem, não posso permitir que alguém use uma foto comigo para se promover.”

O juiz federal comentou ainda que preventivamente acredita que seu telefone e o de sua família são grampeados. “Não tenho nada a temer, mas, em conversas com auxiliares sobre medidas de processos, preciso me precaver”, contou ele que, mais relaxado, lembrou ter cometido um “sincericídio” ao confirmar que, com 18 anos, andava com camisas estampadas com a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato. Ainda em tom de brincadeira, revelou que o juiz Sérgio Moro, de Curitiba, passou a usar há pouco tempo o aplicativo de conversa Whatsapp. “Até há quase um ano, ele preferia mandar e-mail.”