27/08/2019 - 12:15
“Quando a gente entra, a gente entra para ganhar.” A frase é um lema, uma máxima repetida entre os brigadistas que se preparam para encarar mais um dia de frente para o fogo que se alastra pela Amazônia. É, também, uma postura de cautela frente ao poder das chamas, em que, muitas vezes, é preciso recuar. A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo acompanhou a ação realizada pelos brigadistas do Ibama e sua divisão de combate a queimadas, a Prevfogo, no sul do Amazonas.
O enfrentamento não foi feito com o uso de aviões ou helicópteros, mas em solo. Enxada, abafador, facão, soprador, bombeador de água, galhos. As ferramentas carregadas em caminhonetes são levadas pelo brigadistas, que entram pela floresta orientados pela fumaça. Um abre o caminho com o facão, outro avança com o soprador abastecido por gasolina. Abafadores de borracha são usados para apagar o que ainda resta aceso. Com enxadas, outros tratam de isolar áreas para tentar impedir que o fogo se alastre. Um pequeno esguicho de água elimina a chance de o fogo voltar.
O trabalho é lento e o vento, traiçoeiro. De um instante para o outro, muda de direção e o lugar que parecia o mais seguro passa a ser de risco iminente, com labaredas que sobem em velocidade imprevisível. Por mais de uma vez, Amaury Tenharin, brigadista-chefe, teve de gritar. “Recuar! Recuar!”
Uma correria no meio da mata. Em segundos, áreas do tamanho de um campo de futebol são engolidas pelas chamas. Nos horários mais quentes, entre as 11 e 15 horas, surge a maior parte dos novos focos de incêndio. O trabalho dos combatentes, que costuma começar por volta das 16 horas, normalmente segue noite adentro.
É uma ação de paciência e estratégia. Com o apoio de indígenas contratados como brigadistas temporários, a equipe do Ibama vai pela mata. “O trabalho tem melhor resultado à noite. É quando a temperatura cai, a umidade aumenta e a gente consegue um melhor resultado”, diz Amaury.
Com a ação organizada, os brigadistas conseguem conter as chamas de uma grande área. Mas outra já avança no outro canto mais abaixo. Eles tentam se aproximar, mas o fogo repele. A fuligem ergue uma nuvem e anuncia que, mais uma vez, é preciso recuar. As ações se sucedem assim, sem prazo, sem data para acabar.
O batalhão de 19 brigadistas de Amaury se reveza nas entradas da floresta. Eles recebem de 1 a 4 salários mínimos por mês, mais auxílio-alimentação. Entre seus combatentes está Maria Loli, de 34 anos, única mulher. Ela deixou em casa Luan, seu filho de 7 anos, que espera ansioso pelo retorno da mãe. Aos amigos da escola, ele já tem ensinado que o fogo é inimigo da floresta, dos animais e da saúde das pessoas, diz Maria Loli. “Ele é um pequeno professor dos coleguinhas”, conta a mãe.
O menino já entendeu que, quando tem queimada na Amazônia, a mãe tem de entrar em ação, o que significa não ter data para voltar para casa. Loli já ficou 15, 20 dias em combate. “Quando ele vê uma fumaça, já pensa que posso ir embora”, diz a mãe. “Mas gosta do que eu faço. Diz que, quando crescer, também vai combater o fogo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.