18/11/2009 - 8:00

Os números auspiciosos já estão no forno. Não faltam boas perspectivas para que 2010 seja um bom ano para a economia brasileira. As estimativas para o crescimento são cada vez mais otimistas: o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer em torno de 5% no próximo ano, depois de uma taxa modesta de 0,2% em 2009, segundo as projeções médias das instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central na Pesquisa Focus.
Neste fim de ano, o ritmo de alta já está aquecido, em 8% a 10% sobre igual período de 2008. O principal ingrediente desta receita vem da melhoria das taxas de emprego, que resultarão em aumento do consumo e da renda e levarão as camadas D e E da população a um novo patamar entre as classes sociais. Também ajudam as expectativas de aceleração do crédito e as taxas de juros historicamente baixas, ainda que com tendência de alta em 2010.
O toque especial do chef vem do governo, que deverá continuar gastando e investindo ainda mais nas obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC ). E daí? Pode ser um bom momento para garimpar ações e investir na bolsa de valores.
Os analistas dos bancos, das corretoras e das gestoras de fundos de investimento já viraram a página da crise mundial e estão em busca dos papéis das empresas brasileiras que devem se beneficiar de uma economia doméstica mais vibrante a partir do ano que vem.
Se as previsões estiverem certas, haverá muitos ganhadores, desde as companhias que produzem embalagens até as grandes redes varejistas, além de bancos e empresas de construção civil. “Em um cenário de crescimento econômico, estes são os setores que mais se beneficiam”, avalia o diretor de estratégia e produtos da Infinity Asset Management, André Paes.

Oito das 16 empresas promissoras já subiram mais de 100% na bolsa este ano, bem acima dos 80% do Ibovespa
A revista DINHEIRO consultou corretoras e analistas para listar as empresas mais promissoras na bolsa se o fermento do PIB funcionar (veja tabela na página 98). Não se trata de recomendação de investimento, mas de uma lista de ingredientes para uma carteira com potencial de crescimento em 2010 – a qualidade dos ingredientes deve ser minuciosamente analisada pelo investidor.
No varejo, nomes como Marisa, Lojas Renner, Pão de Açúcar, M. Dias Branco, Ponto Frio, B2W e Hypermarcas despontam na bolsa como candidatos a valorização expressiva. São empresas que terão margens melhores e aumento do faturamento por conta da economia aquecida.
“Esse setor terá um crescimento melhor do que a média. Acredito que não será um aumento repentino, mas contínuo ao longo do ano que vem”, completa o educador financeiro Mauro Calil.
Na esteira do desenvolvimento, toda a cadeia produtiva tende a se beneficiar. Empresas de base, como petroquímicas e papel e celulose, por exemplo, fazem parte do primeiro elo da cadeia. “A indústria de base é a primeira que reage e a primeira que sofre”, lembra Calil. As obras do PAC e o aumento dos gastos do governo em 2010 também trazem um estímulo a mais para companhias de bens de capital, como Indústrias Romi e Weg. E, com o aumento do fluxo de mercadorias e pessoas, o setor de transportes também tende a ser privilegiado.

Assim como a ferrovia Burlington Northern chamou a atenção e US $ 44 bilhões do megainvestidor americano Warren Buffett, há duas semanas, as ações da ALL são uma boa oportunidade para aqueles que acreditam no ciclo econômico virtuoso para o Brasil. Os bancos também se aproveitarão da economia pujante.
A expectativa é de que, com a retomada forte do crédito, haverá demanda mais robusta pelos serviços bancários. “Serão beneficiados tanto os bancos de atacado como os de varejo”, diz o professor de finanças da faculdade Veris IBTA, do grupo Ibmec Educacional, Estevão Garcia. Os grandes – Bradesco, Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Santander – continuarão a mostrar força.
Há previsões de alta de 20% a 25% nas carteiras de empréstimos, o que se traduz em maiores lucros no final do ano. Os bancos médios, que passaram por problemas de liquidez durante a crise, voltam com tudo para brigar. O crescimento do PI B em 2010 também está agitando o setor de construção civil. As empresas imobiliárias mostraram recuperação este ano com o pacote do governo “Minha Casa, Minha Vida”.
A provável alta da taxa Selic (o mercado prevê mudança dos 8,75% para 10,5% em dezembro de 2010) não intimida os especialistas do setor, pois os incentivos deverão se manter. “O déficit habitacional é muito grande e ainda há opções em bolsa interessantes”, afirma o analista Felipe Miranda, da Empicurus.
O cenário é muito positivo para a economia interna, mas é preciso ser seletivo. Há papéis que já subiram muito em 2009 e outros que ainda estão muito descontados. Analisar os fundamentos das empresas é outro fator muito importante na hora de selecionar a sua carteira de ações.
As companhias exportadoras, por exemplo, não aproveitarão tanto do bom momento, dada a queda do dólar. Algumas podem acompanhar a tendência, voltando as suas vendas para o mercado interno. As empresas aéreas, como Gol e Tam, podem se beneficiar do aumento da renda, com uma maior procura pelas passagens.
Mas isso não são favas contadas: guerras tarifárias e altas do petróleo podem pressionar os resultados em 2010. É preciso cautela redobrada com as notícias lá de fora. O ritmo da retomada dos Estados Unidos, cheio de incertezas mesmo após o salto anualizado de 3,5% registrado na primeira prévia do PI B do terceiro trimestre, ainda é um fator preocupante.
“A recuperação tem sido baseada em estímulos fiscais e monetários, o que sempre é frágil. Os governos não geram riquezas”, afirma o estrategista da Pentágono Asset Management, Marcelo Ribeiro. Para ele, pode ocorrer uma realização de lucros mais intensa, voltando a afetar o sentimento do consumidor e do empresário brasileiro.
