DUAS LENDAS DA ITÁLIA, UMA da moda e outra dos contos de fada, se encontraram em um protesto no início de outubro. Na verdade, Giorgio Armani, o mais cultuado dos estilistas do país, e Pinóquio, o personagem mentiroso das histórias infantis, eram um só nos cartazes erguidos por ativistas da Peta (People for the Ethical Treatment of Animals), ruidosa organização internacional que luta pela proteção dos animais, em uma manifestação em frente à sede da grife em Milão. Armani com um nariz de Pinóquio? Sim. Para a Peta, o mito da moda mentiu e descumpriu uma promessa, feita à entidade no ano passado, de que nunca mais usaria peles de animais em nenhuma de suas criações. Tudo porque, na mais recente edição da semana de moda de Milão, Armani apresentou, na passarela, casacos revestidos com a macia lã de coelhos. O evento aconteceu em fevereiro passado, mas a turma da Peta esperou as peças chegarem às lojas para agir.

Além do protesto, a organização atacou também um dos pilares que mantêm a Armani entre as marcas de luxo mais bem-sucedidas: as estrelas de cinema que a usam. Pamela Anderson, ativista e atriz do seriado americano Baywatch, está tentando convencer atores como Cate Blanchet e Tom Cruise a boicotarem a grife italiana. Armani, por sua vez, se defende dizendo que a pele de coelho é a única que utiliza e que, quando o faz, obtém de animais que foram abatidos para fins gastronômicos. A polêmica está lançada. De um lado, a marca com um faturamento estimado em US$ 3,5 bilhões e do outro uma entidade com mais de dois milhões de associados.

?A indústria das peles é uma das mais sangrentas do planeta?, disse à DINHEIRO Michael McGraw, portavoz da PETA. ?Qualquer um que as use mostra um desrespeito completo pelos animais e pelo meio ambiente.?

Além de protestos, realizam visitas a eles em que apresentam vídeos de como os animais são mortos e apresentam alternativas ao couro, como peles sintéticas. Nos últimos dois anos a entidade já convenceu estilistas da Calvin Klein, Ralph Lauren, Tommy Hilfiger e Vivienne Westwood a deixarem as peles de lado. Já Armani, Jean Paul Gaultier, Donna Karan e Versace, grifes com um apelo mais glamouroso, estão na lista negra do PETA. Em nota, a Armani afirma que a PETA está explorando o seu nome para comover a opinião pública. E a estratégia pode ser mesmo esta. A atriz Pamela Anderson enviou a Cate Blanchet o seguinte bilhete: ?Cate, sendo uma parte importante da máquina de publicidade da Armani, você poderia pedir urgentemente a ele (Giorgio Armani) que mantivesse sua promessa de deixar as peles fora de sua coleção?. A nota não obteve resposta.

Com suas ações, a PETA já teve sucesso no passado. A montadora de automóveis DaimlerChrysler, por exemplo, passou a oferecer modelos de Mercedes-Benz sem nenhum tipo de couro no interior. Gigantes da indústria de cosméticos Revlon e Avon também não testam mais seus produtos em animais. ?A Armani não precisava ter usado pele. As coisas que fazem mal têm lugar cada vez mais restrito?, diz Márcio Banfi, professor da faculdade de moda Santa Marcelina. ?A moda não é feita de glamour, mas de boas criações. É muito melhor ser criativo do que ser clássico?, diz Banfi. Os lucros de Armani talvez indiquem o contrário.