Em véspera de feriado no Brasil mas não no exterior, o Ibovespa operou em margem bem estreita, de 867 pontos entre a mínima (116.231,22) e a máxima (117.098,64) do fim da tarde desta quarta-feira, com os investidores tendo aparentado, em boa parte do dia, disposição para colocar algum dinheiro no bolso após três sessões de retomada para o índice da B3. Do meio para o fim da tarde, contudo, o Ibovespa passou a operar um pouco acima da estabilidade, fechando em leve alta de 0,27%, aos 117.050,74 pontos, saindo de abertura aos 116.736,95.

Com o quarto ganho seguido, o Ibovespa se manteve, como na terça-feira, no maior nível de encerramento desde 20 de setembro, então aos 118.695,32 pontos. Na semana, o índice sobe 2,52%, e conserva o sinal positivo no mês pelo segundo dia, agora em alta de 0,42% em outubro, após ter zerado as perdas no intervalo, na terça-feira. No ano, o Ibovespa avança 6,67%. O giro desta quarta-feira ficou em R$ 18,0 bilhões, após ter chegado a R$ 20 bilhões no dia anterior.

Desde cedo, o Ibovespa refletiu a cautela que antecede o feriado numa quinta-feira com mercados abertos lá fora e divulgação de nova leitura sobre a inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos, na quinta-feira. Assim, os investidores evitaram movimentos bruscos, com o petróleo em retração pelo segundo dia, após o ‘spike’ da segunda-feira que havia alavancado as ações da Petrobras.

Se, por um lado, o ajuste nos preços do petróleo reduz o impulso para Petrobras, por outro não deixa de ser bem-vindo, ao se considerar o quadro econômico mais amplo, ainda marcado por dúvidas sobre a inflação global e o nível de juros de mercado nos Estados Unidos – que nesta quarta se mantiveram em queda nos vencimentos mais longos, de 10 e 30 anos.

“Ontem, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas, apontou que um aumento de 10% nos preços do petróleo resultaria em redução de 0,15% no crescimento do PIB mundial e acarretaria aumento da inflação global, de 0,4%”, observa André Leite, CIO da TAG Investimentos.

“Os contratos de juros futuros tiveram quedas nas taxas, ontem e hoje, em função do recuo do petróleo e da probabilidade menor de uma escalada da guerra em Israel”, aponta Beto Saadia, diretor de investimento da Nomos.

Nesta quarta com redução na casa de 2% nas cotações do Brent e do WTI, as ações da Petrobras (ON -0,34%, PN -0,26%) acompanharam à distância a commodity, no fechamento, enquanto Vale ON mostrou alta de 0,87% e as ações de grandes bancos avançaram em torno ou acima de 1% para Bradesco, Itaú e Banco do Brasil – um pouco atrás, Santander subiu 0,79% nesta quarta-feira, na máxima do dia no encerramento.

Na ponta do Ibovespa, destaque para Gol (+4,56%), Carrefour Brasil (+3,27%), Alpargatas (+2,67%) e BTG (+2,57%). No lado oposto, IRB (-6,89%), Magazine Luiza (-4,02%), Pão de Açúcar (-3,73%) e Soma (-3,50%). “As ações do varejo têm refletido a pressão derivada dos juros futuros, com a expectativa também para os resultados do terceiro trimestre, tendo em vista o alto endividamento e as margens contraídas no setor”, diz Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos.

Assim, o índice de consumo (Icon) fechou o dia em baixa de 0,66%, enquanto o de materiais básicos (Imat), correlacionado à demanda externa, subiu 0,30%.

Em sessão que contou com referências como a leitura sobre o IPCA de setembro – pela manhã, assim como a do índice de preços ao produtor (PPI) nos EUA – e, à tarde, a ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, o Ibovespa mostrou desempenho quase uniforme ao longo da maior parte do dia, sem sobressaltos agudos em relação aos gatilhos disponíveis na sessão.

Destaque da tarde, a ata do Fed contribuiu para firmar o sinal positivo dos índices de ações em Nova York, com a leitura do mercado de que as indicações de nesta quarta reforçam a perspectiva de manutenção da taxa de juros de referência dos EUA na próxima deliberação sobre a política monetária americana, em novembro. Assim, em NY, Dow Jones fechou o dia em alta de 0,19%; S&P 500, de 0,43%, e Nasdaq, de 0,71%. Aqui, o dólar à vista cedeu 0,13%, a R$ 5,0498, no fechamento desta quarta-feira.

No Brasil, “o IPCA teve alta de 0,26% em setembro, e nos últimos 12 meses acumula 5,19%, acima dos 4,61% registrados em agosto”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destacando que a variação mensal foi puxada, principalmente, pelos preços administrados (+1,11%), enquanto os livres apresentaram deflação (-0,04%). Considerando a inflação acumulada em 12 meses, foi o terceiro avanço consecutivo.

“Quando observamos a composição do IPCA, o cenário segue benigno: os preços de serviços se mantiveram estáveis no acumulado de 12 meses e, apesar de terem subido na variação mensal, os preços dos serviços subjacentes arrefeceram na variação anual. Além disso, a média dos núcleos de inflação passou de 5,2% em agosto para 5,0% em setembro, e o índice de difusão caiu para 43%, ante 53% em agosto”, acrescenta Sung.

“A elevação da inflação no acumulado em 12 meses já era esperada, de forma que a leitura foi neutra em relação ao que o mercado aguardava. Há um processo de desinflação em andamento, com a correção de desequilíbrios no pós-pandemia”, diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, destacando também o desempenho de serviços subjacentes no mês.

“O IPCA abaixo do consenso mostra um retrato bem parecido com a leitura do mês anterior, com os transportes subindo, em reflexo do preço do combustível, e assim mesmo não contaminando a leitura total”, avalia Saadia, da Nomos.

Contudo, acrescenta o economista, “ainda é um número sem relevância para uma mudança de trajetória do Banco Central, que tem sinalizado que os desafios atuais vêm de fora” – em referência à incerteza quanto à possibilidade de “arrocho monetário” adicional nos Estados Unidos, em meio a um cenário econômico ainda desafiador.