27/07/2005 - 7:00
O que era para ser uma monótona viagem de negócios tornou-se uma das maiores aventuras da vida daquele jovem. Em 1993, o americano Kent Ertugrel estava em Moscou, na Rússia, para recrutar programadores de computador. Naquele tempo, prestes a fundar uma companhia de softwares, buscava os maiores talentos do setor. Um passeio, contudo, mudou a sua vida. Convidado por um amigo, ele fez um vôo a bordo de um Mig-29, caça de guerra que atinge uma velocidade de 2,2 mil km/h. Ao pousar, não pensou duas vezes. Transformaria aquela viagem em um negócio lucrativo. Dito e feito. O sonho pós-adolescente tem, hoje, um sugestivo nome: Incredible Adventures. Trata-se de uma agência de viagens que, ao vender aventuras incríveis, prova que nada é impossível ? ou então, pelo avesso, que tudo é possível. Basta ter dinheiro para voar nos aviões de guerra mais rápidos do planeta, simular combates militares, passar pela sensação da gravidade zero no centro de treinamento que preparou o cosmonauta Yuri Gagarin, o primeiro homem a atingir o espaço, e nadar, dentro de gaiolas, ao lado de imensos tubarões brancos. ?Construímos a nossa reputação entregando tudo o que prometemos e mais um pouco?, diz Jane Reifert, presidente da companhia movida a adrenalina.
O que eles oferecem é para poucos. Quem corta o céu dentro de um Mig-29 não se arrisca a dizer que foi uma aventura como outra qualquer. Lançado no início da década de 1980, o caça foi um dos derradeiros projetos da ex-União Soviética a sair da linha de montagem. É, ainda hoje, considerado uma das armas de combate mais letais do planeta. Um modelo novo custa cerca de US$ 30 milhões. Um dia de vôo com a Incredible Adventures sai por US$ 16,5 mil. No programa de seis dias, o aventureiro de plantão passa por uma bateria de treinamentos e deve preencher alguns requisitos. Primeiro, deve exibir atestado médico comprovando que está em plenas condições de saúde de modo a enfrentar as fortes emoções. De acordo com a empresa, não é preciso saber pilotar. Essa parte fica com pilotos da aeronáutica russa com experiência média de 30 mil horas de vôo. Mesmo acompanhado de um exímio profissional, é obrigatório receber as recomendações de vôo e aprender ejetar o banco em caso de acidente. Depois disso, é entregar-se à loucura.
Grande parte das aventuras acontece na Rússia. O motivo é nítido: com o fim da União Soviética, o exército vermelho foi sucateado. Para manter os custos das bases, alguns equipamentos de poder bélico reduzido foram alugados para a iniciativa privada. Por isso, além do Mig, é possível também viajar no avião cargueiro IL-76 MDK. Durante o vôo, esta moderna aeronave faz uma parábola proporcionando gravidade zero. Outra aventura militar é a simulação de combates com tanques da Segunda Guerra Mundial. É turismo em clima de guerra fria. Nos Estados Unidos, do outro lado do que um dia foi a Cortina de Ferro, também há passeios para corajosos. No estado do Colorado, por exemplo, há um programa chamado Skyfighters. Aviões T-34, os mesmos que serviram a Força Aérea Americana entre 1953 e 1959, são guiados por ex-pilotos do exército ianque. Enquanto isso, o turista no banco de trás atira no oponente em uma espécie de videogame a milhares de metros de altura do solo. Os desafios são tão fascinantes que uma das modalidades, o mergulho em gaiolas na cola de temidos tubarões brancos, é tratado com desdém, como se fosse iniciativa banal. Não é ? graças, em boa medida, ao rigoroso controle de segurança criado e controlado pelos profissionais da Incredible Adventure. Trata-se, em outras palavras, de uma empresa de novos tempos. A história precisou mudar para que ela pudesse prosperar.