08/12/2000 - 8:00
?Humildemente, somos os maiores na América Latina?, diz Eduardo Nader, criador e principal executivo do Mercado Eletrônico, um empreendimento pontocom que vive de facilitar a vida dos departamentos de compras das empresas. Dura pouco este rasgo de ostentação, único nas duas horas de entrevista à DINHEIRO. Como bom comerciante ? é filho de libaneses ?, logo retoma o tom comedido ao falar de seu próprio negócio. ?É que eu me entusiasmo quando vejo até onde chegamos?, justifica-se. Nader e o Mercado Eletrônico chegaram ao ponto com que sonham muitas empresas que operam na Internet. Ele diz que por sua empresa passam hoje 10 mil transações por dia. Em 1995, dezoito meses depois de começar a operar, a empresa já fazia dinheiro intermediando operações por fax e telefone. Em 1999, já atuando na Internet, recebeu reforço de capital do fundo comandado pelos grupos GP e Opportunity, que pode totalizar US$ 27 milhões nos próximos anos.
Nader é um dos pioneiros da Nova Economia no Brasil. Depois de um ano nos Estados Unidos, estudando guitarra e violão, retornou ao Brasil em 1990, formou-se engenheiro de produção e engajou-se no negócio da família, Indústrias Têxtis Aziz Nader S. A. Ali conheceu as dificuldades das empresas na hora das compras, departamento que dirigia: dias e dias perdidos em negociações de preços, leque restrito de fornecedores e falta de transparência. Em 1994, com 27 anos, deixou a Aziz Nader para fundar o Mercado Eletrônico, provavelmente o primeiro B2B (Business to Business) do Brasil, uma coisa da qual nem se falava na época. A empresa organiza o processo de compras, mantém em seu site uma lista de empresas, as mercadorias que oferecem, a que preços e uma avaliação que leva em conta itens como cumprimento de prazos. ?Quando lancei o serviço, eu prometia redução de 80% dos custos de compras e 20% dos preços?, confessa Nader. Papo de vendedor? Definitivamente, não. Neste ano, a Abott Laboratórios economizou 25% no preço final comprando toner e cartuchos para impressoras num leilão reverso. O comprador diz o valor máximo que quer pagar, e os fornecedores disputam até se definir qual deles oferece o menor preço. É um cenário bem diferente do início, quando Nader oferecia o serviço gratuitamente para convencer clientes. A Internet comercial era precária. O fechamento dos negócios envolvia outros formas de comunicação. ?As empresas comparavam preços no site e pechinchavam por telefone.?
Com 20 funcionários, a empresa custou, nos primeiros anos de decolagem, US$ 2 milhões e jornadas de trabalho que duravam de 12 a 15 horas ? o que só não era problema porque também eram irregulares os horários de trabalho da namorada e atual esposa, a ex-modelo e atriz Virgínia Novick. Seis anos depois, o Mercado Eletrônico é um caso singular de empresa virtual que dá certo. ?Humildemente, com os pés no chão?, corrige Nader.