O empresário indiano Ratan Tata, 73 anos, um dos homens mais ricos do mundo, dono de um conglomerado de empresas que faturam US$ 68 bilhões por ano, já esteve duas vezes no Brasil em 2011. Na última vez, em agosto, chegou ao País pilotando o seu jato particular para participar da reunião do conselho da Fiat, da qual é o principal acionista individual, com 18% das ações com direito a voto. Na ocasião, aproveitou também para prospectar negócios. A um amigo, disse que o Brasil é prioridade de seu grupo e acrescentou que os investimentos começarão pela indústria automobilística e siderúrgica. A Tata Steel, por exemplo, já abriu um escritório no Rio de Janeiro. Em uma de suas passagens pelo País circularam rumores também de uma possível parceria com Eike Batista, do grupo EBX. 

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Federici, da Micromax: maior fabricante de celulares indiana traz modelos baratos e
estuda iniciar fabricação de aparelhos no Brasil

Nas pegadas de Tata, um concorrente, o empresário Shashi Ruia, 67 anos, presidente do grupo Essar, que atua em petroquímica, siderurgia, mineração e call center, com um faturamento anual de US$ 50 bilhões, também veio atrás de negócios no Brasil. O interesse dos dois magnatas não é um fenômeno isolado. De uns tempos para cá, um número crescente de executivos e de empresas indianas está tomando o caminho do Brasil e saudando o País com a palavra namastê, cumprimento tradicional de boas-vindas, proferido com as mãos juntas ao peito e uma ligeira curvatura do corpo. É o caso da Micromax, maior fabricante de celulares da Índia, que abriu sua subsidiária brasileira com investimentos de R$ 20 milhões em agosto. O objetivo é oferecer produtos de baixo custo. Seus aparelhos começam com preços a partir de R$ 119 e vem com dois chips, um atrativo a mais para os consumidores brasileiros. 

 

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Ratam Tata: o bilionário indiano já veio duas vezes ao Brasil em 2011. A amigos, ele tem dito que está de olho
nos setores siderúrgico e automobilístico

 

A meta é vender um milhão de celulares no primeiro ano de operação no Brasil, cujo foco inicial é a região Nordeste. Atualmente, os equipamentos são importados da China. “Estamos estudando a possibilidade de uma fábrica no Brasil”, diz Mauro Federici, diretor-geral da subsidiária brasileira. Até quem já está por aqui há mais tempo, como a TCS, maior empresa de terceirização de serviços de tecnologia do grupo Tata, que desembarcou no País em 2002, pretende continuar investindo em sua expansão. Segundo André Fossa, presidente da operação brasileira, a meta é triplicar o contingente de oito mil funcionários até 2015. “O Brasil é a principal aposta da TCS na América Latina”, afirma Fossa. “Daqui a quatro anos, junto com o México, poderemos responder por 60% das nossas receitas na região.” A Infosys, principal concorrente global da TCS, está no Brasil há apenas um ano e meio, mas já corre contra o relógio. 

 

Com sede em Belo Horizonte, a empresa está ampliando a estrutura e deve abrir escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro ainda em 2011. “Nosso plano é aumentar a receita proveniente do Brasil em dez vezes até 2014, para US$ 100 milhões”, diz Avishek Nigam, presidente da subsidiária. O grupo Suzlon, quinto do mundo na fabricação de aerogeradores, que atua no Brasil desde 2006, constrói uma fábrica no Ceará, cuja inauguração é prevista para 2012. Implantada em parceria com a Aeris Energy, que tem como sócio o empresário Alexandre Negrão, ex-proprietário do laboratório farmacêutico brasileiro Medley, a unidade receberá recursos da ordem de R$ 60 milhões. O resultado dessa intensa movimentação pode ser observado nos investimentos de empresas indianas no Brasil. Eles quintuplicaram em 2011, chegando a US$ 356 milhões até julho deste ano, de acordo com levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), à pedido da DINHEIRO. 

 

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Fossa, da TCS: a empresa de serviços de terceirização do grupo Tata vai triplicar

o número de funcionários no Brasil até 2015, quando chegará a 25 mil empregados

 

É pouco ainda, é verdade. Trata-se um décimo, por exemplo, do que as empresas chinesas investiram no Brasil neste ano. Mas as perspectivas para os próximos anos são de mais dinheiro. De acordo com Leonardo Ananda, diretor vice-presidente da Câmara de Comércio Índia Brasil, pode chegar a até R$ 5,3 bilhões em 2012, em razão do interesse das empresas da Índia nos setores de mineração, siderurgia, telefonia celular, energia, agrícola e hotelaria. Atualmente, há cerca de 30 empresas indianas operando no Brasil. A maior delas é a siderúrgica ArcelorMittal, do bilionário indiano Lakshmi Mittal, sexto homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 31,1 bilhões pela revista Forbes. “Com o real valorizado e o ganho de renda do brasileiro, os investidores estão atraídos pelo setor de serviços e por atividades industriais que não dependem de exportações”, diz Luís Fernandes Lima, presidente da Sobeet. 

 

Observe a história da Renuka do Brasil. De 2008 a 2010, a companhia saiu às compras. Nesse período, adquiriu as usinas de etanol e açúcar Equipav, em Promissão (SP), e no Vale do Ivaí, em São Pedro do Ivaí (PR). “Não poderíamos estar fora do maior mercado produtor da commodity”, afirma Humberto Farias, CEO da Renuka do Brasil. Com apenas dois anos de existência, a empresa deve faturar R$ 1,5 bilhão em 2011, o que corresponderá a 40% da receita global da companhia. Em moagem de cana-de-açúcar, a Renuka, que está investindo R$ 230 milhões neste ano, já figura entre as dez maiores usinas do País. A Renuka, por sinal, é um bom exemplo do estilo de atuação das empresas da Índia no Brasil. Na quase totalidade delas, os principais postos de direção são entregues a executivos locais. “A direção do grupo queria um profissional que conhecesse a cultura de negócios do País”, diz Farias.

 

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 Colaborou Rodrigo Caetano