A Starbucks, maior cadeia de cafés dos Estados Unidos, tem hoje 4.300 lojas espalhadas pelo mundo e faturou, só no ano passado, US$ 2,1 bilhões. Já o conglomerado Disney apresentou um faturamento de mais de US$ 25 bilhões em 2000, com empreendimentos como parques temáticos, canais de tevê, estúdios de cinema, espetáculos na Broadway e cruzeiros interatlânticos, entre outros. O que esses negócios aparentemente imbatíveis têm em comum? Eles têm sido o alvo principal de uma cruzada movida pelo homem da foto aí ao lado. O objetivo deste senhor de 52 anos com topete estilo rockabilly é simplesmente aniquilar estes dois grupos. Mais: é acabar com o consumo no mundo. Para isso, Bill Tallen, um ex-ator que hoje dá aulas de ativismo social numa universidade em Nova York, veste uma indumentária preta e um blazer branco e assume outra identidade. A do reverendo Billy, fundador e principal figura da The Church of Stop Shopping, uma igreja cujo princípio é impedir que as pessoas comprem. ?Essa necessidade contínua de consumir
virou um vício, como uma substância química que controla a
mente das pessoas?, disse o reverendo Billy a DINHEIRO em
meio a um protesto na porta de uma das lojas mais movimentadas
da Starbucks em Manhattan.

O discurso pode até parecer ingenuidade de um único homem ? ex-hippie, por sinal ? cansado de se submeter à ditadura do capitalismo. Mas não é bem assim. A Stop Shopping começou em 1997 e hoje já conta com mais de 2 mil fiéis, alguns fora dos Estados Unidos.
Ela surgiu no dia em que Billy entrou numa megastore da Disney e achou que o comércio local e, conseqüentemente, a opção de compra dos consumidores estavam sendo aniquilados pelo poder de Mickey Mouse. ?De lá para cá mais pessoas estão abrindo os olhos para isso?, entusiasma-se o reverendo. A principal ferramenta do religioso para atingir seu rebanho é fazer de tudo para aparecer. Toda semana ele escolhe alguma loja da Disney ou da Starbucks ? seus alvos preferidos ? e as invade com uma pregação teatral que inclui tentar convencer os pequenos disneymaníacos de que
Mickey é o demônio. ?O que acho mais triste é ver as crianças
com roupas cheias de logos e marcas, como se fossem
uniformes paramilitares?, lamenta Billy.

O que Billy mais gosta de fazer, no entanto, é pregar para seus seguidores. Toda semana ele reúne uma platéia de 300 pessoas e faz um show com muita cantoria gospel anticompra, sermões para espantar as forças consumistas e um curioso ritual de exorcismo do cartão de crédito. ?Eu peço para ver o que cada um tem na carteira?, explica o reverendo. ?Tem gente que tira dez cartões de crédito e me pede para que eu espante o demônio dali?, completa Billy, ele mesmo uma pessoa desprovida de qualquer uma dessas ?tarjetas do mal?.

Apesar das pregações e do exorcismo, as semelhanças da Stop Shopping com qualquer outra igreja param por aí. Não existem pecados, punições, mandamentos, confissões ou missas. ?Não queremos nos associar a nada espiritual como existe nos outros movimentos religiosos. Até porque até isso também virou uma forma de consumo hoje em dia?, protesta o reverendo, agnóstico declarado. ?A Stop Shopping é mais uma manifestação política para fazer as pessoas perceberem que a única opção delas é a compra seletiva, parecida com o poder do voto?, enfatiza. O reverendo leva isso ao pé da letra em sua vida pessoal. Billy mora sozinho num loft no bairro descolado do Soho e tem o que se pode chamar de uma casa básica: um colchão encostado na parede, uma pequena geladeira, algumas plantas, dois pequenos armários e
uma estante com livros.

Se outras pessoas além de Billy estão seguindo cegamente o jejum consumista é difícil saber. O fato é que os gigantes do capitalismo ao menos já conhecem a existência do reverendo. Só no ano passado ele foi preso três vezes durante manifestações na Starbucks. Billy também jura que seu site foi tirado do ar por forças ?transnacionais?, como ele chama os grandes grupos, e que seu provedor foi ameaçado por hospedar a página da Stop Shopping. ?Gandhi disse que primeiro os inimigos ignoram você, depois riem da sua cara, brigam com você e então perdem a batalha?, explica. ?Neste momento eles estão brigando comigo. Sei que não vou acabar com a Disney e com as outras, mas meu papel é fazer as pessoas abrirem o olho, criar barulho?. Gap, IBM, Mc Donald?s,
Nike, que se cuidem?