O estoicismo, uma filosofia que tem raízes no século III a.C, enaltece a temperança, o controle da razão sobre nossas emoções e a importância de concentrar a atenção sobre o que podemos controlar, deixando repousar sobre solene indiferença o que não podemos.

Vivemos um tempo sem precedentes na história, onde os cinco anos anteriores pouco servem de parâmetro para os cinco que virão. A transformação digital acelera para todas as direções ao mesmo tempo e embaralha o jogo a cada rodada. Para aqueles e aquelas que têm responsabilidade executiva sobre o presente e que arquitetam o futuro das organizações, esse fenômeno é ao mesmo tempo um fardo e um grande campo de possibilidades. Não é à toa que vivemos uma epidemia de ansiedade — o Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde, tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo. Somos cerca de 19 milhões (9% da população!).

Nesse ambiente conflagrado pela pressa, as decisões orientadas por dados podem servir às lideranças como um instrumento que, somado a bons princípios, direciona pensamentos, ações e decisões. A integração da análise baseada em dados com as virtudes estoicas de temperança, sabedoria, coragem e justiça podem robustecer o papel da liderança em tempos nos quais sua voz é cada vez mais importante. Agir decisivamente sobre aquilo que podemos mudar parece ser um bom mantra.

O surgimento de um novo arquétipo de liderança emerge com uma capacidade ambidestra de combinar a precisão das decisões habilitadas por dados com a sabedoria entrelaçada em valores, que pouco se perturba diante da adversidade

O começo de tudo, antes mesmo de se pensar nos dados, está na definição do propósito que nos anima — é daí que se deriva o que é “certo” e sobre o qual podemos nos dedicar de corpo e alma. A liderança orientada por dados se ancora nos valores e na cultura e constrói sua narrativa baseada em evidências claras e empíricas, usando as emoções e os dados, mas não a reboque deles. Esse modo de operar reduz a ansiedade do risco e promove uma abordagem equilibrada, que promove a confiança e o comprometimento dos times. Assim se facilitam as decisões oportunas, eficazes, defensáveis sob a luz do Sol e sobretudo que respeitam as pessoas. Se não é para isso que nos alistamos, eu não sei para o que foi…

Porém (sempre há um porém), não é nada trivial pedir a líderes que consolidaram ao longo do tempo e com muito esforço a sua própria capacidade de tomar boas decisões para agora confiar às máquinas e processos automáticos as decisões importantes dos negócios. O surgimento de um novo arquétipo de liderança emerge com uma capacidade ambidestra de combinar a precisão das decisões habilitadas por dados com a sabedoria entrelaçada em valores, que pouco se perturba diante da adversidade. Uma pesquisa recente mostra o tamanho do desafio: somente 45% das lideranças sêniores acreditam que a disrupção digital “chegou à sala do Conselho”. Esse fenômeno lembra o mecanismo de proteção mais elementar da nossa mente: a negação.

Não se engane atenta leitora, antenado leitor, a liderança habilitada (mas não comandada) por dados veio para ficar. O resultado da liderança eficaz é mensurável e construído ao redor da geração consistente de resultados econômicos relevantes, socialmente significativos e de um ambiente de trabalho harmônico, sem comprometer sua saúde no processo. Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo!

Luís Guedes é professor da FIA Business School