Por Patrícia Vilas Boas

SÃO PAULO (Reuters) – Os riscos de um desastre como o incêndio que atingiu o galpão da Cinemateca Brasileira já haviam sido avisados ao governo federal há muito tempo, disse Roberto Gervitz, coordenador do grupo de trabalho S.O.S. Cinemateca e membro do Conselho da Sociedade Amigos da Cinemateca.

“Havíamos alertado o governo de que uma tragédia poderia ocorrer”, disse Gervitz, que representou a Associação Paulista de Cineastas (Apaci) em audiência recente no âmbito de ação contra a União aberta no ano passado alegando que as condições da Cinemateca eram de abandono.

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Uma parte do galpão da Cinemateca Brasileira pegou fogo na noite de quinta-feira, de acordo com o Corpo de Bombeiros, e ainda não se sabe a extensão dos danos provocados pelo fogo no acervo do local. O incêndio não deixou feridos.

No prédio que fica localizado na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, há cerca de quatro toneladas de documentos com registros de quase 60 anos da história institucional do cinema brasileiro, além de duas mil cópias de filmes utilizados para a divulgação do acervo e equipamentos antigos que formariam um museu sobre a história do cinema, projeto antigo da Cinemateca, disse Gervitz.

“A gente não sabe se esses equipamentos foram atingidos ou não pelo fogo”, afirmou Gervitz em entrevista por telefone.

Segundo ele, a Cinemateca está fechada desde junho do ano passado, e há cerca de duas semanas o governo havia concordado, como parte de um acordo judicial, reabrir o local com a incorporação de funcionários especializados para cuidarem do monitoramento e da preservação do acervo.

Segundo ele, os filmes precisam ser monitorados frequentemente por especialistas porque sofrem processos químicos com o passar do tempo que podem representar riscos à composição do material.

Procurado pela Reuters, o Ministério do Turismo, que abriga a Secretaria Especial da Cultura, não respondeu de imediato a um pedido de comentário.

Mas, segundo disse no Twitter o secretário especial de Cultura, Mário Frias, foi solicitado à Polícia Federal que sejam investigadas as causas do incêndio.

A origem da Cinemateca é de 1940, com a fundação do “Primeiro Clube de Cinema de São Paulo”, fechado no ano seguinte pelos órgãos de repressão da ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas. Cinco anos depois, um segundo clube é criado e, em 1956, o local se transforma na sociedade civil sem fins lucrativos Cinemateca Brasileira.

“O ouro da Cinemateca não é o prédio, mas seu acervo”, disse Gervitz. “Está depositada a nossa memória… Um povo sem memória é um povo que não sabe quem é.”

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