Terminou na terça-feira, 4, a 62ª cúpula do Mercosul. Com críticas ao acordo com a União Europeia e o Uruguai e recusando a assinar a declaração conjunta final, a reunião, que marcou o retorno do Brasil à presidência temporária do bloco, levantou mais dúvidas do que certezas. 

+Brasil assume presidência do Mercosul com desafio sobre o acordo com a UE

Resumo

  • Com uma postura de defesa a uma maior integração, o Brasil assume a presidência temporária do Mercosul;
  • Reunião ficou marcada por discordâncias econômicas, por conta do acordo com a União Europeia e o retorno da Venezuela ao bloco;
  • Ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero se mostrou descrente sobre a renovação do grupo.

“Nenhum governo foi capaz de ter ideias novas para o Mercosul, fazendo com que países como o Uruguai começassem a buscar novos caminhos”, criticou Ricupero. 

Após um momento de afastamento do Brasil da liderança regional, durante o governo Bolsonaro, o Itamaraty busca um novo caminho para a integração da região. Apesar de acreditar que o papel diplomático desse governo seja melhor do que o de Bolsonaro, Ricupero não acredita que o governo Lula tenha uma ideia de onde quer que o bloco chegue. 

“A gente ouve muita retórica, mas pouca ação prática. Eu não vejo, por parte do Brasil, ideias novas pro Mercosul a não ser essa da moeda própria, que é algo muito limitado”, afirmou. 

Acordo com a UE parado

Um dos desafios da presidência brasileira será o de destravar o acordo do Mercosul com a União Europeia.  O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o primeiro acordo sugerido pelos países europeus é “inaceitável”. 

Um dos pontos que mais gerou polêmica é que o acordo abre as portas das compras governamentais para o mercado externo.  “Eles querem que o governo brasileiro compre as coisas estrangeiras ao invés das coisas brasileiras. E se eles não aceitarem a posição do Brasil, não tem acordo. Nós não podemos abdicar das compras governamentais que são a oportunidade das pequenas e médias empresas sobreviverem nesse país”, disse Lula. 

Ricupero explica que será preciso entender até onde o Brasil vai com a renegociação deste acordo. “Não está muito claro até que ponto o Brasil quer chegar nessa negociação. Não é impossível que saia (o acordo), mas há um ponto de interrogação”, explicou. 

China como fator central

A aproximação com a China é um dos pontos que o Mercosul vai precisar abordar. O Uruguai já mostrou interesse em assinar um acordo de livre comércio com o gigante asiático, o que não seria possível por conta da presença uruguaia no Mercosul. 

O professor de economia da PUC-SP Augusto Caramico entende que a proximidade maior do governo Brasileiro com os chineses pode ajudar para que essa negociação avance. 

“O Lula já foi pra China e levou uma grande comitiva para marcar um antagonismo com os Estados Unidos. Hoje o governo é muito mais alinhado com os chineses, isso numa relação de Mercosul pode ser importante para estreitar as relações. Não é a prioridade mas está acontecendo”, ponderou. 

Eleição na Argentina pode mudar o rumo

A eleição na Argentina, que está marcada para o mês de outubro, também poderá alterar a rota do Mercosul. Hoje, o governo de centro-esquerda de Alberto Fernandez sofre com um alto nível de rejeição, o que pode complicar a vida do candidato da situação, Sergio Massa.  A oposição está dividida entre o prefeito de Buenos Aires Horacio Rodrigues Larreta e a ex-ministra de segurança, Patricia Bullrich.

“Dependendo de quem ganhar a eleição na Argentina, pode ser alguém com ideias diferentes da do Lula e mais próximo do Uruguai e do Paraguai. É muito prematuro falar do futuro do Mercosul na véspera de uma eleição tão decisiva na Argentina”, encerrou Ricupero.