DINHEIRO ? Por que a Sky quis entrar no vespeiro da banda larga?

LUIZ EDUARDO BAPTISTA ? Uns quatro anos atrás, chegamos à conclusão de que oferecer banda larga associada a serviços de televisão seria interessante para nós por uma questão estratégica. A banda larga é uma grande infovia. Seria bom para o nosso próprio negócio poder usar a mesma infraestrutura de banda larga para tráfego de sinais. Sabemos como fazer isso.
 

DINHEIRO ? A banda larga se tornou um dos temas mais polêmicos nos campos político e econômico. Concorda?

BAPTISTA ? Esse assunto está, de fato, muito politizado. Do ponto de vista técnico, existem, sim, formas de o governo fazer o setor crescer sem mexer demais na legislação. A polêmica é que não faz nenhum sentido o governo ficar segurando a evolução de um setor importante por razões que não são claras. Não existe uma divergência do que fazer no Brasil. Todos sabem o que fazer com a banda larga. A tese de que devemos democratizar a banda larga é consenso. Temos que aumentar a velocidade? Temos. Baixar preços? Sim. Nada disso condiz com o discurso que está aí.  
 

DINHEIRO ? O que precisa ser feito?

BAPTISTA ? Primeiro, é preciso mudar o marco regulatório para dar garantia aos investimentos das empresas. Segundo, o discurso de que as operadoras de celular pagaram uma fortuna por determinado espectro de frequência e precisam do retorno está superado. Até agora, a receita que as empresas tiveram é várias vezes superior ao que foi investido. Seja quanto tenha sido o investimento delas, todas já tiveram seus retornos. Por isso, achar que só a Oi tem condições de oferecer banda larga em todo o País é uma visão simplista e equivocada.
 

DINHEIRO ? Existe, aparentemente, uma preferência do governo pela Oi, que pediu R$ 27 bilhões em incentivos para entrar na banda larga. A Sky tem como comprar essa briga?

BAPTISTA ? Nós fazemos o mesmo, com mais qualidade, por R$ 15 bilhões, quase a metade do que meu xará Luiz Eduardo Falco pediu. A solução é mais simples e mais rápida do que tem se falado. Aí está um ponto polêmico. De duas, uma. Ou o governo toma uma decisão pró-cidadão, analisando qualidade e custo, ou opta por minimizar eventuais perdas de empresas que dizem ter investido no passado e que já ganharam fortunas em cima desse investimento.
 

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“Se um índio da Amazônia quiser tevê por assinatura, nós podemos levar até ele”
Índios brasileiros utilizando a internet
 

DINHEIRO ? De onde viriam esses R$ 15 bilhões? Apenas de incentivos?

BAPTISTA ? Qual foi o plano de incentivo fiscal que o governo lançou nos últimos 20 anos, seja do PT, seja do PSDB, exceto a redução recente e temporária do IPI? Não existe nem nunca existiu incentivo fiscal no Brasil. Isso é como a lenda da mula-sem-cabeça ou do boto cor-de-rosa, a gente escuta falar, mas não existe. Mas que fique claro: primeiro, R$ 15 bilhões são menos do que R$ 27 bilhões. Segundo, o investimento viria de recursos próprios da Sky. Poderia vir de parceiros, sim. Poderia vir de fundos de fomento, talvez. A função do BNDES é fomentar a infraestrutura. Não é concorrer com o Itaú ou com o Bradesco. Ou, quem sabe, numa terceira hipótese, poderia ser uma combinação dos três.
 

DINHEIRO ? Concretamente, se a Sky fosse escolhida, como bancaria o custo?

BAPTISTA ? Temos onde buscar dinheiro, se for preciso. Evidentemente, os recursos de BNDES são mais baratos. Mas a Sky não tem um centavo sequer de dinheiro público hoje. Nunca fez isso. Todo o dinheiro da empresa é próprio. O caixa é gerado pelo negócio e os investimentos têm dinheiro dos acionistas: 74% do capital é da DirecTV e 26% da Globo. A Sky tem um histórico de crédito que a habilitaria, se fosse o caso, a receber dinheiro de parceiros, de investidores ou até do BNDES.   
 

DINHEIRO ? Qual a diferença entre a tecnologia proposta pela Sky e a convencional? 

BAPTISTA ? Não há qualquer dúvida de que nossa proposta de banda larga tem qualidade superior às oferecidas pelas empresas de telefonia. Mostramos em Brasília nosso sistema Wimax para congressistas e para técnicos da Agência Nacional de Telecomunicações. Lá fizemos avaliações dentro de um carro a 80 km/h com uma conexão permanente de 10 megabits por segundo. No teste, estávamos assistindo a um vídeo do YouTube, fazendo uma videoconferência e fazendo download de um filme. Tudo isso é mais barato e com uma qualidade infinitamente superior. Se o objetivo é democratizar o acesso à banda larga no Brasil, não tenho a menor dúvida de que essa nossa proposta é a melhor opção.
 

DINHEIRO ? Qual a garantia dada ao governo de que a Sky será a melhor escolha?

BAPTISTA ? A melhor definição de insanidade é continuar fazendo as coisas da mesma forma e esperar resultados diferentes. Independente-mente de o governo vir a ter uma empresa estatal cuidando disso ou três empresas estatais tratando do assunto. Alguma coisa deve ser feita de forma diferente.
 

DINHEIRO ? O plano nacional da banda larga tem sido polêmico, e envolve questões econômicas e políticas. Como a Sky vê a disputa?

BAPTISTA ? Esse plano nacional de banda larga é excludente. Se o governo planeja um mercado de banda larga melhor, não pode limitar os serviços às operadoras que já estão aí. Basta olhar para trás e analisar se elas, as operadoras, fizeram aquilo que se propuseram a fazer. Não fizeram. Se não cumpriram no setor de telefonia celular aquilo que elas prometeram, por que elas cumpririam agora no setor de banda larga? O que garante que esses mesmos players vão entregar a banda larga? Quem acredita neles?
 

DINHEIRO ? Mas o setor de banda larga tem crescido muito com o acirramento da concorrência entre as operadoras.

BAPTISTA ? A concorrência da banda larga no Brasil existe exclusivamente pela atuação de uma empresa: a Net. Em todos os mercados em que há promoções é onde a Net está. Essa é a verdade. Prova de que a concorrência estimula um setor. Aonde a Net vai, as operadoras de telecom vão atrás. Do ponto de vista concorrencial, a entrada de novas empresas é fundamental. 
 

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“Podemos fazer o mesmo por R$ 15 bilhões, quase a metade do que o Falco, da Oi, pediu”
Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi
 

DINHEIRO ? E a volta da Telebrás?

BAPTISTA ? Uma coisa não briga com a outra. Eu não tenho uma visão crítica a esse respeito. Pode recriar a Telebrás, sem problemas. O que não defendemos é a concentração de um setor que precisa de concorrência. Além disso, mesmo que se recrie a Telebrás, o governo não conseguirá sozinho atender ao crescimento do mercado no ritmo que está.

DINHEIRO ? A preferência do governo pela Oi não se deve a uma visão mais nacionalista, de fortalecer uma companhia 100% brasileira?
BAPTISTA ?
Eu quero acreditar que não. Prefiro pensar que seja somente uma visão mais simplista. Não acho que escolher a Oi é mais simples. Todos nós temos escolhas de Sofia para fazer em nossas vidas. A Oi podia ter tomado, três anos atrás, a decisão de democratizar e universalizar a banda larga no Brasil. Não tomou. Investiram um caminhão de dinheiro na compra da Brasil Telecom. É uma decisão de negócio como qualquer outra. Legal. O governo aprovou. Certo, errado, justo ou injusta, não importa. A questão é que agora o governo considera que os únicos players possíveis de levar a banda larga a todo o País são as empresas atuais.

 
DINHEIRO ? As operadoras de telefonia têm investido pesado no mercado de tevê por assinatura. É o caso da Telefônica, com a TVA, e da Embratel, como o Via Embratel. A proposta de entrar no setor de banda larga é um contra-ataque?

BAPTISTA ? O que eu gostaria de destacar é o seguinte: por que as empresas de telecom, que não são pequenas nem frágeis, podem entrar em tevê paga e as empresas de tevê paga não podem entrar no mercado deles? Qual a razão disso? Essa pergunta deve ser colocada. É um contra-ataque, sim, porque não pode ter dois pesos e duas medidas no segmento. Aliás, não temos nenhum problema em concorrer com eles. Quem tradicionalmente não gosta de concorrência são eles. O DNA da Sky é de competição.
 

DINHEIRO ? As operadoras fazem lobby contra a Sky?

BAPTISTA ? Não sei. Mas essa ideia de reserva de mercado, impedindo que outras empresas entrem na concorrência, é coisa de empresas de telecom. É muito mais fácil fazer isso do que ter que concorrer, melhorar, baixar preços. As empresas de telefonia já concorrem com a gente há três anos. E a gente não tem permissão para concorrer com elas. Não me deixam vender banda larga.
 

DINHEIRO ? A Sky pretende entrar no setor de telefonia?

BAPTISTA ? Não está em nossos planos. A telefonia não é um desafio do Brasil. O que ainda precisa ser aprimorado é a banda larga. Achar que só a Oi tem condições de oferecer banda larga em todo o País é uma visão simplista e equivocada. Se um índio da Amazônia quiser tevê por assinatura, nós podemos levar até ele.

 

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