23/07/2010 - 6:00
DINHEIRO ? Quando as negociações para comprar as Lojas Maia começaram?
LUIZA TRAJANO ? As negociações começaram há dois anos, mas foram interrompidas. A decisão da compra surgiu apenas três meses atrás. É impressionante como as duas redes se parecem. Elas têm o mesmo perfil de clientes e histórias muito parecidas. Sempre quis ir para o Nordeste. Estamos muito satisfeitos pela presença forte da rede Maia no Nordeste, principalmente nos shoppings das capitais. Em alguns shoppings, a Maia tem lojas com tamanhos que variam entre 1,5 mil metros quadrados e 2 mil metros quadrados. Isso é muito difícil de conseguir, por isso temos certeza de que teremos o mesmo sucesso que alcançamos em outras regiões em praticamente um ano.
DINHEIRO ? Quando as lojas Maia passarão a adotar o nome do Magazine Luiza?
LUIZA ? Primeiro gostaria de dizer que essa não é a nossa primeira aquisição, já foram várias. Vamos continuar com a mesma estratégia que adotamos em outras ocasiões. Em agosto, quando assumirmos, vamos anunciar nas cidades onde as Lojas Maia estão que o Magazine Luiza comprou a rede. Continuaremos o nome Maia, mas, depois de um ou dois meses, colocaremos Lojas Maia + Magazine Luiza. Só trocaremos definitivamente pelo nosso nome quando a equipe de vendas entender exatamente o que é o Magazine Luiza. Acredito que isso acontecerá em um ano.
“Não é verdade que compramos a rede Maia para nos proteger da Máquina de Vendas”
Loja da Insinuante, na Bahia, que se associou à rede Ricardo Eletro criando a empresa Máquina de Vendas
DINHEIRO ? É verdade que a empresa foi comprada sem uma due diligence?
LUIZA ? Nós não compramos uma empresa sem fazer a due diligence. Como a rede Maia tem o balanço auditado pela Deloitte, a mesma que audita os nossos números, nossos diretores puderam analisar os números por mais de dois meses.
DINHEIRO ? De que forma a sra. acha que a compra das Lojas Maia mexeu com o mercado?
LUIZA ? O mercado recebeu bem. O Magazine realmente precisava entrar no Nordeste e a Loja Maia era uma ótima porta de entrada. Não foi um contra-ataque aos últimos acontecimentos, porque fazia dois anos que eu estava negociando a Maia. É apenas um crescimento natural da rede. Estamos comprando redes desde 1976. Com a compra, não estamos entrando nesse jogo de colocações.
DINHEIRO ? Analistas dizem que o Magazine Luiza fez a aquisição para se proteger de concorrentes como a recém-criada Máquina de Vendas, resultado da fusão entre Insinuante, Ricardo Eletro e City Lar. Foi isso?
LUIZA ? Não é verdade. O mercado faz muita especulação. E esses rumores começaram porque fui muito sincera, lá atrás, quando perdi o Ponto Frio e disse que estava de luto. Deveria falar que estava feliz? Não, eu não sou assim.
DINHEIRO ? Qual posição no mercado o Magazine Luiza alcança com a compra e com o faturamento beirando R$ 6 bilhões?
LUIZA ? Não sei, mas não me preocupo com a liderança. Por mais que as pessoas achem difícil de acreditar, aqui na empresa não existe essa competição de primeiro e segundo lugar. O que temos é uma empresa sustentável que cresce e se consolida, esse é o nosso objetivo. Tenho um respeito muito grande pela concorrência, grande ou pequena. Ninguém chegaria onde chegou se não fosse competente.
“O Magazine Luiza vai abrir o capital, mas na hora que acharmos ideal”
Operadores de corretoras na Bolsa de São Paulo
DINHEIRO ? Mas o Magazine Luiza terá que enfrentar gigantes como o Pão de Açúcar e Casas Bahia. Eles têm mais poder de barganha junto às fabricantes e com isso podem conseguir melhores preços finais. Isso complica?
LUIZA ? Exato, elas são empresas muito grandes mesmo. Eu acredito até que eles possam ter um poder de barganha melhor, mas nenhum fornecedor hoje tem a intenção de ficar na mão, nem do primeiro, nem do segundo, nem do terceiro. A solução deles é verticalizar. Até acredito que volume faz alguma diferença na hora da compra, mas a diferença desse volume deles com o dos outros ? e isso não é só em comparação a mim, mas em relação às outras empresas também ? não é tão grande assim como já foi em tempos passados.
DINHEIRO ? Como é a relação do Magazine Luiza com seus fornecedores?
LUIZA ? Nós temos cartas de parcerias desde 1995. Temos uma relação de ?ganha-ganha? com a maioria deles, supersaudável. Acreditamos que todos têm que sair ganhando em uma relação. Temos, inclusive, um respeito muito grande com os pequenos fornecedores. Eles têm que ganhar, nós temos que ganhar e o consumidor tem que ganhar.
DINHEIRO ? A sra. se arrepende de não ter comprado o Ponto Frio antes da concorrência?
LUIZA ? Não é que me arrependa, eu queria é ter comprado. Acho que foi uma oportunidade perdida. Todo mundo sabe que eu queria muito comprar o Ponto Frio. Mas, mesmo se eu tivesse comprado o Ponto Frio naquela oportunidade, eu teria comprado agora o Maia também. Eles são fortes em regiões diferentes.
DINHEIRO ? Como a sra. observa esse crescimento do consumo das classes C e D?
LUIZA ? Como cidadã, vejo de uma forma muito positiva porque a diferença entre classes sociais é ruim para todos. Como varejista, enxergo como algo importante porque são pessoas que têm acesso a bens que até então não podiam ter. Prova disso é que apenas 45% das pessoas têm máquina de lavar (roupas) no Brasil.
DINHEIRO ? O foco do Magazine Luiza hoje é justamente as classes C e D?
LUIZA ? Não, atingimos todos os públicos. Na internet, por exemplo, alcançamos as classes A e B.
DINHEIRO ? Mas no Nordeste o público que vocês atingirão será esse…
LUIZA ? Claro que as Lojas Maia têm esse público e queremos continuar com ele, mas queremos atender aos outros públicos do Nordeste também.
DINHEIRO ? Hoje, quase todas as redes de varejo têm o mesmo conceito, são muito parecidas. Como se diferenciar?
LUIZA ? Concordo com você, mas o Magazine Luiza tem algumas linhas a mais. Somos muito fortes em brinquedos e em utilidades domésticas e decoração. Outro grande diferencial são as campanhas inovadoras que depois o mercado todo acaba seguindo, como a Só Amanhã (anúncios de um produto com descontos durante um só dia). Criamos também um modelo de loja que é único no mundo, que são as lojas virtuais físicas (onde o consumidor faz a compra em computadores, mas em uma loja física, com a ajuda de vendedores). São 60 lojas com esse conceito, as primeiras surgiram em 1992.
DINHEIRO ? A empresa agora está conquistando o Nordeste. Qual será o próximo passo?
LUIZA ? É uma questão de oportunidade. Prova disso é que fomos para o Rio Grande do Sul antes mesmo de ir para Santa Catarina. Não posso lhe dizer “aqui eu não compro de jeito nenhum”, porque é uma questão de oportunidade. Mas o nosso foco hoje é primeiro consolidar o Nordeste. Isso porque são mais de 140 lojas e queremos fazer isso muito benfeito como fizemos no Sul.
DINHEIRO ? Mas, olhando para o futuro, o Rio de Janeiro está entre os seus principais alvos?
LUIZA ? O Rio de Janeiro é um foco, como o Espiríto Santo e Goiás também são. Mas, se eu abrir organicamente, darei preferência para o Rio de Janeiro. É um mercado interessante e, geograficamente, para nós seria bom estar lá. Ainda não entramos no Rio porque faltou oportunidade. Ir para lá é o meu sonho. Mas, ao mesmo tempo, não poderia ir para o Rio sem antes estar em São Paulo. Por isso a primeira opção foi abrir as 50 lojas simultaneamente na capital paulista. No Rio também teria que chegar no mínimo com 20 ou 30 lojas. Mas, organicamente, isso é mais difícil.
DINHEIRO ? A sra. está negociando novas aquisições?
LUIZA ? Não estamos negociando mais nenhuma rede. Quero deixar isso bem claro. Qualquer coisa que venha a ser falada diferente disso será pura especulação.
DINHEIRO ? A empresa já vem se preparando há algum tempo para abrir capital. Já existe uma data para isso acontecer?
LUIZA ? Não. Pode ser daqui a seis meses, um ano ou mais. Não sou pressionada para fazer isso por nenhum acionista da empresa nem por ninguém. O Magazine Luiza vai abrir o capital, mas na hora que acharmos ideal.
DINHEIRO ? Foi anunciado pelo próprio Magazine Luiza que a empresa espera alcançar o faturamento de R$ 15 bilhões até 2015. Quais as principais estratégias para alcançar essa cifra?
LUIZA ? Aquisições, crescimento orgânico, aumento das vendas via internet, criação de outros meios de vendas e negócios via internet. Um exemplo é a multiplicação das lojas virtuais, que hoje são 65, mas podem crescer muito rapidamente.