A discussão deveria ser meramente econômica: os dois estão em lados opostos quando o assunto é a transposição do rio São Francisco, projeto de R$ 4,5 bilhões. ACM fez carreira impondo que a idéia não sairia enquanto vivo ele fosse. Ciro Gomes, no Ministério da Integração Nacional, é o pai da nova empreitada pró-transposição. Decidiram se bicar, arranjando pretextos. O que se viu na semana foi um embate de coronéis dos tempos da República Velha. Ciro, cuja família comanda há 200 anos a cidade de Sobral, no Ceará, encarou Antônio Carlos Magalhães, cacique belicoso que há 40 anos se dedica a tentar controlar presidentes nos bastidores do poder. Desta vez, justiça seja feita, foi Ciro quem começou. Era noite de sexta-feira 18 e ele foi chamado ao púlpito do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo. Irritado, chamou de ?anão moral? o neto de Antônio Carlos, o deputado ACM Neto, 26 anos de idade e 1m60 de altura. ?Aquele tampinha que não tem coragem nem com a mão suja de cocô de bater em ninguém?, destemperou-se o ministro. Dias atrás, o jovem parlamentar ameaçara dar uma surra no presidente Lula. ?Ele fala que quer bater no presidente porque está covardemente indo à televisão protegido pelo microfone parlamentar?, acrescentou Ciro. Ao saber da história, o babalorixá baiano de 78 anos comprou a briga. Subiu à Tribuna do Senado para, em discurso solene, defender o neto e achincalhar o ministro. ?Ciro é um valente treme-treme: todas as vezes que foi testado, recuou?, disse. ?Ele pode vir atacar; se ele acha que o físico do ACM Neto é pouco, eu, na minha idade, estou pronto para enfrentá-lo e mostrar na terra dele que ele é covarde e desonesto?. Ciro e ACM, cada um a seu modo, têm biografias de brigões. Ciro tem uma língua de navalha; diverte-se em retalhar os adversários com adjetivos chulos. ?Sou bocudo e às vezes mal educado?, definiu-se, ele próprio, a um grupo de bispos brasileiros. ACM ascendeu na política ao encarnar um personagem antológico, o Toninho Malvadeza, desconcertante na sinceridade com os aliados e implacável na perseguição aos adversários. Criou a máxima de que se deve falar bem dos amigos todos os dias ? e mal dos inimigos duas vezes por dia. ACM sempre gostou de sair no braço.

É famoso o bofete público que desferiu em um general durante a ditadura, quando era prefeito de Salvador. Por trás do duelo está o projeto de transposição do rio São Francisco. Ciro, como se sabe, é o pai da transposição. ?Enquanto ficam todos conversando, vou fazendo a transposição?, disse ele dias atrás. ACM, por sua vez, lidera o bloco dos que são contra ? mas o debate,
embora emocional, vinha sendo travado de forma civilizada. Isso acabou. ?Há um assalto de milhares de reais preparado no projeto original do São Francisco?, acusa ACM. ?Vai haver conluio com os empreiteiros?. Procurada por DINHEIRO, a assessoria de Ciro Gomes disse que o ministro já disse tudo o que tinha a dizer. Toninho Malvadeza ? sim, ele está de volta ? prepara agora um dossiê sobre a vida pregressa do ministro da Integração. Está investigando as razões do ministro Ciro ter recebido R$ 450 mil de Marcos Valério. Também
acusa Ciro de ter arrumado um empréstimo para o Beach Park, de Fortaleza. ?Em troca, ele recebeu um mensalinho de R$ 25 mil mensais?, disse o senador, sem esconder a satisfação: ?Agora sim, voltei à ativa?.