O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que acredita que a economia brasileira pode crescer e ao mesmo tempo desacelerar a alta dos preços. A fala ocorre no dia seguinte ao anúncio de uma elevação de um ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, para 14,25% ao ano.

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“Eu não acredito que a gente precisa de uma recessão para abaixar inflação no Brasil. Acho que você consegue administrar a economia de maneira a crescer de forma sustentável sem que a inflação saia do controle”, afirmou Haddad durante o programa “Bom Dia, Ministro”, da EBC, nesta quinta-feira, 20.

O ministro havia sido questionado justamente sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) anunciada na véspera. Haddad não respondeu diretamente se concorda com o aumento dos juros, porém afirmou confiar no trabalho do Banco Central (BC).

“Nós temos uma tarefa que é debelar o aumento dos preços que houve, isso tem que ser feito pelo executivo e pelo BC independente”, disse. “Eu acredito que a equipe do BC vai fazer o trabalho corretamente para trazer essa inflação [para a meta], e nós vamos fazer nossa parte.”

O ministro afirmou assim que o governo continuará perseguindo sua meta de déficit primário zero para este ano. A desconfiança do mercado financeiro com as contas públicas são um dos motivos a pressionar por uma alta de juros, já que um prêmio maior passa a ser exigido para os investimentos nos títulos públicos.

Inflação e crescimento são desafios de Haddad

Os ajustes de juros são a ferramenta do BC para tentar atingir a meta de inflação, fixada atualmente em 3% ao ano, com margem de tolerância de um ponto percentual para cima ou para baixo. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, acumulou alta de 4,87%, após avançar 1,48%, no mês de fevereiro.

“Com os juros mais altos, o crédito encarece, o consumo desacelera e, teoricamente, a inflação tende a ceder. No entanto, essa medida também pode impactar negativamente o crescimento econômico, dificultando investimentos produtivos e aumentando o custo da dívida pública”, explica o CEO da Equity Group, João Kepler.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, tem defendido também que pode haver uma redução da inflação sem desacelerar a economia. “O Brasil vai crescer outra vez acima de 3%. É o país que mais tem crescido no mundo, praticamente. Tem um ou dois países que crescem mais do que nós. E vai continuar crescendo”, afirmou na quarta-feira, 19.

Em 2025, o BC já promoveu três elevações da taxa de juros sob comando de Gabriel Galípolo, indicado por Lula. Haddad destacou no entanto que os aumentos já estavam previstos em atas do Copom publicadas em dezembro, com o Copom ainda sob a gestão anterior, de Roberto Campos Neto. “Você não pode na presidência do BC dar um cavalo de pau”, disse Haddad.

Na ata de sua última reunião, no entanto, o Banco Central sinalizou que deve promover uma nova alta dos juros em sua próxima reunião, ainda que de menor magnitude. Segundo o comunicado, o tamanho do aumento será ditado “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.