O SOBRENOME RABINOVICH SEMPRE foi uma grife na indústria brasileira. A partir do nada, o patriarca Jaks criou em conjunto com um amigo, Mendel Steinbruch, aquele que já foi o maior grupo têxtil do País, o Vicunha. Durante décadas, o clã dedicou-se a uma atividade essencialmente industrial cujo foco era uma commodity e a regra do jogo chamava- se escala. Isso até 2005, quando a família vendeu sua metade na Vicunha para os sócios Steinbruch. Na ocasião, arremataram fortuna estimada pelo mercado entre US$ 700 milhões e US$ 1 bilhão. Desde então, os Rabinovich voltaram- se para a gestão de seus recursos financeiros – menos Eduardo, o filho de Jaks. Há pouco menos de dois anos, ele criou uma marca de calçados femininos para as consumidoras de alto poder aquisitivo, a Zeferino. Agora, dá um outro e importante passo nessa direção. Por um valor não revelado, acaba de adquirir 50% da Paula Feber, cujos sapatos calçam público semelhante ao da Zeferino. Mais: em alguns meses, Rabinovich anunciará a incorporação de outra grife do mesmo segmento. Nessa nova etapa de sua vida, Rabinovich percorre um caminho oposto ao da Vicunha. Em vez de industrial, tornou-se um gestor de marcas. No lugar de commodities, cuida de produtos personalizados. E a escala cedeu espaço a pequenos volumes com alto valor agregado. Pela própria natureza do negócio, Rabinovich abriu mão das estruturas gigantescas. “Não quero ser grande”, afirma ele. “Não quero um negócio de capital intensivo.”

O objetivo de Rabinovich é transformar sua holding, a ER, em uma gestora de marcas de calçados de luxo. A idéia surgiu principalmente de conversas com Paulo Borges, o homem da São Paulo Fashion Week, e de sua própria experiência na Vicunha. “Anos atrás, eu recebia estilistas hoje famosos pedindo patrocínio e até tecido para seus desfiles”, conta ele. “E pensava: ‘puxa, há muito talento na moda brasileira, pouco capital e pouca gestão’. Ali estava uma grande oportunidade de negócios.” E por que sapatos? Rabinovich responde: “Porque na área de confecções já existe muita gente. Em sapatos, há muito mais espaço.” A partir daí, Rabinovich comprou uma fábrica artesanal em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, e colocou no ar a Zeferino.

Hoje, a marca possui cinco lojas, uma delas no Shopping Iguatemi, o templo do consumo de luxo em São Paulo. A Paula Feber mantém quatro pontos-de-venda, inclusive com presença no Shopping Cidade Jardim, o novo endereço comercial dos endinheirados da capital paulista. Nos próximos cinco anos, Rabinovich pretende ter a bandeira das duas grifes em até 17 diferentes locais. Mas nunca as marcas estarão juntas. “Embora atinjam o mesmo público, as coleções de cada uma delas têm perfil diferente”, diz Paula Feber, uma ex-modelo formada em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas. “O uso dos calçados Zeferino é mais noturno, enquanto os de minha marca são voltados para o cotidiano.” O preço médio das duas marcas, porém, se equivale: algo em torno de R$ 700. A sinergia entre as duas empresas se dará naquilo que o consumidor não vê. A fábrica onde os calçados Zeferino são produzidos, adquirida tempos atrás por Rabinovich, também abrigará parte da manufatura de Paula Feber. Os contratos com fornecedores serão unificados. Idem para a negociação de pontosde- vendas e espaço na mídia. No futuro, a gestão de ambas poderá estar sob o mesmo teto.

A associação com Rabinovich liberará Paula para se dedicar mais à criação e ao design do que à gestão do negócio. “Sempre procuro incluir elementos tipicamente brasileiros em minha coleção”, diz ela. Recentemente, lançou produtos com temáticas voltadas para sua família. A paixão do filho por futebol inspirou calçados com detalhes presentes em chuteiras. A dedicação da filha ao balé gerou traços de sapatilhas nos produtos desenhados por ela. A união com a ER também pode ser a oportunidade de expandir a atuação das duas grifes para outros campos, como confecções. “A Paula já tem alguma coisa em suas lojas”, afirma Rabinovich. “No futuro, talvez coloquemos algum foco nessa área.”