07/02/2014 - 21:00
Já faz algum tempo que a mídia internacional vem bombardeando o Brasil com reportagens negativas. Publicações respeitadas como as britânicas The Economist e Financial Times, ou como as americanas The Wall Street Journal e The New York Times não se cansam de afirmar que o País passou a ser um lugar inseguro, com quebra de contratos e desempenho econômico medíocre. Há verdades e equívocos nessas informações que, repetidas à exaustão, se transformam exclusivamente em verdades. Porém, só consegui ter a dimensão da insatisfação estrangeira ao assistir, no mês passado, a um seminário promovido pela Coface, seguradora francesa de crédito para a exportação, em Paris.
Antes mesmo de o evento começar, a piada entre os participantes era de que o ano já estava perdido no Brasil. O motivo era a tríade Carnaval, Copa do Mundo e eleições. Não se pode negar, no entanto, que o governo federal deu uma inestimável contribuição para a construção dessa imagem incômoda. Mudá-la é possível, mas não será fácil. “O Brasil tem excelentes oportunidades”, dizia um dos investidores. “Pena que o governo mexa tanto nas regras e não respeite contratos.” Questionado sobre os supostos erros, o estrangeiro destacou as mudanças no setor de energia, no ano passado, que resultaram numa queda das tarifas.
Por mais que as autoridades expliquem que não houve rompimento de contrato, o selo negativo grudou na imagem brasileira. Como diria o filósofo holandês Baruch Spinoza: “Nem rir nem chorar. Apenas compreender.” A tentativa do Planalto de limitar os lucros dos empresários nas concessões de logística também não foi assimilada com naturalidade pelos críticos internacionais. E pior: a infraestrutura deficitária no Brasil – uma realidade, frise-se – é constantemente ressaltada. Durante o almoço oferecido aos participantes do seminário, um analista alemão comentava comigo que tinha vontade de assistir à Copa no Brasil, mas receava enfrentar graves problemas nos aeroportos.
Ok, nossos aeroportos são bem ruins, mas inviabilizam uma viagem? Preferi não argumentar. Quando o assunto virou segurança pública, dei sorte: já estava na hora de retornar ao auditório. Outro ponto muito criticado pelo mercado financeiro é a derrocada de Eike Batista. É nítida a raiva que os gestores nutrem das promessas fantasiosas do ex-multibilionário, principalmente na área de petróleo. Eles acham que o governo brasileiro deveria ter agido, mas, na verdade, a falha mais grave foi cometida pelos órgãos reguladores, como a Comissão de Valores Imobiliários (CVM). Embora o vexame envolvendo Eike seja uma questão privada, a imagem pública do Brasil, infelizmente, saiu chamuscada desse episódio, com um prejuízo incalculável.
Foi na parte final do evento, no entanto, que ficou claro que o Brasil está sendo escanteado do jogo. O economista-chefe do Citibank para a Comunidade Andina, Munir Jalil, subiu ao palco com a missão de destacar as oportunidades da região. Deixou bem claro que o Peru, do Sendero Luminoso e de Fujimori, e a Colômbia, das Farc e de Pablo Escobar, têm instituições fortes e que funcionam, o que dá tranquilidade para quem quer investir. Na América do Sul, concluiu, eram as melhores apostas. Ao término do evento, já na fila da chapelaria, eu provoquei um executivo francês: “Qual imagem o sr. ficou do Brasil após esse evento?” E a resposta: “A Argentina está muito pior, né?” Que consolo…