DINHEIRO – O sr. acredita que o nível de consciência ecológica poderá determinar, no futuro, a sobrevivência de uma corporação industrial?
RAJ GUPTA – Não creio que cheguemos a este ponto. A nossa empresa, por exemplo, começou a apostar em produtos ecológicos há 15 anos, mas nunca usamos isso como bandeira de marketing. Não estou convencido de que o mercado aceite pagar um valor adicional apenas porque determinado produto exibe um selo verde. Os consumidores, especialmente nos Estados Unidos, têm uma mente muito orientada para a questão custo-benefício.

DINHEIRO – Mas o governo da Califórnia criou uma série de leis e regras para forçar empresas e consumidores a serem ecologicamente corretos. O sr. acredita em legislações restritivas?
GUPTA – É fato que consumidores e legisladores estão mais conscientes sobre os efeitos das mudanças climáticas. E isso é positivo. Contudo, não acho que exista uma forma única de lidar com esta situação. A Califórnia, e nisso o governador Arnold Schwarzenegger está fazendo um bom trabalho, vem liderando esse debate. A União Européia também colocou esse tema no topo de suas prioridades. Mas não acredito que essa questão será resolvida dessa forma.

DINHEIRO – Por quê?
GUPTA – Simplesmente porque, ao contrário do que diz o senso comum, as indústrias não são as vilãs do aquecimento global. Apenas um terço das emissões de gases que geram o efeito estufa é decorrente do setor produtivo. O restante deve ser debitado, em igual proporção, na conta de residências e da frota de automóveis. Por isso, creio que precisamos adotar uma abordagem múltipla para resolver esse problema. E isso passa pela adoção de fontes alternativas de energia que, em função do elevado custo, precisam ter seus custos subsidiados pelos governos por um longo período.

DINHEIRO – Causa-lhe desconforto o fato de o setor químico ser apontado como um grande poluidor?
GUPTA – Isso não condiz com a realidade. As empresas químicas são uma das que mais investem na segurança de seu processo produtivo. E isso vale tanto para o que acontece do portão para dentro quanto do portão para fora. Infelizmente, alguns trágicos acontecimentos – como o ocorrido em Bopal (Índia), na década de 70, ou na França e no Texas (EUA), mais recentemente – ajudaram a disseminar uma impressão errônea do setor. Nós convertemos combustível fóssil em uma infinidade de produtos importantes para a vida das pessoas. Nessa lista estão desde produtos eletrônicos e medicamentos até brinquedos.

DINHEIRO – O sr. diria, então, que o setor químico perdeu a “batalha da comunicação”?
GUPTA – Não resta dúvida de que as companhias do setor precisam cuidar um pouco melhor da própria imagem, mostrando o que fazem e os cuidados que tomam para que a produção seja cada vez mais limpa. Quando presidi o Conselho Americano das Indústrias, no início da década, lancei uma campanha de mídia, orçada em US$ 30 milhões, mostrando o quão nosso setor era vital em vários aspectos da vida das pessoas. A mensagem era baseada nos produtos que fazemos e em como isso ajuda as pessoas. Mas eu tenho consciência de que não se muda o senso comum de uma hora para a outra.

DINHEIRO – E como a Rohm and Haas está lidando com essa questão?
GUPTA –
Primeiro é preciso deixar claro alguns pontos. Somos uma empresa que tem por base a inovação.

Fomos nós que viabilizamos a produção de tintas à base de água, substituindo o solvente. Fizemos isso há 15 anos. Por isso, não é exagero quando dizemos que a Rohm and Haas é a marca por trás da tinta acrílica. Nossas pesquisas também incluem a substituição de metais pesados por componentes orgânicos em vários insumos usados no segmento de cosméticos.

DINHEIRO – O sr. está dizendo, então, que a empresa se antecipou à onda do ecologicamente correto?
GUPTA – Acreditamos que a adoção de tecnologias inovadoras para substituir materiais altamente poluentes era vital para o nosso negócio. Por isso que trabalhamos continuamente para substituir elementos considerados indesejáveis pela sociedade. Além disso, a responsabilidade ambiental sempre foi um pilar de nossa filosofia empresarial, mesmo antes da preocupação com os efeitos das alterações climáticas na vida das pessoas.

DINHEIRO – E como isso é feito?
GUPTA – Através de investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento. Um em cada sete funcionários da empresa está envolvido com esse setor. Além disso, as inovações com viés ecológico consomem metade dos US$ 300 milhões que gastamos anualmente com pesquisa.

DINHEIRO – E qual mensagem o sr. veio trazer aos executivos da subsidiária brasileira?
GUPTA – Visito o Brasil a cada três anos. Dessa vez vim conversar com clientes e conhecer de perto o que está sendo feito para atingir a meta que traçamos de dobrar de tamanho, globalmente, até 2010. E pelo que vi até agora acho que eles vão dar conta do recado.

Uma boa amostra disso é que nos últimos cinco anos aumentamos nosso tamanho oito vezes para US$ 100 milhões, no Brasil.

DINHEIRO – E como a Rohm and Haas está aproveitando as oportunidades que surgem nesse mercado?
GUPTA – Nossos focos são as áreas de construção civil, cuidados pessoais, mineração e agricultura. Em todos eles estamos crescendo a uma taxa muito superior à média dos principais concorrentes. Um bom exemplo é na construção civil, que responde por 40% das receitas da filial e na qual avançamos 12% no ano passado.

DINHEIRO – Quais são as áreas prioritárias nos demais países onde a companhia atua?
GUPTA – Temos 100 fábricas espalhadas por 27 países e vendemos nossos produtos em cerca de 80 nações. Vemos alguns países da Ásia – a China, a Índia e a Coréia do Sul – como importantes. Mas isso não significa que estamos descuidando da Europa Central e da América Latina. Os mercados emergentes são importantes porque nessas regiões os governos vêm dando um grande impulso ao segmento de infra-estrutura, nicho que garante uma fatia de 30% de nossas vendas anuais ou US$ 2,5 bilhões.

DINHEIRO – E como o sr. avalia o desenvolvimento da economia brasileira? O País está no rumo correto?
GUPTA – Vendo sob o ponto de vista do sucesso da nossa filial, acho que sim. Mas, no geral, a economia também se mostra mais estável do que há alguns anos e as perspectivas a médio prazo são muito boas.

DINHEIRO – Recentemente, a Rohm and Haas comprou a divisão de películas para telas de cristal líquido (LCD) da Kodak. Qual a importância dessa transação?
GUPTA – Acredito que a indústria eletrônica deverá continuar experimentando um período de elevado crescimento. Já é o segundo setor mais importante para as vendas da Rohm and Haas, gerando 20% das receitas globais. A Kodak detinha patentes de processos vitais para o bom funcionamento das telas de LCD, no que se refere à qualidade da imagem. Sem contar que estamos falando de um mercado que movimenta US$ 100 bilhões em todo o mundo.

DINHEIRO – O sr. não teme que as TVs de LCD, hoje produtos sofisticados, se transformem em commodities?
GUPTA – Isso vale para apenas uma parte do processo produtivo. Os insumos “comoditizados” respondem por cerca de US$ 40 bilhões do faturamento global do setor. São itens cujo preço desaba 10% a 15% a cada ano. Nós entramos na faixa premium deste mercado que gira em torno de US$ 15 bilhões por ano. São componentes que definem a performance do aparelho e fazem com que os fabricantes de TV possam cobrar mais pelos aparelhos. Não é à toa que nossos concorrentes em película são corporações do porte de 3M, Konica e Fuji. Fomos atrás da melhor tecnologia disponível para competir em igualdade de condições.

DINHEIRO – Mas, se é tão importante assim, por que, na sua avaliação, a Kodak desistiu dessa área?
GUPTA – O ideal é você fazer esta pergunta a eles. Mas, do meu ponto de vista, acredito que eles optaram em concentrar a atuação nas área de filmes e câmeras. Não é segredo que a tecnologia de foto digital causou um abalo nas finanças da empresa e eles estão tentando superar os problemas saindo de áreas que não consideram vitais. Uma delas é o segmento de insumos para monitores de plasma, que exige pesados investimentos feitos de forma contínua.

DINHEIRO – Quanto a Rohm and Haas pretende investir neste ano e qual a fatia do Brasil neste bolo?
GUPTA – Aplicamos anualmente US$ 450 milhões em vários segmentos, incluindo a ampliação da produção. Na América Latina, região que representa 6% dos nossos negócios, serão gastos US$ 25 milhões. Mas podemos ampliar esse montante caso haja necessidade.

DINHEIRO – E quanto o sr. separou para futuras aquisições?
GUPTA – Nosso orçamento anual nessa rubrica é de US$ 500 milhões. Não atingimos essa meta nos últimos três anos, mas penso que este ano vamos chegar lá. Depende das oportunidades que surgirem.

DINHEIRO – O sr. está de olho em alguma companhia aqui no Brasil ou nos demais mercados emergentes nos quais a Rohm and Haas atua?
GUPTA – Nesse momento não. A compra de empresas é apenas uma parte de nossa estratégia. Nossa prioridade é o crescimento orgânico, baseado no fortalecimento das áreas nas quais somos mais competitivos. Temos uma obsessão com desempenho. Daí o prestígio do Brasil, onde temos crescido na faixa de até 12%, dependendo do produto.