24/04/2002 - 7:00
DINHEIRO ? O sr. tem sido acusado de populista pelos adversários. Jaime Lerner, do Paraná, chegou a compará-lo ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O que tem a dizer sobre isso?
ANTHONY GAROTINHO ? Não sou populista, sou popular. Um governo que negociou a dívida do Rio de Janeiro de forma brilhante, sendo até reconhecido pelo ministro Pedro Malan, que teve a maior taxa de crescimento econômico e apresenta a menor taxa de desemprego do País, e ainda proporcionou incentivos fiscais para setores estratégicos não é um governo populista. É um governo popular, que se preocupa com o desenvolvimento econômico, mas não esquece o povo.
DINHEIRO ? O sr. anunciou que uma de suas prioridades é aumentar o salário mínimo para R$ 280,00 em 2003 e R$ 400,00 em 2004. Com que recursos faria isso?
GAROTINHO ? Eu entendo que o governo atual ache que não é possível aumentar despesas desse modo. A lógica dominante é cortar despesas para pagar dívidas. Mas assim o País não cresce. A minha lógica é fazer o Brasil crescer a ponto de termos um superávit tal que possibilite o pagamento de dívidas sem sacrifícios para o povo. Eu faria como fiz no Rio de Janeiro. Aumentei o salário mínimo para R$ 240,00 e fixei o menor salário de servidor público em R$ 400,00. Não houve desemprego e também não vi empresa alguma ir embora do Estado. O paradigma do governo Fernando Henrique é o da estagnação. Só existem dois mecanismos de distribuição de renda. Um é pelo aumento dos impostos. Isso o País não agüenta mais. O outro meio é pelo aumento de salários. É aí que eu entro.
DINHEIRO ? O sr. também promete baixar os juros de forma drástica.
Não é demagogia?
GAROTINHO ? Digo que hoje, de
cara, seria possível baixar de quatro a cinco pontos porcentuais. Daí para baixo, é preciso fazer tudo lentamente, negociando com o mercado. De pronto, dá para tirar essa gordura desnecessária. Depois, com o crescimento da economia, com uma política de exportação mais agressiva, vamos produzir um superávit
na balança comercial tão grande que vamos poder chegar no terceiro, no
quarto ano de governo, com taxas de juros que ficariam, no máximo, 4 ou 5 pontos acima da inflação.
DINHEIRO ? O sr. já falou que gostaria de ver o povo contribuindo com um real para a sua candidatura. O sr. dispensa as contribuições de empresários?
GAROTINHO ? Numa campanha popular, temos de envolver a participação popular. O meu governo no Rio de Janeiro ficou
marcado pelos projetos associados ao valor simbólico de R$ 1,00. Teve hotel e restaurante por esse preço. Agora, eu quero fazer a campanha do R$ 1,00. A quem quisesse contribuir comigo, eu daria um bônus de R$ 1,00. Pensei nisso para que o povo se sinta atuante na minha campanha. Aceito a contribuição de empresários, também. Os únicos empresários dos quais eu não quero aceitar contribuição são os banqueiros. Esses ganharam muito dinheiro sem trabalhar direito na era Fernando Henrique. Posso dizer que tenho o apoio dos que perderam no período, gente dos setores de serviço, da indústria e do comércio. Pessoas que passaram por problemas enquanto os bancos ganharam.
DINHEIRO ? Como o sr. faria o País crescer?
GAROTINHO ? O Brasil cresceria 5% ou 6% ao ano. É a taxa necessária para gerar a quantidade necessária de empregos.
Isso viria por meio de créditos. Eu encarregaria as instituições
de crédito oficiais de financiar o setor produtivo e diminuir o
depósito compulsório para que os próprios bancos privados possam oferecer mais crédito. O governo tem muito dinheiro no BNDES, na Caixa Econômica, no Banco do Brasil. Só que aplica mal esses recursos. É preciso dirigi-los para setores estratégicos. O crédito
é a alavanca do desenvolvimento em qualquer país do mundo. Não é à toa que os Estados Unidos têm como base o crédito. E faria parceria com empresas para criar condições econômicas sólidas
para o País crescer.
DINHEIRO ? Que tipo de reforma tributária o sr. defende?
GAROTINHO ? Eu simplificaria os impostos. Temos impostos demais e receita de menos. Podemos ter hoje quantidade menor de impostos, com alíquotas menores, com uma base maior. O melhor imposto é o menor imposto pago por uma base maior. Eu também acabaria de vez com a CPMF. Essa história de que a CPMF tem a importância adicional de possibilitar o rastreamento de sonegadores é besteira. Quem tem de fazer isso é a Receita Federal e a polícia. O aumento do IOF anunciado pelo ministro Malan nesta semana para compensar a falta temporária da contribuição só reforça a imagem de voracidade associada ao governo Fernando Henrique. Para mim, a imagem mais associada ao atual governo não é a do tucano, mas sim a do leão da Receita Federal.
DINHEIRO ? E o que o sr. faria
para substituir a arrecadação de
R$ 8 bilhões gerados pela CPMF?
GAROTINHO ? Está provado que toda vez que você diminui a alíquota de um imposto, você aumenta a arrecadação. Vou dar um exemplo: no Rio de Janeiro o querosene de aviação era taxado em 37%. O resultado era que os aviões se abasteciam em São Paulo. Eu diminuí para 18%. O setor que arrecadava nada passou a arrecadar R$ 20 milhões. O setor produtivo brasileiro sabe disso.
DINHEIRO ? E quanto à reforma
na Previdência?
GAROTINHO ? Com uma alíquota menor de contribuição, eu incentivaria a incorporação de todo mundo que está fora da Previdência. Hoje, para cada trabalhador que não tem carteira assinada, temos outro que trabalha na informalidade. Com o salário mínimo de R$ 400,00, viria o reaquecimento da economia, gerando dois milhões de novos empregos por ano. Seriam dois milhões de novos contribuintes para a Previdência. Seriam 50 milhões de brasileiros tirados da indigência que iam passar a consumir, movimentando a cadeia de produção. Outra coisa: todo mundo teria que ganhar benefício compatível com a contribuição feita ao longo dos anos. Quem contribuiu com dez salários, receberia dez salários, quem contribuiu com dois, receberia dois. O que não pode é acontecer o que vemos hoje. Pessoas que contribuíram a vida inteira com cinco salários, recebendo dois. Isso é garfar o dinheiro do contribuinte.
DINHEIRO ? O sr. foi acusado de haver deixado um rombo de R$ 1 bilhão no governo do Rio de Janeiro…
GAROTINHO ? Quem disse isso foi a nova governadora do PT, Benedita da Silva, e ela está errada. Eu deixei em caixa
R$ 1,3 bilhão. Ela hoje está reconhecendo que errou.
DINHEIRO ? Qual seria sua política industrial?
GAROTINHO ? Eu colocaria os organismos brasileiros para financiar todos os setores onde o Brasil tem déficit na balança comercial. Priorizar esses setores como o de eletroeletrônicos e produtos químicos. Criaria no Brasil uma indústria capaz de ter competitividade internacional. Fortaleceria o investimento em ciência e tecnologia para dar capacitação às nossas indústrias. Quero repetir o sucesso industrial dos governos de Juscelino Kubitschek e de Getúlio Vargas. Admiro Juscelino, pela visão empreendedora que ele tinha, e Getúlio Vargas, porque ele foi eficiente em desenvolver a indústria brasileira.
DINHEIRO ? O sr. faria revisão de contratos firmados com empresas estrangeiras?
GAROTINHO ? Não tenho nenhum problema de sentar na mesa com alguém para discutir pontos com os quais eu não concordo e tentar renegociar. Mas eu respeito os contratos. No Rio de Janeiro, o que mudou teve o consentimento das empresas. Um exemplo foi o caso da Peugeot Citroën. O Rio de Janeiro estava fazendo um programa de privatização, vendendo empresas, e virou sócio de uma montadora de automóveis com 33% de participação. Diferentemente do PT, que expulsou a Ford do Rio Grande do Sul, eu honrei o contrato, porém depois de renegociar, eu fiz um acordo com eles. No contrato, dizia-se que o Estado não podia sair da sociedade da empresa por dez anos e eu tirei isso. Eu disse: quero que o Estado saia no primeiro dia em que a fábrica botar o primeiro automóvel na rua. O Estado não tem papel de ser sócio de montadora de automóvel. Os franceses toparam, hoje a fábrica está no Rio. É questão de negociar.
DINHEIRO ? Como agiria na questão do comércio exterior?
GAROTINHO ? Eu abriria o leque de parceiros comerciais. China, Índia, Japão, Europa, os outros países do Mercosul, além dos Estados Unidos. Veja o mau exemplo da Argentina. Como ela tinha cerca de 30% de suas exportações direcionadas para o Brasil, quando o Brasil desvalorizou nossa moeda, a Argentina foi à bancarrota. Globalização só tem sentido se for uma via de mão dupla. Se eles forem generosos e mantiverem seus mercados abertos, nós faremos a mesma coisa. Se eles colocarem taxas em cima de produtos brasileiros, nós fazemos o mesmo com eles. Isso serve tanto para os Estados Unidos como para a Europa em relação aos nossos produtos agrícolas. O que falta hoje ao governo brasileiro é posicionamento firme nas negociações internacionais. Não é só recorrer à Organização Mundial do Comércio. Porque os Estados Unidos, ao taxar o aço brasileiro, sabem que nós podemos recorrer. Então o Brasil tinha que estar taxando produtos americanos. O Brasil já foi a oitava economia do mundo, mas, pela incompetência do governo, caiu para a décima primeira.
DINHEIRO ? Diminuição de taxa de juros, política industrial agressiva, intensificação das exportações são pontos comuns aos discursos de todos os candidatos, não?
GAROTINHO ? Não concordo. Até acho que os petistas e os tucanos estão bem parecidos. Economia para mim não é fim, é meio para se chegar à justiça social e à distribuição de renda.
DINHEIRO ? O sr. teme mais o José Serra ou o Lula nesta disputa pela Presidência?
GAROTINHO ? Não tenho dúvida de que vou continuar
subindo nas pesquisas porque o País está vendo que fiz bom
governo no Rio de Janeiro e posso repetir a experiência em escala nacional. O Serra representa o continuísmo da política que resultou numa economia estagnada. Quem tem medo de mim é o Serra, que não tem o reconhecimento da população. E acho que toda noite o Lula vai dormir tendo pesadelo comigo. O candidato petista sabe que se chegar no segundo turno com o Serra, não terá grandes problemas para vencê-lo. Mas ele sabe que se chegar lá comigo, a história será outra.
DINHEIRO ? O sr. está flertando com o PFL depois da saída de Roseana Sarney?
GAROTINHO ? Eu tenho um programa econômico e, se o PFL estiver disposto a assinar meu programa, não há nenhum problema. Eu não trabalho com pessoas, eu trabalho com projetos.