Pela primeira vez desde que passou a ocupar o cargo, há uma semana, o  presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA),  rechaçou publicamente a possibilidade de abandonar a função. “Não tem  renúncia. Sem renúncia”, declarou na manhã desta sexta-feira, 13, ao  chegar a seu gabinete.

Com pressa, Maranhão atravessou o  Salão Verde da Câmara escoltado por seguranças e, como de costume,  tentou evitar o contato com os jornalistas. Economizando palavras, o  substituto do presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) alegou apenas  que “é preciso administrar o País”.

Maranhão vem sendo  pressionado por líderes partidários a abdicar da presidência. DEM, PSDB e  PPS avaliam que o pepista não tem condições de presidir a Casa,  principalmente após a tentativa de anular a votação do impeachment da  presidente Dilma Rousseff, afastada ontem pelo Senado. Na quinta-feira,  12, Maranhão ignorou o ultimato dado pelas siglas para anunciar sua  renúncia. Agora, os partidos buscam alternativas para destituí-lo.

“Rainha da Inglaterra”

Como revelou o Broadcast Político,  os partidos do chamado “centrão” (PTB, PSD, PR) passaram a discutir a  possibilidade de aceitar a permanência de Maranhão na presidência, desde  que os membros da Mesa Diretora conduzissem os trabalhos, deixando-o  ”reinando”, mas sem poder de “governar”. Assim, o pepista seguiria na  função, mas sob orientação principalmente de Mansur. As sessões  plenárias seriam presididas por Mansur e a pauta de votações coordenada  pelos líderes.

Além de não criar problemas para o  presidente em exercício Michel Temer, a avaliação é que a proposta dos  partidos do “centrão” tem por trás o presidente afastado da Casa,  Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tentaria assim manter o controle sobre os  rumos da Câmara. PSDB, PPS e DEM rechaçam a proposta. Os partidos que  apoiavam o governo Dilma afirmam que não aceitarão qualquer tentativa de  destituição do pepista que não seja pela via da cassação de Cunha. Com o  peemedebista cassado, seria possível fazer uma eleição imediata para a  presidência da Câmara.

Preocupado com a tensão política na  Câmara e o comprometimento da votação de matérias importantes para o  início de governo do PMDB, o novo ministro da Secretaria de Governo,  Geddel Vieira Lima, pretende procurar os líderes partidários para  negociar uma trégua de 15 dias na pressão pela renúncia do presidente  interino da Câmara. Em conversas com líderes da nova base aliada do  governo, o presidente da República em exercício pediu uma solução rápida  para a situação de Maranhão e manifestou o desejo de que a normalidade  na Câmara seja restabelecida.

Pressão 

O  DEM demonstra pouca disposição em aceitar Maranhão no cargo. A  insatisfação cresceu após o segundo-vice-presidente da Câmara, Fernando  Giacobo (PR-PR), não aparecer na quinta-feira para despachar ao Conselho  de Ética o pedido de abertura de processo por quebra de decoro  parlamentar.

Maranhão é acusado de abusar das  prerrogativas de membro do Congresso Nacional ao assinar a anulação da  votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara. Giacobo  não deu sinais de que pretende assinar a representação, que vinha sendo  usada como forma de pressão sobre Maranhão.

Em retaliação, o  líder do DEM, Pauderney Avelino (AM) avisou que já tem preparada a  questão de ordem que será apresentada em plenário na próxima  terça-feira, 17, e a consulta à Comissão de Constituição e Justiça para  declarar a presidência da Câmara vaga. Com o impasse, Maranhão ganha  sobrevida até a próxima semana.