04/09/2019 - 12:30
A decisão do PSB de condenar publicamente violações a direitos humanos do governo de Nicolás Maduro na Venezuela foi uma resposta a cobranças internas e da sociedade, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo o presidente da sigla, Carlos Siqueira. Segundo ele, o país vizinho tem características de regime autoritário.
Já o desligamento do Foro de São Paulo, diz, foi uma mera formalização, já que o partido não participou das últimas três edições. Nesta entrevista, Siqueira também critica o presidente Jair Bolsonaro e o compara a Maduro – para ele, o presidente brasileiro também não respeita a democracia. A seguir os principais trechos da entrevista:
O que levou o partido a repudiar as violações de direitos humanos na Venezuela?
O PSB tem na sua base a ideia do socialismo democrático, ou seja, plural. Diferentemente do stalinismo, a nossa ideia, na fundação do partido, foi crítica ao socialismo autoritário. Nunca tivemos relação com o governo Hugo Chávez ou com Nicolás Maduro, nunca tivemos uma reunião com o partido socialista da Venezuela. Ao mesmo tempo, estávamos sendo cobrados sobre por que a gente não dizia nada sobre isso. Achei que as pessoas tinham razão. (O governo Maduro) não tem nada a ver com o socialismo.
Acha que a Venezuela vive uma ditadura?
Embora tenha um presidente eleito, a eleição em si, apesar de indispensável, não garante que a Venezuela seja um regime democrático. O país hoje tem as características próprias de um regime autoritário: a existência de presos políticos e a ausência de liberdade de expressão. Esse é um pouco o risco que nós, brasileiros, corremos, já que elegemos um presidente que não respeita a democracia, elogia torturadores e desrespeita a imprensa.
O que levou à saída do Foro de São Paulo?
Há três edições, o PSB não participa. Os partidos socialistas da América Latina têm uma visão crítica do Foro. Quando participamos, não tínhamos uma identidade. Então, decidimos que, já que estamos fora na prática, seria melhor oficializar.
Quais são as críticas que fazem ao Foro?
A sua condução sempre foi bastante centralizada, não permitia uma discussão mais aberta sobre a conjuntura latino-americana. Fomos nos desanimando com isso e abandonando ao longo do tempo. Temos construído uma relação fora desse âmbito. Entramos na Aliança Progressista, uma articulação de partidos socialistas e social-democratas que tem coordenação no Partido Social-Democrata alemão. Fomos o primeiro partido do Brasil a aderir. Passamos a participar da Coordenação Socialista Latino-Americana (CSL), que o PSB coordena há algum tempo e é composta de partidos socialistas da América Latina.
Havia cobrança para se posicionar sobre a Venezuela?
Havia uma cobrança interna e no plano externo, da sociedade, para que nós mostrássemos que não temos vínculo com esse governo. Não podemos ficar calados porque os direitos humanos estão sendo desrespeitados por alguém que se diz de esquerda. Temos de defender os direitos humanos quando eles forem desrespeitados por quem quer que seja. Da mesma maneira que nós resolvemos dizer que não reconhecemos o Juan Guaidó como presidente autointitulado. E também não podemos concordar que a crise na Venezuela seja resolvida por outros países, como Brasil – conforme o presidente Jair Bolsonaro sugeriu – ou EUA. A sociedade venezuelana é quem tem de decidir sobre essas coisas.
O PT fez o oposto, e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, vem reiterando o apoio ao regime Maduro. O que acha isso?
Nós somos um partido de esquerda, mas de outra natureza. Não vou dar opinião sobre o PT, isso é com eles.
Bolsonaro já deu declarações sobre sua candidatura à reeleição. O que acha disso?
Acho que é muito cedo para falar de 2022 porque temos uma outra eleição pela frente. Bolsonaro resolveu fazer essa antecipação sem ter resolvido um único problema que encontrou como presidente. Acho negativo, pois os partidos deveriam estar dedicados a encontrar uma solução para os problemas do País.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.