28/08/2002 - 7:00
DINHEIRO ? A Braskem surge em um momento difícil, com alta do preço do petróleo, com o barril cotado a US$ 30. As perspectivas não são ruins?
José Carlos Grubisich ? Você tem razão. É uma questão com a qual precisamos nos preocupar, pois o petróleo é o início de nossa cadeia produtiva. A nafta, a principal matéria-prima petroquímica, é derivada do petróleo. Esse aumento está ligado às preocupações de que o presidente George W. Bush resolva invadir o Iraque e desequilibre o Oriente Médio. Em nossa visão, é uma situação conjuntural, que não deve perdurar. Na Guerra do Golfo, o preço
do petróleo subiu muito e, depois da guerra deflagrada, o preço caiu e a situação se estabilizou. Mas o petróleo deve ficar em torno de US$ 22, variando entre US$ 20 e US$ 25. Há outro fator, que é a chegada da Rússia no mercado de maneira forte. Então é um momento de incerteza em função da posição dos Estados Unidos, mas o mercado voltará ao patamar normal.
DINHEIRO ? Vocês não trabalham, então, com um cenário de explosão do preço do petróleo…
Grubisich ? Não, certamente não. Ficará numa faixa de US$ 20 a US$ 25, que já estamos habituados a administrar.
DINHEIRO ? E a falta de crédito para o País está afetando a Braskem?
Grubisich ? Nós sentimos uma redução significativa de crédito para exportação nos últimos 60 dias. São linhas que historicamente se mantêm ativas até mesmo em períodos de volatilidade, o que não aconteceu desta vez. Mas notamos, desde a semana passada, depois do anúncio do acordo com o FMI, que algumas linhas de crédito voltaram a ser oferecidas. Nós fechamos algumas linhas de trade finance no valor de US$ 15 milhões. Era o valor que precisávamos para esse período.
DINHEIRO ? E o custo do dinheiro?
Grubisich ? Foram taxas de juros razoáveis: libor mais 6% a 7%. Claro que gostaríamos de taxas menores, mas já há sinais de que elas estão voltando aos níveis históricos.
DINHEIRO ? O setor químico tem um déficit grande na balança comercial. Só está atrás do eletroeletrônico. A Braskem pode ajudar a mudar esse quadro?
Grubisich ? É bom não esquecer que o déficit vem das indústrias de defensivos agrícolas, da farmacêutica e de fertilizantes. O setor petroquímico não é o grande peso nessa equação. Mas parcialmente poderemos contribuir para reverter o quadro. A Braskem tem uma pauta de exportação superior a US$ 380 milhões. Em nosso planejamento, haverá um ciclo de crescimento do setor, tanto em volume como em margem, a partir do segundo semestre de 2002 até o final de 2005. Queremos aproveitar este momento para aumentar as exportações. Também estamos nos organizando para colocar em marcha um programa com nossos clientes para aumentar as exportações. Segundo os cálculos da Abiplast e da Abiquim, teríamos potencial de sair de um déficit de US$ 400 milhões para um superávit de US$ 1 bilhão por ano na área de plástico transformado em três a cinco anos. Vamos ajudar nossos clientes para que o consumo de plástico aumente no mercado interno e cresça a exportação de plástico brasileiro.
DINHEIRO ? Alguns analistas colocam em dúvida a capacidade
da Braskem pagar sua dívida. Como a empresa está administrando a questão?
Grubisich ? Em primeiro lugar, é bom saber o porte com que nasce a Braskem. O faturamento é superior a R$ 7 bilhões e o patrimônio, de R$ 12 bilhões, o que a coloca como uma das cinco maiores indústrias de capital privado no País. A geração de caixa anual atinge R$ 1,5 bilhão. As economias geradas pela integração de todas as empresas chegam a R$ 330 milhões. Nosso volume de exportação é de US$ 380 milhões e isso nos deixa como umas das 15 maiores exportadoras brasileiras. A nossa dívida líquida é de R$ 5,7 bilhões, em valores de final de maio de 2002. É uma dívida compatível com o porte, a geração de caixa e com nível considerado razoável pelo mercado financeiro. Temos uma escala que permite que a Braskem acompanhe o crescimento do mercado sem precisar de grandes investimentos nos próximos três anos e, por isso, parte significativa da geração de caixa será utilizada para abater essa dívida.
DINHEIRO ? Mas a empresa tem boa parte da dívida atrelada
ao dólar.
Grubisich ? Temos todos os instrumentos de proteção cambial para os compromissos que vencem nos próximos 12 meses. Isso corresponde a 30% de nossa dívida total. Todos estão protegidos e equacionados. Outra grande parte da dívida está garantida por contratos de securitização ou financiamentos de exportação que, por sua natureza, são fixados em dólar.
DINHEIRO ? Com o mercado em baixa, a Braskem não corre o risco de ter sua geração de caixa prejudicada e, assim, dificuldades em pagar os compromissos?
Grubisich ? A dificuldade é que a moeda utilizada no setor petroquímico é o dólar, pois os insumos petroquímicos são cotados internacionalmente. Evidentemente não repassamos de imediato, mas historicamente conseguimos repor as margens em seis meses. Então, como temos um hedge de nossos compromissos nos próximos 12 meses, e as margens são recompostas em seis meses, temos uma situação favorável para garantir o pagamento de nossas dívidas.
DINHEIRO ? O sr. acredita no potencial do mercado mundial. A recessão americana não é capaz de atrapalhar esses planos?
Grubisich ? A maior parte das exportações da Braskem, 40%, tem como destino o mercado americano. Mas não vejo problemas, pois estamos num mercado potencial. São produtos que substituem materiais clássicos, como metal, madeira, vidro, entre outros. Cada vez que a economia cresce, o consumo dos petroquímicos é multiplicado por dois ou três. Se o PIB cresce 2%, por exemplo, o consumo cresce pelo menos 4%.
DINHEIRO ? E no Brasil?
Grubisich ? É a mesma relação do resto do mundo. Aqui o consumo per capita é baixo. Então o potencial de crescimento é maior
ainda. À medida em que o Brasil voltar a crescer, teremos uma expansão para lá de otimista. Atendemos os mercados de construção, alimentos, automobilístico, saneamento básico,
entre outros. São setores muito dinâmicos e nós da Braskem acompanharemos essa expansão.
DINHEIRO ? O sr. pretende captar mais dinheiro no mercado
de capitais?
Grubisich ? As ações da Copene são convertidas para papéis da Braskem na Bovespa e o mesmo acontecerá com as ADRs na Bolsa de Nova York. Estaremos cotados nas duas bolsas. No dia 8 de outubro, vamos tocar o sino na abertura do pregão em Nova York. Hoje 25% do capital da Braskem está disponível no mercado. Não é, porém, nossa prioridade neste momento levantar mais dinheiro nas bolsas, embora a dimensão da Braskem seja muito maior do que a da Copene. Nossa prioridade é consolidar a Braskem e torná-la a petroquímica brasileira classe mundial.
DINHEIRO ? E de onde viria o capital para os investimentos?
Grubisich ? Não precisamos fazer grandes investimentos
para ampliar e modernizar o nosso parque. Nos próximos anos,
vamos produzir volumes maiores sem investimentos, só com
ganhos de eficiência. Nos próximos três anos vamos investir
R$ 300 milhões por ano, o que é um volume relativamente modesto para um setor de capital intensivo. Não temos nenhum projeto
para fazer a partir do zero.
DINHEIRO ? Haverá outros movimentos no setor petroquímico?
Grubisich ? A petroquímica tem sido submetida a uma competição muito forte e, por isso, competitividade e escala se tornaram palavras-chaves no setor. A Braskem atingiu um porte, uma escala e uma competitividade de custos que deve levar a outros movimentos de reestruturações mais dinâmicos do que no passado.
DINHEIRO ? Qual o papel que cabe à Petrobras nesse setor?
Grubisich ? A Braskem tem relação forte com a Petrobras. Cerca de 60% a 70% de nosso fornecimento vem da Petrobras. Na Braskem, a Petrobras tem a opção de aumentar sua participação no capital até ficar paritária com Odebrecht e Mariani. Essa opção pode ser exercida até 2005. Hoje a Odebrecht possui 44% do capital total, o Mariani tem 4% e a Petroquisa, 11%.
DINHEIRO ? Como se daria esse aumento de participação?
Grubisich ? Ela poderia integrar ativos que tenham sinergia com a Braskem ou comprar parcelas que hoje pertencem à Odebrecht ou à Mariani, de forma a igualar as participações.
DINHEIRO ? A Ipiranga é um ativo disponível no mercado, pois está à venda há mais de dois anos. Ela interessa a vocês?
Grubisich ? A Braskem tem uma participação de 29,5% na Copesul e, graças a um acordo de acionistas com a Ipiranga, formamos um bloco de controle da empresa. Não temos estudo, nem entendemos que a Ipiranga tenha projeto de se desfazer de suas participações na petroquímica. A Braskem não necessita de nenhuma outra movimentação estratégica para chegar ao estágio de melhor empresa petroquímica da região latino-americana. Temos os ativos, as equipes, etc.
DINHEIRO ? Qual o próximo movimento estratégico da Braskem?
Grubisich ? Nós estamos participando do grupo de trabalho para o pólo gás-químico da Bolívia, junto com os governos boliviano e brasileiro. Há um subgrupo que estuda a viabilidade econômica desse projeto. É um investimento que interessa à Braskem, mas que seja viável financeiramente. É um pólo petroquímico que tenha o gás natural boliviano como matéria-prima.