Conhecida no mercado financeiro como “Elite Eight”, por reunir as oito maiores empresas do mundo, a Nasdaq quer expandir seus horizontes. E o Brasil está na mira da bolsa de valores americana. O objetivo é bastante simples: levar empresas brasileiras a fazerem a listagem de suas ações nos Estados Unidos.

A meta não é apenas buscar interessados em emitir as chamadas ADRs (American Depositary Receipt) – certificados negociados nos Estados Unidos que representam as ações de empresas comercializadas localmente – como é o caso de Petrobras, Itaú, Embraer, entre outras. O interesse da Nasdaq é que as companhias brasileiras façam a listagem diretamente na bolsa americana, na linha do que XP, Nubank e PagSeguro fizeram

Durante pelo menos quatro dias, executivos da Nasdaq e da 3DOTS Capital Advisory – uma das principais consultorias em serviços financeiros dos Estados Unidos – estiveram em São Paulo se reunindo com empresários brasileiros. Entre os principais alvos estiveram agtechs, fintechs, empresas de mineração e, claro, tecnologia. Foram pelo menos 14 encontros para 35 pedidos de reunião

“Eu acredito que 2026 e 2027 terão uma oportunidade incrível para uma grande formação de mercado de capitais. Os investidores estão de volta. Eu nunca vi um pipeline tão bom, nos últimos cinco ou seis anos. Em todos os setores. Para alguns que estavam adormecidos, agtech, recursos naturais, minérios, tecnologia”, disse Jay Heller, vice-presidente e chefe de mercados de capitais e execução de IPOs da Nasdaq, que esteve no Brasil pela primeira vez.

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Jay Heller, vice-presidente e chefe de Mercados de Capitais e Execução de IPOs da Nasdaq (Foto: Marina Malheiros)

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E o otimismo não é por acaso. Diferente do Brasil, o banco central dos Estados Unidos já iniciou a trajetória de corte em suas taxas de juros, o que é um fator determinante para alavancar o mercado de capitais. “Estamos esperando, com base nos [mercados] futuros, ter outro corte de 25 pontos base [na taxa de juros] em dezembro. Os bonds de 10 anos com um rendimento de 3% e o mercado de ações, historicamente, retornando entre 10% e 12%, já temos um amplo spread”, disse Heller.

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Nasdaq para o mundo

Na Nasdaq, a ordem é clara: ter mais empresas de todas as partes do mundo listadas na bolsa. E ao que tudo indica, a bolsa americana tem se esforçado para diversificar a origem das empresas que listam suas ações por lá. Segundo Heller, 50% dos IPOs realizados pela Nasdaq neste ano foram de empresas de fora dos Estados Unidos.

Seja na Nasdaq ou em qualquer outra bolsa americana, a motivação para uma empresa brasileira buscar um IPO nos Estados Unidos é simples: “porque é onde está o dinheiro, principalmente para certos setores”, afirma Lucy Pamboukdjian, diretora executiva de mercado de capitais da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas).

“Agora, fazer esse listing aqui [no Brasil] ainda é muito caro. Não é porque a empresa não queira, é porque não tem investidor com apetite para ir para um mercado de capital com os 15% de CDB ou de outros ativos de renda fixa”, diz a executiva.

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Se por um lado a taxa de juros elevada afasta o interesse dos investidores do mercado de capital, por outro, anos eleitorais também não incentivam uma nova onda de listagens na bolsa do Brasil. Para Lucy, 2026 não deve ser um ano de grande interesse das empresas em buscarem recursos por meio da emissão de ações. Ao que tudo indica, o próximo ano será um período de preparação, para, talvez, em 2027, haver uma retomada dos IPOs no Brasil.

Contudo, para quem já está preparado, a busca por alternativas fora do Brasil passa a ser uma realidade mais próxima. Segundo Lucy, o número de empresas brasileiras interessadas em listar suas ações nos Estados Unidos é um dos maiores dos últimos tempos. “Eu não vou dizer que nunca antes na história, mas, provavelmente, é um dos períodos de maior expectativa”, afirma.

Apesar de ter voltado para os Estados Unidos sem ter fechado nenhum negócio efetivo, o vice-presidente da Nasdaq foi claro ao dizer que essa sua primeira viagem ao Brasil foi para plantar sementes. “Estamos estabelecendo as bases, plantando as sementes para tudo o que está por vir. E eu acho que vocês verão uma ascensão fenomenal”, disse Heller.

E ainda profetizou: “I’ll be back”.