24/12/2020 - 10:34
Abandonado por muitos aliados, consumido pelas teorias da conspiração e enfrentado diretamente o Congresso à medida que o fim de seu mandato se aproxima, Donald Trump viajou na quarta-feira para a Flórida, onde passará seu último Natal como presidente.
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O chefe de Estado, que manteve em suspense a imprensa, o Partido Republicano e todo o país durante anos, pisou no gramado da Casa Branca por uma das últimas vezes, antes de subir no helicóptero presidencial, o Marine One, para viajar até seu clube de Mar-a-Lago, na Flórida.
Foi justamente no jardim da residência presidencial em que Trump estabeleceu alguns dos momentos mais lembrados de sua presidência, diante dos jornalistas.
Durante quatro anos, o presidente apreciou os momentos em que, ao som dos motores do helicóptero, enfrentava a imprensa com uma mistura de improvisos e bravatas, salpicada por insultos. Às vezes também repassava informações enquanto repreendia ou fazia piadas. Mas desta vez, Trump evitou os repórteres.
Desde sua derrota nas eleições de 3 de novembro para o democrata Joe Biden, o republicano embarcou em uma missão desesperada para reverter o resultado. E praticamente desapareceu: sua última interação com os jornalistas aconteceu em 26 de novembro, Dia de Ação de Graças.
Visivelmente irritado, ele admitiu que deixaria a Casa Branca em 20 de janeiro mesmo sem aceitar a vitória de Joe Biden.
Trump também acabou com o hábito de levar repórteres para acompanhar as reuniões de gabinete ou encontros com algum convidado. Nas últimas semanas, em muitos dias a agenda não mostra compromissos oficiais.
O bilionário republicano concentra a comunicação no Twitter, onde fala diretamente com 88 milhões de seguidores.
E foi em um vídeo publicado nessa rede social na terça-feira à noite que anunciou a rejeição ao pacote de estímulo de 900 bilhões de dólares aprovado no dia anterior pelo Congresso, depois de meses de negociações. Trump quer mais dinheiro para as famílias.
Este não foi o único episódio de seu confronto recorrente com os congressistas. Pouco antes de sair de férias, o republicano vetou o orçamento da Defesa aprovado por grande maioria nas duas Casas do Capitólio.
Também usa o Twitter para divulgar teorias, rejeitadas por todos os lados, inclusive pelos tribunais, de que teria sido vítima de uma grande fraude eleitoral.
– Lei marcial –
A realidade é que Biden venceu as eleições. Além dos tribunais e da Suprema Corte, os estados americanos certificaram o resultado. E os representantes do Colégio Eleitoral se reuniram em 14 de dezembro para confirmar a vitória do democrata.
O televangelista Pat Robertson, cuja influência no movimento conservador cristão ajudou Trump em 2016, disse que o presidente republicano foi sincero ao negar a derrota.
“Realmente é”, afirmou na segunda-feira em seu canal, Christian Broadcasting Network. “As pessoas dizem que está mentindo sobre isto ou aquilo. Mas não está mentindo. Para ele, esta é a verdade”.
“O presidente ainda vive em uma realidade alternativa”, acrescentou.
A poucos dias do fim de sua presidência, Trump parece estar sozinho na ala oeste da Casa Branca. Abandonado por Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado e um grande estrategista parlamentar.
Também se afastaram dele assessores respeitados, como o ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie, que reconhece que Biden “venceu claramente”, enquanto deixa a porta aberta para uma candidatura republicana em 2024.
Outro que deixou o presidente foi Bill Barr, secretário de Justiça, um sólido baluarte contra as investigações que apontavam para Trump. A renúncia de Barr, que afirmou que não aconteceram fraudes contra Trump nas eleições de 3 de novembro, se tornará efetiva na sexta-feira.
Para preencher o vazio, alguns defensores de teorias da conspiração entraram na Casa Branca.
Um deles, o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn, que recentemente recebeu um indulto de Trump depois de ficar no olho do furacão da investigação sobre a interferência russa na campanha eleitoral de 2016.
Flynn deixou várias pessoas espantadas ao sugerir a imposição da lei marcial para “refazer a eleição”.
Trump planeja participar de um comício em 4 de janeiro para apoiar os candidatos republicanos da Geórgia para o Senado. E convoca seus seguidores para um protesto em 6 de janeiro em Washington, quando o Congresso se reunirá para confirmar a vitória de Biden.