Economia é um assunto chato para a maioria dos mortais. Entre aprender o que são as medidas macroprudenciais e uma visita à cadeira do dentista, não seriam poucas as pessoas que optariam pela segunda alternativa. O jargão peculiar do ramo, apelidado entre nós de “economês”,  incomoda o grande público, que acaba aprendendo na prática os efeitos das políticas econômicas. Não é por acaso que as medidas de contenção de crédito para os bancos, anunciadas pelo Banco Central, no final de 2010 – as tais macroprudenciais – , assim como as altas consecutivas na taxa Selic no primeiro semestre deste ano, só recentemente tenham revelado seus efeitos, de forma consistente. Na inércia do otimismo que inundou o País em 2010, quando a economia cresceu 7,5%, os consumidores entraram em 2011 com a mesma disposição de gastar. Só não perceberam que os juros bancários haviam subido a ponto de comprometer sua renda. Está longe de ser coincidência o aumento da inadimplência neste ano. Segundo a empresa de informações financeiras Serasa Experian, de São Paulo, o número de devedores em atraso cresceu 23% entre janeiro e outubro. 

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Foi dessa forma, vendo-se incapaz de honrar seus compromissos, que o brasileiro entendeu na prática o efeito da política econômica do governo, cujo objetivo, em particular,  era controlar a inflação. Pois na sexta-feira 11, o Banco Central fez uma meia-volta, reabrindo a torneira do crédito. Com a inflação, a priori, sob controle, e a atividade econômica mais retraída no terceiro trimestre, a ordem do governo agora é relaxar as medidas macroprudenciais, dando margem aos bancos para injetar mais crédito para o consumo doméstico. Mas a 40 dias do Natal, não há Papai Noel que consiga reverter a cautela do consumidor. Será um Natal suado, preveem especialistas. O índice de atividade econômica,  medido pelo BC, mostrou que nos primeiros nove meses a atividade econômica cresceu 3,2%. Nada mal para um ambiente de crise externa, embora longe da projeção de 5%, que chegou a ser aventada em janeiro. Da mesma forma que  demorou para cair a ficha do consumidor de que o acesso ao crédito estava mais caro, uma maior disposição para voltar a se endividar só deverá ocorrer no médio prazo. Uma pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade revelou que 60% dos brasileiros vão cobrir despesas de cartão de crédito e do cheque especial com o décimo terceiro salário.  

 

“As medidas só vão provocar melhora na economia em 2012”, diz Luiz Rabi, gerente de indicadores da Serasa Experian. “Neste ano, o varejo já fez suas encomendas esperando um Natal mais fraco.”  É em 2012 que a atividade econômica terá incentivos extras, como o aumento de 13,6% do salário mínimo e, ainda, novas quedas de juro, como insinuou o presidente do BC, Alexandre Tombini, na quarta-feira 16, durante a posse de novos funcionários da instituição, em Brasília. Segundo ele, o BC “iniciou um ciclo de flexibilização monetária”, para contrabalançar os efeitos da crise global. Além disso, o País terá eleições municipais em 2012, o que por si só incentiva a adoção de  medidas de estímulo à economia. Mesmo crescendo a um ritmo aquém da expectativa neste ano, o resultado deve ser celebrado diante dos desafios do País, avalia Décio Carbonari, presidente do banco Volkswagen e da Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras (Anef). “É melhor crescer menos com a inflação baixa do que com preços fora de controle, que tiram o poder de renda do consumidor”, diz Carbonari. Faz sentido.