A Natura deu mais um passo no processo para se tornar uma empresa mais “leve”. A companhia informou ontem que celebrou acordo vinculante para vender sua subsidiária integral, a Natura &Co UK Holdings, holding dos negócios da Avon Internacional, para um veículo de aquisição afiliado à empresa de investimentos Regent. O anúncio engrossa a lista de vendas recentes feitas pela Natura. Na segunda-feira, a companhia já havia anunciado a venda da operação da Avon na América Central e na República Dominicana, braço conhecido como Avon CARD, para o grupo PDC.

Assim como no negócio da Avon-PDC, o valor recebido imediatamente pela Natura foi simbólico – US$ 1 (R$ 5,30), no caso da operação da América Central, e £ 1 (R$ 7,18) no caso do Reino Unido. Ambos, contudo, preveem recebimentos adicionais. O primeiro, no valor de US$ 22 milhões (R$ 116,6 milhões), será pago por meio de um recebível da Avon Guatemala à subsidiária integral da Natura no México. O segundo prevê £ 60 milhões (R$ 430 milhões) em “earn-outs” – quantia a ser paga pelo comprador ao vendedor apenas se a empresa vendida atingir determinadas metas de desempenho.

Em agosto, na teleconferência de resultados do segundo trimestre, o presidente executivo da Natura, João Paulo Ferreira, já havia sinalizado que o processo de desinvestimento na Avon Internacional estava avançado. “Acreditamos que este anúncio, junto do novo formato de divulgação da empresa a partir dos resultados do 3.º trimestre, deve ajudar os investidores a retomarem o foco na ação, à medida que a história se torna mais simples e clara”, escreveram Danniela Eiger, Pedro Caravina e Laryssa Sumer, analistas da XP. Eles mantiveram a recomendação de compra do papel. Nesta quinta-feira, 18, as ações da empresa subiram 16,46%, a maior alta da B3, a Bolsa brasileira.

DESINVESTIMENTO. Com essa nova transação, segundo os analistas da XP, resta apenas a Avon Rússia para ser vendida antes que a empresa conclua totalmente o longo processo de desinvestimento da marca americana comprada em 2019, e que passou de promessa a dor de cabeça para o grupo brasileiro.

A XP destaca que a operação, considerada a mais importante no desinvestimento na Avon Internacional, tem impacto irrelevante sobre o caixa. Os créditos decorrentes de empréstimos da Natura à Avon Internacional, estimados pela corretora em R$ 1,6 bilhão, são basicamente os recursos já consumidos. “Assim, o efeito deve ser pontual e não em caixa, como ocorreu quando o Chapter 11 (processo equivalente à recuperação judicial nos EUA) foi concluído em dezembro de 2024”, afirma.

Pondera-se, no entanto, que a Natura forneceu uma linha de crédito de US$ 25 milhões (R$ 132,5 milhões), que a XP entende que pode ter efeito sobre o caixa, embora com recuperação esperada em cinco anos. O analista de investimentos da Daycoval Corretora, Gabriel Mollo, acredita que o ganho real da operação está ligado à redução de riscos e dos custos da complexidade administrativa. “Conforme foca na América Latina, a Natura começa a ganhar uma estrutura financeira mais enxuta e margens melhores.”