27/04/2001 - 7:00
Quando chega a crise dos 30, muitos homens e mulheres recorrem aos cremes anti-rugas para se livrar daqueles indesejáveis efeitos do tempo. Agora, uma outra balzaquiana aderiu ao clube do rejuvenescimento. Aos 32 anos, a Natura, maior fabricante de cosméticos de capital nacional, decidiu que é hora de mudar, de apostar em tecnologia para se consolidar no País e, por que não, entrar com os dois pés no mercado internacional. A decisão foi tomada em 1999, quando a direção da companhia iniciou o projeto para a construção de uma nova sede. Os primeiros equipamentos começaram a desembarcar na fábrica em dezembro do ano passado. Os 3.100 funcionários já estão instalados e a mudança chega ao fim nesta semana, com a transferência das últimas linhas de produção. O prédio de 70 mil metros quadrados, ao lado da Rodovia Anhangüera, no município de Cajamar (30 quilômetros de São Paulo), chama a atenção pela arquitetura moderna. Em nada lembra aquela pequena casa no bairro paulistano dos Jardins, que inaugurou a entrada da marca Natura no mundo dos cosméticos, quando os produtos eram feitos artesanalmente. As novas instalações vão permitir que a produção praticamente dobre de tamanho, passando de 80 milhões de unidades ao ano (número referente a 2000) para 150 milhões de unidades. ?Apenas com algumas ampliações no projeto original teremos condições de chegar a até 300 milhões de unidades?, afirma Philippe Pommez, vice-presidente de Inovação e Desenvolvimento de Negócios.
Mas não é só por fora que a Natura está antenada às novas tendências. Do lado de dentro o que se vê são equipamentos sofisticados, capazes, por exemplo, de reproduzir a pele humana. A técnica vai permitir testes de produtos para tratamento de problemas como envelhecimento ou manchas sem que haja a necessidade de comprar de fornecedores locais ou até importar a pele. Dessa forma, além de baratear o processo de desenvolvimento de um projeto, por conta da redução dos intermediários, também será possível acompanhar passo a passo cada fase das pesquisas e chegar a um produto acabado em menos tempo. ?A evolução da cosmética mundial é muito rápida e agora vamos acompanhar essas inovações mais de perto?, explica Pommez. A Natura investiu R$ 205 milhões e nem a própria direção da companhia consegue calcular quanto foi usado na compra de equipamentos. Mas, para se ter uma idéia dos investimentos, segundo cálculos de Pommez, o custo do metro quadrado de um laboratório é dez vezes maior que o valor que se gasta com um escritório. ?Como os laboratórios estão começando a desenvolver pesquisas agora, ainda não é possível calcular quanto vamos reduzir de tempo para cada novo produto, mas certamente os prazos serão menores que os atuais?, explica o vice-presidente. Atualmente, são gastos de seis a sete meses para que um perfume chegue ao mercado, enquanto que um creme para tratamento, por exemplo, pode chegar a quase dois anos.
Com tantas mudanças, 2001 será um ano para a Natura arrumar a casa nova. Não há planos de lançamentos, apenas alguns complementos na linha atual. Também não está prevista para este ano a entrada da marca em novos mercados internacionais. Atualmente a empresa tem operações apenas na Argentina, no Chile e no Peru, que geraram no ano passado R$ 31 milhões de caixa, de um total que R$ 1,4 bilhão que a Natura faturou em 2000. ?Queremos expandir, mas primeiro temos de consolidar os negócios que já temos?, afirma Philippe Pommez. Mesmo sem prever grandes revoluções com seus lançamentos, o vice-presidente avisa que para este ano espera um crescimento de 22% nas vendas e deverá chegar em dezembro com uma receita anual de R$ 1,7 bilhão.