09/01/2025 - 12:10
O volume médio de negociações diárias na bolsa de valores brasileira teve seu terceiro ano consecutivo de retração em 2024. A média diária em reais foi de 18,8 bilhões, a menor desde 2019, enquanto o montante em dólares foi de 3,5 bilhões, o menor desde 2018. Os dados são de levantamento elaborado pela consultoria Elos Ayta.
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Para efeito de comparação, a ação da Nvidia, papel mais negociado nos Estados Unidos no ano passado, registrou um volume diário de US$ 37,13 bilhões, mais de 10 vezes o total negociado na B3.
Veja no gráfico abaixo o volume total negociado na B3 em dólares desde 2010:
“O enfraquecimento da liquidez da bolsa brasileira acende um alerta”, aponta o estudo da Elos Ayta. “A queda no volume financeiro reflete não apenas as condições macroeconômicas internas, mas também a falta de competitividade do mercado brasileiro em comparação com outras bolsas globais.”
Ajustados pela inflação, os números de 2024 em reais são semelhantes aos de 2018 e representam uma queda de 12,3% em relação ao ano anterior.
Veja no gráfico:
“O desafio para 2025 será implementar medidas que aumentem a atratividade da B3, reforçando o papel da bolsa como um destino competitivo para investidores”, diz o estudo. “A liquidez não é apenas um indicador técnico; é um termômetro da confiança dos investidores no mercado.”
Juros e cenário externo impactam liquidez
As taxas de juros em patamares elevados tanto no Brasil como no exterior são apontadas por analistas como responsáveis pelo cenário. “Eu analisaria essa falta de liquidez como falta de interesse em renda fixa brasileira. Os juros estão na estratosfera, a renda fixa americana também”, sintetiza o especialista em mercados da Star Desk, Felipe Sant’Anna.
Ângelo Belitardo Neto, analista da Hike Capital, lembra que o ano de 2021, último ano em que houve crescimento da liquidez, foi marcado também pelo início de um ciclo de alta na Selic. “Os investidores institucionais já estão saindo da bolsa desde 2021. Estes investidores são as gestoras de patrimônio, gestoras de fundo, seguradoras, fundos de pensão ou grandes bancos, área de tesouraria dos bancos. Eles respondem por grande parte da negociação”, diz.
Com os juros mais altos, os investidores dão preferência para investimentos de renda fixa, ou até para bolsas de valores de outros países. “Grandes economias emergentes melhorando a saúde financeira, melhorando as perspectivas para os próximos anos, também estão atraindo o capital”, diz Belitardo.
“Essas incertezas com relação ao Trump assumindo a presidência dos Estados Unidos deixam o investidor de fato sem confiança em nada. Então ele prefere ficar na maior economia do mundo”, acrescenta o sócio e especialista renda variável da Davos Investimentos, Marcelo Boragini. “Já no Brasil, de novo falta clareza na política fiscal. Isso faz com que o estrangeiro ‘voe’ daqui.”
Uma aversão a risco global devido a questões como a desaceleração da economia chinesa e conflitos geopolíticos também são apontados como fatores decisivos pelo sócio fundador da Septem Capital, Frederico Avril. O especialista também cita a volatilidade fiscal e as dúvidas sobre a sustentabilidade das contas públicas.
“A retomada da liquidez dependerá da melhora nas condições macroeconômicas, maior previsibilidade fiscal e monetária, além de esforços para atrair investidores, especialmente estrangeiros, que são essenciais para o mercado brasileiro”, diz Avril.