15/08/2025 - 6:57
Após 11 dias de intensas discussões no escritório das Nações Unidas, em Genebra, representantes de 184 países não conseguiram chegar a um consenso para firmar o primeiro tratado destinado a enfrentar a crise global da poluição plástica. As negociações terminaram em impasse nesta sexta-feira (15/08).
“Não teremos um tratado para acabar com a poluição plástica aqui em Genebra”, disse o negociador da Noruega após as conversas que se estenderam até as primeiras horas de sexta-feira, no horário local.
O principal ponto de inflexão recai na proposta de reduzir a produção global de plástico e impor controles globais, legalmente vinculantes, sobre produtos químicos tóxicos usados na fabricação destes materiais. A sugestão é defendida por uma coalizão formada pela União Europeia, Reino Unido, Canadá e muitos países africanos e latino-americanos.
Atualmente, 140 nações já implementam algum nível de restrição à fabricação de algum tipo de produto plástico, especialmente o de uso único.
Nações produtoras de petróleo e gás, porém, rejeitam a imposição de limites à indústria e argumentam que o tratado deveria se limitar a regras de reciclagem, gestão de resíduos, reutilização e design destes produtos. Esta estratégia vem sendo rechaçada por pesquisadores, que indicam que a reciclagem não consegue mais reverter a crise de poluição.
O último rascunho rejeitado pelos países já não incluía a questionada restrição de fabricação, mas reconhecia que os níveis atuais de produção e consumo são “insustentáveis”. Um trecho foi adicionado afirmando que esses níveis excedem as capacidades atuais de gestão de resíduos e tendem a aumentar ainda mais, “tornando necessária uma resposta global coordenada para deter e reverter tais tendências”.
O objetivo do tratado também foi reformulado para afirmar que o acordo seria baseado em uma abordagem abrangente que aborde todo o ciclo de vida dos plásticos.
Reformulação não agrada produtores de petróleo
“Nossas opiniões não foram refletidas. Sem um escopo acordado, este processo não pode permanecer no caminho certo e corre o risco de deslizar por uma ladeira perigosa”, disse o negociador do Kuwait.
A delegação da China comparou o fim da poluição plástica a uma maratona e disse que o colapso das conversas de sexta-feira representou um revés temporário, servindo como um novo ponto de partida para construir consenso.
“Perdemos uma oportunidade histórica, mas precisamos continuar e agir com urgência. O planeta e as gerações presentes e futuras precisam deste tratado”, afirmou o representante de Cuba.
A comissária europeia Jessika Roswall entende que, embora o rascunho fique aquém das exigências da UE, é uma boa base para outra rodada de negociações.
O que acontece a seguir?
As negociações na sede da ONU foram propostas como última rodada para a definição do primeiro tratado juridicamente vinculante sobre poluição plástica.
Negociações semelhantes sobre poluição plástica no ano passado, na Coreia do Sul, também terminaram sem acordo.
Palau, falando em nome de 39 pequenos Estados insulares em desenvolvimento, expressou frustração com o esforço investido nas negociações e depois “voltar repetidamente para casa com progresso insuficiente para mostrar ao nosso povo”.
Para que qualquer proposta seja incorporada ao tratado atualmente, todos os países signatários devem concordar.
Índia, Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Vietnã e outros defendem que a unanimidade é vital para um tratado eficaz. Mas outros países querem mudar o processo para que decisões possam ser tomadas por votação.
“Estamos andando em círculos. Não podemos continuar fazendo a mesma coisa e esperar um resultado diferente”, disse Graham Forbes, chefe da delegação do Greenpeace em Genebra.
Inger Andersen, diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, entende que, apesar dos desafios, avanços significativos foram alcançados.
“Esse processo não vai parar, mas ainda é cedo para dizer quanto tempo levará para que o tratado seja concluído”, disse.
Produção exacerbada aumenta crise global
Todos os anos, o mundo produz mais de 400 milhões de toneladas de plástico novo, e esse número pode crescer cerca de 70% até 2040 se não houver mudanças nas políticas globais.
Mais da metade do plástico produzido anualmente é usado apenas uma vez. Embora 15% do lixo deste tipo seja coletado para reciclagem, apenas 9% é realmente reciclado.
Cerca de 46% acaba em aterros sanitários, 17% é incinerado e 22% é mal administrado, transformando-se em lixo no solo ou nos oceanos.