11/03/2022 - 19:22
As negociações para reativar o acordo sobre o programa nuclear do Irã foram interrompidas nesta sexta-feira pelo impasse provocado por exigências russas relacionadas à guerra na Ucrânia.
A União Europeia (UE), que supervisiona as negociações em Viena entre as grandes potências e o Irã, anunciou uma “pausa devido a fatores externos”. No entanto, “há um texto final, praticamente pronto, sobre a mesa”, disse o responsável pela diplomacia europeia, Josep Borrell.
Borrell disse que permanece “em contato” com as diferentes partes e com os Estados Unidos “para superar a situação atual e chegar a um acordo”.
Há uma semana, os diplomatas falavam em um acordo iminente para retomar o pacto de 2015, que limitava o programa nuclear do Irã em troca do levantamento das sanções internacionais que asfixiam a sua economia. Mas a Rússia, afetada por sanções desde que invadiu a Ucrânia, pediu garantias aos Estados Unidos de que as mesmas não irão afetar a sua cooperação econômica com o Irã.
Os Estados Unidos afirmaram nesta sexta-feira que a bola está do lado do Irã e da Rússia, e pediram que os dois países tomem decisões para romper o impasse. “Achamos que podemos salvar o acordo se essas decisões forem tomadas em lugares como Teerã e Moscou”, disse o porta-voz da diplomacia americana, Ned Price.
Um diplomata europeu, que não quis ser identificado, afirmou que “outras opções seriam possíveis ser for confirmado que o bloqueio é definitivo”. Os demais países não querem que a Rússia “tome o acordo como refém”, acrescentou, sem dar detalhes.
Onze meses atrás, o Irã retomou as negociações em Viena com as grandes potências para tentar salvar o acordo de 2015.
O acordo foi assinado pelo Irã, de um lado, e Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha, do outro, e tinha como objetivo impedir que Teerã adquirisse a bomba atômica em troca do levantamento das sanções econômicas que sufocam sua economia.
Em 2018, os Estados Unidos se retiraram do acordo sob o presidente Donald Trump e reimpuseram sanções. Em resposta, o Irã parou de honrar seus compromissos. Ao deixar o Palácio de Coburgo, onde acontecem as conversas em Viena, o diplomata da UE Enrique Mora disse esperar que as negociações sejam retomadas “muito em breve”.
“O Irã e os Estados Unidos sempre tiveram uma abordagem muito construtiva e positiva”, destacou Mora. “Estamos na fase de notas de rodapé”, acrescentou. Já o negociador russo Mikhail Ulyanov denunciou “tentativas de colocar toda a culpa” em Moscou.
– A arma do petróleo –
O Irã, próximo à Rússia, está em uma posição difícil e culpou ontem os Estados Unidos por levantar “novas exigências”.
Nesta sexta-feira, o porta-voz das Relações Exteriores do Irã, Said Khatibzadeh, demonstrou calma. “Nenhum fator externo afetará nosso desejo comum de chegar a um acordo coletivo”, reagiu ele no Twitter. “A pausa pode servir de impulso para resolver questões pendentes”, acrescentou.
No entanto, alguns especialistas temem que a Rússia, um importante produtor e exportador de hidrocarbonetos, esteja “instrumentalizando a questão iraniana”, segundo Clément Therme, especialista em Oriente Médio.
“A estratégia da Rússia pode ser atrasar a retomada do acordo para evitar o fluxo de petróleo iraniano no mercado”, o que reduziria os preços, disse ele à AFP. “Ao manter o preço do petróleo alto, o Kremlin pode usar a arma energética contra o Ocidente”, diz o especialista, que leciona na Universidade Paul Valéry, em Montpellier.
Já o Irã tem uma margem de manobra estreita devido à sua posição de “fragilidade” e à “relação assimétrica” com a Rússia, analisa. Além disso, a República Islâmica “se recusa a negociar diretamente com os Estados Unidos, o que aumenta sua dependência da China e da Rússia”.