11/03/2022 - 9:34
As negociações sobre o acordo nuclear iraniano, que pareciam bem encaminhadas uma semana atrás, foram suspensas, enquanto o pedido de garantias adicionais de Moscou complica seu avanço.
“Tivemos que pausar as negociações, devido a fatores externos”, tuitou Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia que coordena o processo.
“Um texto final está quase pronto e sobre a mesa”, acrescentou, dizendo que segue “em contato” com as várias partes e com os Estados Unidos “para superar a situação atual e concluir um acordo”.
Há uma semana, diplomatas falavam de um acordo iminente, mas Moscou, pilar essencial das negociações, esfriou o processo.
Atingida por sanções ocidentais após a invasão da Ucrânia, a Rússia solicitou garantias americanas de que essas medidas de retaliação não vão afetar sua cooperação econômica com o Irã.
Pedidos considerados inapropriados pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken, e que interromperam as discussões.
Teerã está há 11 meses envolvido em negociações com as grandes potências, em Viena, na Áustria, para tentar salvar o acordo de 2015.
Concluído pelo Irã de um lado, e por Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha do outro, este pacto deveria impedir Teerã de adquirir a bomba atômica em troca do levantamento das sanções econômicas que sufocam sua economia.
O acordo desmoronou, no entanto, depois da saída unilateral de Washington em 2018, que restabeleceu suas medidas contra o Irã. Em resposta, o Irã gradualmente se liberou dos limites impostos ao seu programa nuclear.
Ao deixar o Palácio de Coburg, onde as negociações ocorrem, o negociador russo Mikhail Ulyanov denunciou “tentativas de jogar toda culpa” em Moscou.
“A conclusão do acordo não depende apenas da Rússia”, insistiu, assegurando que é a favor de uma conclusão “rápida”.
O Irã, próximo da Rússia, encontra-se em uma posição difícil e, ontem (10), jogou a culpa nos Estados Unidos, que teriam formulado “novas demandas”.
Nesta sexta, o porta-voz das Relações Exteriores do Irã, Said Khatibzadeh, tentou acalmar os ânimos. “Nenhum fator externo afetará nosso desejo comum de um acordo coletivo”, escreveu no Twitter.
“A pausa pode fornecer o impulso para resolver os problemas restantes”, tuitou.
Os especialistas dizem estar preocupados, no entanto, com “a instrumentalização da questão iraniana, por parte de Moscou, para defender os interesses nacionais russos contra o regime de sanções de Washington”, segundo Clément Therme, acadêmico francês especializado em Oriente Médio.
“O jogo da Rússia pode ser atrasar a reativação do acordo para evitar a entrada do petróleo iraniano no mercado”, o que reduziria os preços, explica à AFP.
“Ao manter o barril a um preço elevado, o Kremlin pode usar a arma energética contra o Ocidente”, completa o especialista.
Os Estados Unidos, que participam indiretamente das negociações, reafirmaram na quinta-feira que um acordo permanece “próximo”.
“Pedimos a todas as partes, incluindo, é claro, a Federação Russa, que se concentrem na resolução de questões pendentes para alcançar nosso objetivo comum de garantir que o Irã seja permanente e comprovadamente impedido de obter uma arma nuclear”, insistiu o porta-voz da diplomacia americana, Ned Price.
