José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado Brasil, empresa de celulose controlada pelo grupo J&F, é uma voz dissonante quando comparado aos executivos que presidem concorrentes de capital aberto. Diferentemente de muitos de seus pares, Grubisich é otimista com as perspectivas do setor. “Outras companhias reclamam que há pouca demanda e muita oferta de celulose, mas eu sempre defendi os investimentos em expansão, pois o Brasil será cada vez mais importante nesse mercado”, diz ele. As notícias das últimas semanas vêm confirmar seu otimismo.

Na sexta-feira 5, foram anunciados os fechamentos de duas fábricas de celulose. Uma na Espanha, do Grupo Ence. Outra nos Estados Unidos, da Old Town Fuel & Fiber. Juntas, elas produziam 550 mil toneladas anuais. É pouco, menos de 0,3% dos 204 milhões de toneladas produzidas todos os anos no mundo. Mas pode ser o começo de uma onda de fechamento de unidades mais antigas e menos produtivas, cogita o banco de investimentos americano Goldman Sachs, que divulgou um relatório sobre o assunto no mesmo dia. As notícias beneficiaram as ações das principais empresas do setor no Brasil.

Os papéis da Fibria, Suzano e Klabin subiram 6,2%, 4,18% e 3,18%, respectivamente. No ano, os papéis dessas empresas vinham sendo negociados abaixo do valor de mercado. Para analistas, a valorização potencial desses papéis nos próximos meses pode chegar a quase 23%. A tonelada da celulose custava US$ 726,04 em agosto, uma queda de 5,63% no ano. A diminuição da oferta poderia elevar os preços e beneficiar empresas competitivas e exportadoras como as brasileiras. Carlos Müller, analista da corretora gaúcha Geral Investimentos, recomenda os papéis da Fibria, que exporta 90% de sua produção.

“Ela também deve se beneficiar de uma situação cambial mais favorável nos próximos meses”, diz ele. No segundo trimestre deste ano, a Fibria lucrou R$ 631 milhões, revertendo um prejuízo de R$ 593 milhões registrado no mesmo período de 2013. Os papéis da Suzano são indicados por Lenon Borges, da Ativa Corretora. Por estar com as ações baratas, a empresa oferece maior possibilidade de ganho aos investidores. “A Suzano deve começar a colher os frutos de seus investimentos de R$ 6 bilhões no Maranhão e, com isso, reduzir seu endividamento anual”, diz Borges.

No segundo trimestre, a Suzano teve um lucro líquido de R$ 97,2 milhões, revertendo um prejuízo de R$ 248 milhões um ano antes. Sandra Peres, analista-chefe da Coinvalores, diz que a melhora nos resultados já é o impacto de um novo estágio dessas empresas. “Neste momento, as principais companhias brasileiras estão com expansão em andamento e muitas já produzindo. Os bilhões investidos no mercado começaram a fazer efeito”, afirma. Para quem pretende entrar agora nesse mercado, as notícias também são animadoras. A exportação brasileira cresceu 4,3% no primeiro semestre, para US$ 4,3 bilhões.

O País é líder mundial no setor, devido aos investimentos significativos em ampliação e modernização das fábricas nos últimos anos. A Eldorado, que não tem ações negociadas em bolsa, já investiu R$ 7 bilhões e tem mais R$ 8,5 bilhões programados para serem destinados à sua fábrica em Mato Grosso do Sul até 2017. “Esses recursos devem elevar nossa produção de 1,7 milhão de toneladas/ano para até 2,3 milhões”, diz Grubisich. Além da Eldorado, as principais empresas do setor, como Fibria, Suzano, Klabin, Celulose Irani e Duratex, juntas, deverão investir cerca de R$ 20 bilhões nos próximos três anos.

E os investimentos não devem parar por aí, pois o ânimo dos empresários vem melhorando. Marcelo Castelli, presidente da Fibria, disse em teleconferência com analistas em julho que o mercado de celulose vem dando animadores sinais de melhora. “O cenário continua desafiador, mas já podemos ver sinais importantes como a retomada da economia chinesa”, diz Castelli. Apesar dos solavancos do cenário, a empresa, cujo faturamento deverá ficar em R$ 6,7 bilhões em 2014, mantém um plano agressivo de investimentos. Para este ano, está previsto o desembolso de R$ 1,5 bilhão e essa cifra deverá ser repetida em 2015.

“Estamos em uma indústria intensiva em capital e nossos investimentos não podem parar”, diz ele. O segmento de embalagens, que também recebeu investimentos relevantes, tem enfrentado mais dificuldades devido à retração do consumo interno. Mesmo assim, as empresas não engavetaram seus planos de investimento. Segundo Péricles Druck, presidente da Celulose Irani, a companhia só aguarda o melhor momento do mercado para iniciar um plano de investimentos de R$ 800 milhões em expansão.

“A partir do segundo trimestre, a indústria desacelerou, mas vamos aproveitar esse momento para aumentar nossa competitividade e melhorar nossos métodos ”, diz Druck. Não é só no quesito modernização de fábricas que o Brasil tem dado um exemplo. O País pode se tornar o primeiro a aprovar a plantação de eucalipto transgênico comercialmente. A FuturaGene, empresa pertencente à Suzano Papel e Celulose, aguarda uma audiência pública da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em Brasília. Caso esse projeto seja aprovado, o Brasil dará mais um passo como um dos maiores países produtores.