A última semana nos reafirmou como o mundo em que vivemos é volátil, incerto, complexo e ambíguo.  O terror em Paris, os efeitos do atentado ao ambiente em Minas e no Espírito Santo, as mulheres nas ruas e os jovens secundaristas ocupando escolas em São Paulo. Diferentes temas, distintas proporções, mas todos fatos reveladores do espírito do nosso tempo.

A Teoria VUCA (em inglês, Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous) foi elaborada pela Escola de Guerra do Exército dos Estados Unidos para jogar luz sobre as mudanças no ambiente de segurança nos últimos 20 anos. Praticamente virou a própria razão de ser da instituição: desenvolver líderes capazes de atuar nesse mundo em transe.

É interessante como uma instituição militar, que poderia facilmente assumir um olhar cartesiano (que separa bons e maus, certo e errado, amigos e inimigos) tenha adotado uma abordagem holística para descrever a realidade.

Nesse cenário, como ficam as empresas? Cabe a elas ajustarem-se ao momento histórico. Foi-se o tempo em que bastava desenvolver um produto de qualidade, ter uma abordagem de marca criativa, traçar estratégias de venda… É necessário entender que vivemos em um mundo em acelerada transformação.

Portanto, é preciso ter consciência de que a boa ideia de ontem, pode já não ser bem aceita hoje. Importar a Black Friday pareceu esperto há dois anos, mas agora pode ser encarado como oportunismo ou estímulo ao consumismo. A mineração, que gerou sustento e riqueza no passado, hoje é percebida como uma exploração predatória e danosa à vida.

As percepções são voláteis e a única certeza sobre o futuro é a de que ele é incerto.  Até quando durará a crise econômica? Quais os efeitos dos danos ambientais provocados na região do Rio Doce? Como evitar novas tragédias? Como derrotar o terrorismo? Perguntas e mais perguntas sem respostas precisas.

Apresentam-nos questões complexas, com inúmeras ramificações e correlações entre aspectos econômicos, sociais, ambientais, culturais, estruturais. E muitas dessas forças são contraditórias, geram um efeito positivo de um lado e um negativo de outro. Essa ambiguidade também se faz presente quando nos defrontamos com a dimensão do tempo e comparamos resultados e demandas no curto, médio e longo prazos.  

Rapidamente os especialistas em liderança adaptaram o ideário VUCA para o mundo corporativo. Para eles, os executivos mais aptos a enfrentar os desafios atuais deveriam ter visão (foco, propósito), entendimento (curiosidade, empatia, mente aberta), clareza (capacidade de simplificar, criatividade) e agilidade (tomada de decisão, ímpeto para inovação).  Boas características, bem vendáveis, mas que nos levam a crer que as respostas estão dentro das empresas e emanam de uma mente brilhante e bem preparada. Sei não…

Claro que é preciso ter propósito, empatia e mente aberta para ouvir, criatividade e disposição de inovar, ingredientes que permitem aos gestores conectarem-se com o mundo exterior, por mais inóspito e perigoso que pareça em sua imprevisibilidade e confusão.

Acrescentaria, porém, mais alguns elementos para a construção de soluções em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo. Generosidade para incluir. Humildade para cocriar. Maturidade para dominar a pressa. E coragem para mudar.