No final de 2016, o paulista Luís Fernando Magalhães, embarcou para a Austrália para visitar amigos e fazer contatos comerciais. Voltou de lá obcecado com a ideia de que é possível despoluir rios e lagoas sem gastar muito. Quem o convenceu disso foi o amigo Robert Morgan, que cuida da fazenda de criação de ostras da família, em Shark Bay. Graças ao auxílio de pesquisadores da Universidade Tecnológica Curtin, em Perth, Robert desenvolveu um sistema que livrou a empresa da doença que dizimou diversos criadouros de molusco no país. “O segredo estava na ativação das bactérias boas, responsáveis por equilibrar a saudabilidade da água”, conta Luís Fernando.

Animado com a simplicidade e o baixo custo do processo, o fundador da O2Eco desembarcou no Rio de Janeiro, onde ofereceu a tecnologia para a área ambiental do governo fluminense. Sua ambição era despoluir a Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos principais (e problemático) cartões-postais da cidade. O acordo previa que estado desembolsaria apenas a quantia necessária para a compra e importação dos materiais. “Seria uma forma de divulgar a tecnologia em escala mundial e conquistar clientes”, argumenta. “Infelizmente, a negociação não progrediu”.

Crer para ver

Até hoje, a maior dificuldade vivida pelo empreendedor e seus três sócios: Joel de Oliveira, seu amigo de longa data, Nivaldo Rui Friol e Newton Ferraro Junior, é a descrença dos latinos, em geral, e dos brasileiros, em particular, em relação à nova tecnologia. O sistema funciona assim: os agentes biológicos são encapsulados em nano-minerais encrustados em uma placa coberta de parafina. Sua função é estimular a reprodução, num ritmo acelerado, das bactérias responsáveis por equilibrar a Demanda Biológica de Oxigênio (DBO). A partir do cálculo da área a ser recuperada é definido o orçamento e o tempo de tratamento, que depende da carga de poluição existente. “O sistema é 30% mais barato que a opção que leva em conta o uso de produtos químicos. Além disso, possui 98% de taxa de eficiência”, destaca.

Para criar a empresa, Luís Fernando raspou a poupança. “Gastei praticamente todo o capital inicial, de R$ 600 mil, na importação e nas taxas de liberação do produto”, recorda. A primeira demonstração em larga escala da tecnologia aconteceu ano passado, num dos lagos do Parque da Cidade, em São José dos Campos (SP). É nessa rica cidade do Vale do Paraíba que a O2Eco foi registrada. Para recuperar a área de 3 mil m² foram necessárias oito semanas ao custo de R$ 250 mil, bancados integralmente pela empresa.

Hoje, a carteira de clientes é formada por laticínios, frigoríficos e gestoras de barragens de hidrelétrica, onde a água de qualidade e livre de carga poluente é essencial para o negócio. Para ampliar o raio de ação, Luís Fernando está participando do grupo multissetorial que estuda um projeto para o desenvolvimento de fazendas de camarão na região Oeste do Estado de São Paulo. Atualmente, boa parte dessas fazendas estão situadas no Nordeste, muito distante dos principais mercados consumidores: Rio de Janeiro e São Paulo. “Trata-se de uma forma de diversificar a carteira de clientes, além de ampliar o uso da tecnologia”, diz.

Em se tratando de um empreendedor que sempre se moveu pela intuição, é bom ficar de olho. Nos últimos 20 anos, a trajetória de Luís Fernando foi marcada por uma sequência de guinadas. Começando em 1995, quando cursava agronomia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e foi passar uma temporada na Austrália. O que seria um sabático de dois meses afiando o inglês, se prolongou por 13 anos. Lá, ele estudou administração e marketing. Na volta ao Brasil, em 2008, se associou a empresas multinacionais especializadas em intercâmbio estudantil e passou a representar localmente as universidades da Oceania. Os laços com a terra dos cangurus nunca foram interrompidos. “Visito a Austrália a cada 18 meses”, conta.

Foi numa dessas viagens que conheceu a tecnologia que é apontada como uma espécie de Santo Graal do setor de purificação de cursos d`água. Hoje, os tratamentos convencionais utilizam produtos químicos. O sistema da O2Eco atua no estímulo biológico de bactérias responsáveis pelo equilíbrio natural da água. O desequilíbrio acontece com a infestação de  nutrientes, como nitrogênio e fósforo, cuja reprodução se dá numa velocidade exponencial, enquanto as bactérias encarregadas de purificar a água se multiplicam de forma mais lenta. “A placa atua como bio estimulador, fazendo com que a proporção de bactérias boas salte para oito milhões, no período de 10 horas, equilibrando o meio degenerado e matando de inanição os elementos ruins.